A ARTESANIA EMOCIONAL EM POESIA
No tocante à maior ou menor sensibilidade, contemplação, comoção e/ou possível êxtase, todo o processo de construção do poema é conduzido por elementos íntimos e ações intuitivas pertinentes às digitais do poeta-inspirado ou à peculiar feitura do poeta-artesão ou às fases conjugadas (imediata ou mediata) de criação do poema: a inspiração ou espontaneidade oriundas do talento e da intuição, seguida de transpiração (ou não) sobre o texto original.
Olhos abertos e atentos às figuras de linguagem, especialmente a metáfora, recurso estilístico que conceituo como “a princesa” da linguagem poética.
Pode ocorrer, sim, que a escolha das palavras e a imagética obtida dentro da peça seja mais arrojada, mais imbricada, criativa ou hermética como acontece nas peças artísticas deixadas pelo surrealismo de Picasso ou Salvador Dali, e que, passados tantos anos, ainda não formou escola em Arte, eis que portadores de virtuosismos individuados, originalíssimos em suas manifestações humanas e estéticas.
Verdade é que, especialmente os iniciantes, por falta de preparo e conhecimentos específicos em Poética, acham que a peça lírica está pronta a partir do momento em que chegou ao mundo dos fatos, seja no papel impresso ou na virtualidade. Risível engano. Versos com Poesia são sempre frutos do talento e da experimentação. A concepção estética em arte poética sempre exigiu esta preciosa e delicada conduta no decorrer de todos os tempos.
Só os gênios nascem prontos para o poema bafejado pela poesia, o que equivale a dizer, aquele que já nasce contendo a eternal Poesia (com sua peculiar fenomenologia e predominante traço estético de Beleza) no seu íntimo, singelo e sintético organismo verbal. Enfim, acatar o desafio: utilizando um mínimo de signos, abordar e/ou cinzelar o Novo com metaforização vertical ou profunda e não meramente horizontal ou superficial.
Todavia a esses virtuoses da fauna artística não se aplicam os conceitos usuais. O gênio a tudo supera, congemina ou debilita conceitos pré-fixados. Para a genialidade não há parâmetros plausíveis, tudo é exceção quanto ao processo verbal de construção plástica e/ou textual.
Como precário analista literário, procuro tratar especialmente do assunto em voga com aqueles poetas-autores e poetas-leitores que enfrentam a Poesia com esforço e dedicação. Aprendo com estes, que são pessoas comuns, ainda que condenadas a um pensar que não se contenta com a superficialidade. Sabe-se que, via de regra escavam mais fundo, bem mais que outros criadores apressados ou menos exigentes dos seus pendores artísticos.
São sempre bem-vindos estes visionários que sabem e/ou intuem que o mundo se reconstrói a cada momento, e que acreditam na Poética por estarem à frente de seu tempo, eis que visionários, profetas, arautos do mistério, que é como se costuma tratar os poetas, resultante da raiz etimológica do vocábulo no idioma mater de Camões e Pessoa, frente ao histórico itinerário multissecular do helenismo colado à experiência da amplidão territorial ao sul europeu, nas veredas e andanças do iberismo.
E estes, mesmo imersos na contemporaneidade, com a perspectiva de dias muito pouco alvissareiros, abraçam com muito vigor o (seu) futuro, edificado a partir dos cuidados da artesania emocional, vital materialização estética do exercício da consciência do sentir e o existir para além de si mesmos.
Afinal, quem diria, estamos a céu aberto no palco ou patíbulo da virtualidade universal, de sua cibernética e tecnologias, para pagar o preço de existir (ou não) na estremadura da territorialidade sul-americana e, humildemente, brasílica.
Contudo, neste solo constatamos cerca de 220 milhões de falantes obedientes às nuanças do idioma luso-brasileiro.
MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.
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