Cadernos Negros: 45 anos de luta pela literatura afro-brasileira
A alegria estampada no rosto de quem viu, pela primeira vez, sua poesia gravada nas páginas do CADERNOS NEGROS. Sonho realizado. Noite linda de encontros e irmandade. Estar nessa publicação, exemplo maior de resistência da literatura afro-brasileira, é de uma felicidade indescritível. É como se eu tivesse, enfim, alcançado a maioridade com escritora.
Em 2024, CADERNOS NEGROS completa 45 anos de existência. Um marco de resistência da literatura afro-brasileira, uma edição por ano. Um ato político, dando voz e poder ao povo negro brasileiro, por meio da escrita, no decorrer de quatro décadas.
Pela primeira vez, tive a honra de participar como autora, ao lado de tantos nomes com grande representatividade na nossa escrita negra. Momento de alegria imensa, emoção, pernas bambas, voz embargada mas vaidosa que só, por estar mostrando minha poesia para uma platéia atenta e criteriosa. Estavam lá nomes importantes do movimento negro, autores que participaram de outras edições e se destacam no cenário literário, jovens escritores que buscam seus espaços, amigos e parentes, pessoas que fizeram questão de prestigiar o evento e acolher os protagonistas.
O lançamento do volume 45, que reúne poemas de 56 autoras e autores, lotou o Espaço Cultural Itaú, em São Paulo, nos dias 20 e 21 de abril. Foram dois dias da mais pura arte negra em sua essência, a poesia se uniu à música, ao batuquei, à interpretação, à dança, ao slam, ao samba, ao samba-rock, ao hip hop. Emoção à flor da pele. Afinal, tudo é poesia.
Que venham outras e muito mais. Como disse o grande Cuti, nos aguardem no CN100.
Viva a literatura afro-brasileira!
*Segue um pouco da história do Cadernos Negros, compartilhado aqui da página do instagram do Quilombhoje, o grupo potente, responsavel por todas as etapas da publicação.
@quilombhoje_ Em 1978, a literatura afro-brasileira rompia o silêncio editorial com o lançamento do primeiro volume dos Cadernos Negros. Oito poetas dividiam sonhos e custos, abrindo espaço para suas vozes ecoarem em páginas pretas e brancas. A publicação, vendida principalmente em um grande lançamento, circulou posteriormente de mão em mão, sendo distribuída para poucas livrarias, mas obteve um expressivo retorno dos que tiveram acesso a ela.
De lá para cá, 45 anos de resistência e poesia se entrelaçam na história dos Cadernos Negros. Ano após ano, novos volumes tecem uma comunidade de autores, leitores e artistas que se reconhecem e se fortalecem. Os contos e poemas publicados nos Cadernos desafiam estereótipos, celebram a ancestralidade e constroem pontes entre passado, presente e futuro.
Mais do que uma antologia, os Cadernos Negros são um marco cultural. Transcendem as páginas para inspirar pesquisas, alimentar debates e enriquecer a nossa compreensão da questão racial. Um farol de resistência que ilumina o caminho para a igualdade. Nos lançamentos, que já reuniram 2.000 pessoas, a literatura se transforma em performance, dança e música. Uma explosão de cores e ritmos que celebra a negritude em todas as suas formas.