O TEMPO EXAURE A PALAVRA
Sempre me sinto muito gratificado quando o leitor identifica que a palavra poética tem, no mínimo, na integralidade do poema, dois possíveis discursos: um aparente e um outro sub-reptício, este por vezes somente perceptível por trás das retinas e/ou pelo poder criador da metaforização vertical ou profunda, que conduz ao território da imagística, inaugurando-se o sentido conotativo da linguagem.
Nestes domínios, a subversão do sentido genuíno da palavra recria, por vezes, inovando em significações e propondo conceitos originais. É por estas ocorrências citadas que se pode constatar poemas que se apresentam com a configuração poética ou sem o comparecimento da Poesia.
O que se quer ressaltar e explicitar é que fazemos ou nos são apresentados poemas com ou sem Poesia. Afinal, nem sempre conseguimos chegar aos quintais de volátil revelação e/ou percepção das peculiares características identificadoras da Poética, à mercê da originalidade do gênero literário Poesia nos versos ou no todo do conjunto verbal.
A Poesia, no voo das ideias congeminadas às imagens, funciona como o Senhor Tempo, que sempre está a fugir, como os autores latinos diziam “tempus fugit”, traduzindo: “o tempo voa”, se exaurindo por não descoberto ou aproveitado a tempo e hora quando da centelha inspiracional.
Todavia, isto não se deve somente ao poeta-autor, o criador original, e, sim, ao receptor da palavra até então codificada, que se abrirá como uma linda flor à frente de seus olhos espirituais.
Sem a presença do poeta-leitor, a palavra é inanimada, inerte, inútil para o (re)nascer da flor Felicidade, que nos estimula à convivência social, ficando esteticamente o registro multiplicador.
O meu eu poético foi meramente um propositor do Belo, um artífice tentando conectar as vertentes do Mistério, o único que realmente fez e faz Poesia. É este ente espiritual que descobre em mim a vontade de ser um visionário.
MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.
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