Noites negras

Hoje estou aqui voltando a ser menino...ouvindo um bolero antigo, daqueles que meu pai sempre ouvia.

Me recordo de quando cansado meu pai chegava do trabalho, e depois de um banho tomado, ligava seu velho radio que ficava o dia inteirinho calado esperando ele chegar.

Do bolero confesso que não gostava, mas ao lado do meu pai eu me sentava, só para os carinhos dele ganhar.

E ele sorrindo me olhava...sabia que eu não estava ali pelo bolero, e sim pela espera de um abraço seu, bem apertado ganhar.

Meu velho pai, meu verdadeiro amigo, saudades eu tenho de teus castigos, das vezes que brigava comigo, e das broncas que sempre me deu.

Com você aprendi a jogar bola, afazer canções, a empinar pipas e a rodar piões

Tinha vezes que sem me dizer uma só palavra com um simples olhar você me corrigia, num piscar de olhos me mostrava o certo e o errado, o que era bom e o que não servia para mim.

Você me ensinou muito mais, com você aprendi a aceitar o fim.

Você me disse que nessa hora devemos erguer a cabeça, sacudir a poeira e sair dos escombros.

Juntar os pedaços dos sonhos desfeitos e logo uma nova estrada tomar. Não olhar para os lados e nem para trás, apenas caminhar. Não levar mágoas, se desfazer da raiva e seguir em frente sem chorar.

Meu pai: hoje ainda ouço aquele velho bolero, só que agora já não sou mais um menino. eu cresci. Mas sem os seus conselhos meu querido pai, confesso que meu rumo perdi.

Não sei mais o que quero, perdi os meus passos, o mundo minhas forças tirou, tenho medo; e nas horas em que fraco me sinto, fecho os olhos e volto a ser um menino...e começo a cantarolar aquele bolero antigo.

Aquele que você meu pai sempre ouvia, nesse momento sinto uma força tão grande, que em meus pensamentos me permito virar um gigante, e até quero voar.

Só que logo caio na realidade, e penso, como voar sem ter asas, se até mesmo em minhas proprias pernas essa vida madrasta me fez tropeçar.

Mas não tem problema não , vou seguindo e cantarolando minha triste canção, e vez ou outra proseando com meu alazão. Farei isso até quando Deus quiser.

O dia que ele disser para mim chega...Chega dessas noites negras, filho eu vim te buscar. Nessa hora vou apertar as rédeas do meu alazão amigo, vou olhar para Deus e dizer assim. "Deus, só irei se ele for comigo, você vai ter que concordar".

Vou pegar nas mãos divinas e para o céu vou com ele subir para com meu pai encontrar. Mas se Deus disser não, seu alazão não poderei levar. boto um rosto brabão e toco a galopar, e olhando para trás num galope corrido...e na boca com um forte grito eu olho para Deus e digo.

"Deus: se for para perder mais esse amigo, eu não vou contigo, até aceito outro castigo, mas sinto muito meu Deus, hoje você nao vai me pegar.

Igor Rodrigues Santos

Poeta Igor Rodrigues Santos
Enviado por Poeta Igor Rodrigues Santos em 05/02/2024
Código do texto: T7992755
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