Curiosidades da Ficção Científica: Lucky Starr

 

CURIOSIDADES DA FICÇÃO CIENTÍFICA: LUCKY STARR

Miguel Carqueija

 

Vocês sabiam que o grande e célebre autor de ficção científica Isaac Asimov escreveu uma série de romances de “space-opera” ou ópera espacial — tipo de FC menor, mais comercial — escondendo-se no pseudônimo de Paul French? São as aventuras de Lucky Starr, espécie de super-herói do futuro, certamente mais aceitável — por ser criação de um verdadeiro artista — que a fauna de super-heróis que domina nossos quadrinhos e televisões.

Lucky Starr vive num distante futuro no qual a Terra, que domina o Sistema Solar, enfrenta a oposição de piratas interplanetários — sediados nos asteroides — e do sistema de Sirius, na verdade, antigas colônias terrestres que se haviam tornado independentes e, enfim, uma potência rival. Agente secreto do Conselho de Ciências — órgão que controla o mundo futuro — Lucky, na verdade chamado David Starr (seu apelido pode ser traduzido para felizardo, afortunado), possui extraordinárias faculdades intelectuais em virtude de uma carga de radiação espacial recebida em criança. Como se isso não bastasse na sua aventura em Marte recebe um “presente dos deuses”, uma substância capaz de envolvê-lo em um escudo energético de proteção.

Pelo menos quatro exemplares da série foram publicados em língua portuguesa, na antiga Coleção Argonauta de Lisboa: “O veneno de Marte” (nº 8 da coleção), “Os corsários do espaço” (36), “Os mares de Vênus” (50) e “O robot de Júpiter-9” (57), todos, diga-se de passagem, interessantíssimos.

Lucky Starr atua com a constante companhia de um auxiliar, John Bigman Jones, assim chamado Bigman (homem grande) por ser de pequena estatura e, não obstante, agressivo e gritador. Bigman é um tipo engraçado, extremamente leal a Lucky. Detalhe curioso é a quase absoluta ausência feminina nessas histórias, inclusive sem nenhum envolvimento sentimental da parte de Lucky e Bigman.

A fértil imaginação de Asimov/French fabrica mundos originais nessas histórias, como Vênus, que nos surpreende na descida do foguete que traz os dois heróis e que, ao invés de aterrissar, mergulha de chofre no oceano que recobre toda a superfície venusiana, transformando-se num submarino em demanda de uma das comportas de acesso à colônia terrestre, inteiramente subaquática. Em suma, o estilo de Asimov não desaparece de todo apesar do disfarce do pseudônimo e da incursão num subgênero considerado menor, dentro do universo da Ficção Científica.

 

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1985.