Na solidão das palavras
Todos os entusiastas do mundo das palavras, em algum momento, devem ter reiterado a premissa, muito difundida inclusive, de que escrever é antes de tudo um ato solitário. Sem muito esforço, pode-se dedicar horas do dia para penejar um simples texto, um artigo, a crítica de um livro e se o objetivo for compor um romance, aí sim a soledade se tornará uma companhia frequente, bastante corriqueira diante das centenas de páginas.
Será que existe uma forma de driblar o exílio por trás de toda sensação de confinamento que o computador pode provocar? Com um pouco de criatividade, creio ser possível sim, debelar essa inconveniente sensação. No entanto, é salutar prestar um alerta: marcar presença nas redes sociais, chats e coisas afins, provavelmente irá comprometer a atenção e pode influir negativamente no resultado final da incursão escrita.
Existem algumas soluções capazes de romper o marasmo imposto por horas a fio de dedicação ao mundo das letras. Às vezes, munido dos meus fones de ouvido, gosto de buscar músicas que estabeleçam qualquer mísera relação com o objeto de escrita. Se a proposto for tecer uma história de terror (as minhas favoritas), recorro a trilhas instrumentais de filmes do gênero, naturalmente mantendo um volume exíguo, quase inaudito. Geralmente, as melodias ajudam a trazer um clima mais soturno, bem o que estou buscando, atiçando a imaginação a provocar novas ideias, rompendo aquela sensação, às vezes incômoda, da alvura do editor de texto apinhado de palavras.
Com o objetivo de colocar para fora uma trama insólita e horrífica, melodias instrumentais devotadas ao gênero, deixando aflorar a imaginação, podem evocar uma atmosfera mais lúgubre, um pequeno alucinógeno, permitindo fitar os movimentos das sombras, rastros deixados pelas almas errantes que cruzam nosso caminho exalando sua energia impetuosa, permitindo-me captar um pouco das vibrações nefandas.
O mesmo vale, por exemplo, diante do intento de engendrar uma narrativa mais voltada para um romance, situação cotidiana, mistério ou em uma trama mais enraizada em ficção científica. Mas, para aqueles em que a música (mesmo em baixo volume) mais atrapalha do que auxilia, outra dica é apostar em construir um clima adequado apostando no aspecto visual. Um fã inveterado de Star Wars pode sentir prazer em criar estando em um ambiente repleto de referências ao universo que ama, mesmo com a icônica franquia passando ao largo de ser o objeto de trabalho. Em outras palavras, construir um espaço acolhedor pode ajudar a defenestrar a inconveniente sensação de isolamento.
Uma iluminação diferente, contendo as peculiaridades de cada um, também pode ser uma boa aposta, assim como a própria possibilidade - por quê não? - de mudar brevemente o ambiente de trabalho, deixando o escritório/quarto para escrever na sala, varanda, cozinha com aquele cheirinho de comida. O Youtube também pode servir como aliado, reproduzindo algum som atrativo para o escriba. Tem opção para todos os gostos, desde uma singela chuvarada, até uma fogueira, lareira, ou o atrativo sonido de uma máquina de escrever e outras tantas que sua imaginação possa sugestionar. Afinal: importante mesmo é manter a produção constante, e se possível sem dar bola para a solidão.