💥👨🦳...ERA UMA VEZ UM MENINO QUE VENDIA PALAVRAS...PANTOMINA?...GORGOLÃO?...💫🧑🦰✍️
Esta é a história do menino NEREVALDO, apelidado de VADO que tinha muito orgulho do seu pai, que era um homem muito inteligente e que conhecia o significado de todas as palavras.
Nenhum dos meninos tinha um pai assim tão culto e que conhecia as palavras como ninguém.
A curiosidade dos amiguinhos pelas palavras diferentes era muito grande, e sempre que eles queriam saber o significado de alguma palavra mais difícil perguntavam ao menino VADO, que logo ia perguntar ao seu pai.
E assim, o pai respondia o que era "meio fio", "absolvido", "esperanto", "pantomina", "gorgolão", "enfado", etc...
Até que a criança esperta como era, pensou em "negociar" o significado das palavras com os coleguinhas.
TURVO? ...Me paga uma bolinha americana, daquelas coloridas.
ABSOLVIDO?...Vale duas balas Toffee, a mais cara.
GORGOLÃO?...Quero a fotografia de um navio de guerra.
PANTOMINA?... Vale um chiclete.
E assim, começou o seu "negocinho", estava sempre recebendo pedidos e o pai destrinchava todas as palavras com facilidade. E o seu pai sem desconfiar de nada, achando que era simples interesse do filho, nunca se recusou a ajudá-lo mesmo quando as palavras eram difíceis e desafiadores.
Às vezes, quando os amiguinhos estavam parados na rua e viam o seu pai chegar, reuniam-se em volta dele e o seguiam. Queriam adivinhar o que ele tinha de diferente, o admiravam pelo seu ar dominante e pela sua inteligência.
Alguns dos coleguinhas até perguntavam para os seus pais o significado das palavras, mas os pais não sabiam responder, ou não queriam, e ainda ficavam aborrecidos com os filhos: " Isso é pergunta que se faça?. Naquela época os pais
batiam nos filhos por qualquer motivo, filhos eram feitos para apanhar, levar castigo.
Ah, e as palavras começaram a ficar mais complicadas. Os meninos caprichavam e perguntavam o que era hoste, justaposição, matroca, pertinaz, sevícia, bromato, encouraçado, etc...
Mas o pai quando descobre o "negocinho" do filho" e a venda das palavras, não o puniu, mostra à criança uma coleção de vinte livros grossos e pesados, as enciclopédias e disse ao filho:
" A Jackson. A melhor que existe. Ali está tudo. Ali você descobre o significado de cada palavra. Vai ver que muitas palavras diferentes têm o mesmo significado. São os sinônimos. Daqui para a frente é com você...
E o menino Vado se encantava ao abrir as enciclopédias e descobrir por ele mesmo o significado de tantas palavras , catalepsia . cataplasma, catamarã, catáfora, catadupa. etc... E começa por ele mesmo a responder as curiosidades dos amiguinhos.
Até que um dia, um garoto chamado Toninho, decide perguntar o significado de uma palavra que não existia no dicionário, o significado da palavra ZALTROSA. O pai tentou ajudá-lo, abriu o dicionário, não achou o significado e disse ao filho " NÃO SEI O QUE É ISSO".
O filho então se frustra com o pai, pois achava até então que os pais tinham que saber de tudo.
O pai então diz para o filho que a palavra não existia, ou então que ele não sabia o que a palavra queria dizer, e lhe diz" Não sabemos tudo. Só sabemos o que sabemos, não mais do que isso. Mas podemos aprender, só que leva um tempo. Uma coisa de cada vez. Aí dá para saber bastante, mas nunca tudo".
Foi muito estranho para a criança ouvir do pai que "ele não sabia". O mais difícil foi encarar com o Toninho parado olhando para ele com riso de gozação na sua cara... Toninho tinha o olhar de vencedor, o olhar de quem ganha em uma briga.
Palavras da criança: "Ele se afastou, olhou para trás, me deu uma banana com os braços, subiu e atravessou em pé o cano de água, a turma ficou admirada, nunca ninguém tinha feito isso".
E a criança volta a dialogar com o pai dizendo que se sentia envergonhado e derrotado. " Puxa vida pai! Era uma palavra só. Fui derrotado por uma palavra, ninguém mais me respeita. Ninguém mais quer fazer negócio comigo.
E o pai responde que o filho fora enganado e lhe diz:
" O problema não é perder o "negocinho", isso é o de menos, bens materiais. O problema é ser enganado, o problema é o logro e as pessoas gostam de lograr as outras, sabe-se lá por que razão, mas gostam. Ficam felizes. Prepare-se para isso na vida!.
E continua" Pediram uma palavra que não existe, não consta em nenhum dicionário. ZALTROSA, essa palavra não existe. Inventaram para te pegar. Foi um jogo sujo. Cai fora dessa, na vida não se joga com trapaça. Não mesmo!.
E o menino NEREVALDO nunca mais se esqueceu disso:
" NÃO SE JOGA COM JOGOS SUJOS.
SEU PAI SABIA DAS COISAS.
SABIA BEM COMO SE JOGA NA VIDA".
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Este é um pequeno resumo do livro:
O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS, escrito por IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO.
O menino que vendia palavras foi inspirado em sua própria infância, em Araraquara, nos anos 1940. Seu pai, que chegou a publicar histórias em jornais locais e conseguiu formar uma biblioteca com mais de quinhentos volumes, o incentivou a ler desde que foi alfabetizado. Fascinado por dicionários chegou a trocar com seus colegas de classe, palavras por bolinhas de gude e figurinhas.
INÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO conquistou vários prêmios literários com sua obra, entre eles o prêmio Pedro Nava (da Academia Brasileira de Letras), o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) , sendo que o livro "O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS " recebeu o prêmio Jabuti, como o Livro do Ano de Ficção.
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Através da leitura do livro percebemos como é importante o estímulo dos pais tentando despertar a curiosidade do significado das palavras com seus filhos, através do próprio exemplo.
A curiosidade é uma ferramenta poderosa para ampliar o vocabulário, a criatividade é a descoberta do mundo imaginário das crianças; dessa maneira, a criança se apropria de um repertório mais rico que estimula não só a leitura, mas também o raciocínio, a capacidade de síntese e interpretação, sendo inúmeros os seus benefícios.
Acaba também sendo muito terapêutico pois através da leitura a criança projeta para fora sentimentos diversos que ajudam a canalizar as suas emoções; a leitura transporta a criança para outros lugares, outros mundos, desperta seus sonhos, curiosidades. Por ser um processo lúdico , pode ocorrer uma catarse para as dificuldades que a criança, por ventura, esteja enfrentando.
E ao dizer a VERDADE e EU NÃO SEI para o filho, abre se um diálogo muito rico , de forma que a criança começa a compreender as limitações como fazendo parte e sendo inerente a nossa própria condição humana; quando adultos acabam lidando melhor com a falta e com as suas próprias frustrações.
E tudo começa em casa, com o diálogo, a transparência, com os preceitos éticos, os valores e as regras que passamos para os nossos filhos!.