Surgimento e Desenvolvimento da Poesia no Piauí
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ -- UFPI
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS -- CCHL
DEPARTAMENTO DE LETRAS -- DL
DISCIPLINA: SEMINÁRIO III
ALUNO: CLÁUDIO CARVALHO FERNANDES
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA POESIA NO PIAUÍ
UFPI
Teresina – 2001
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: SEMINÁRIO III
ALUNO: CLÁUDIO CARVALHO FERNANDES
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA POESIA NO PIAUÍ
UFPI
Teresina – 2001
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA POESIA NO PIAUÍ
PRIMEIRA GERAÇÃO
Fase neoclássica (1808-1870)
Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva
Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco de Carvalho
Foi sob o signo da poesia que a literatura surgiu no Piauí, com a obra “Poemas”, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, primeiro poeta piauiense, sendo publicada no ano de 1808, em Lisboa, como produto da sociedade cultural portuguesa, nada tendo de piauiense além da origem de seu autor, que nasceu na antiga Vila de São João da Parnaíba, em 1787. Por sua família ser abastada, fez seus estudos em Portugal, bacharelando-se em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra. Ovídio Saraiva dedicou parte de sua poesia a Bocage, de quem era seguidor. Sua obra “Poemas” é um conjunto de versos da corrente elmanista, contendo poesia sentimental, relacionada às Cortes Palacianas, sem nexo com as origens étnicas do seu autor. Constitui exceção reveladora de vitalidade poética no conjunto de sua obra, a letra primeira da música que seria o Hino Nacional do Brasil, refletindo um estado de revolta do autor.
Também é necessário destacar nesta fase a importância do poema “A Criação Universal”, de Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco de Carvalho, que foi quem primeiro tentou, no Brasil, a poesia científica, com a obra já referenciada, contendo abundantes informações sobre mecânica e astronomia.
Fase romântica (1870-1889)
José Coriolano de Sousa Lima
Hermínio de Paula Castelo Branco
Theodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco
Joaquim Ribeiro Gonçalves
Luiza Amélia de Queiroz Brandão
Lycurgo José Henrique de Paiva
A literatura no Piauí deixou de ser um produto português com o surgimento do livro “Impressões e Gemidos”, de José Coriolano de Souza Lima, a maior figura do romantismo piauiense, cultor de significativo compromisso com as raízes locais, através de um sentimento nativista que passou a fixar teluricamente as paisagens e a alma da gente piauiense. Além deste, notabilizaram-se nas letras os nomes de Hermínio de Paula Castelo Branco (“Lira Sertaneja”); Theodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco (o “poeta-caçador”) e Joaquim Ribeiro Gonçalves, todos com as características de uma poesia nativa, sentimental e revolucionária.
Posteriormente, essa poesia discursiva, telúrica, excessivamente simples foi substituída por uma poesia clara, limpa, leve, proveniente de correntes mais expressivas da literatura nacional, destacando-se os nomes de Lycurgo de Paiva, que, com “Flores da Noite” (1866), buscava novas formas, rompendo com a tradição agrária da poesia da fase inicial do romantismo, e Luiza Amélia de Queiroz, com a publicação de “Flores Incultas” (1875), caracterizada por um lirismo arrebatado.
SEGUNDA GERAÇÃO
Fase libertária (1889-1917)
Anísio Auto de Abreu
Francisco Alves do Nascimento Filho
Taumaturgo Sotero Vaz
Leônidas Benício Mariz e Sá
Fábio José da Costa
Os escritores desta fase marcaram a sua presença na história literária do Piauí através de textos fortes, vigorosos, onde a linguagem assumia caráter de denúncia e contestação, tendo a liberdade como tema. Assim foi que Anísio de Abreu e alguns dos demais poetas da época tornaram-se arautos da liberdade, exibindo uma exemplar condição literária de permanente defesa dos direitos humanos, das liberdades individuais e dos valores mais significativos da sociedade de então, sempre marcando o seu fazer poético pela fibra, coragem e coerência.
Fase áurea (1917-1940)
Antonio Francisco da Costa e Silva
Félix Pacheco
Celso Pinheiro
Jonas Fontenelli da Silva
Raimundo Zito Baptista
Antonio Chaves
Alcides Freitas
Lucídio Freitas
Benedito Aurélio de Freitas (Baurélio Mangabeira)
Fenelon Ferreira Castelo Branco
Benedito Nogueira Tapety
Édison da Paz Cunha
Mário Bento Gonçalves
Abdias da Costa Neves
Nesta fase, após o advento da Proclamação da República, vários intelectuais da melhor estirpe passaram a divulgar suas obras pelos mais diversos meios, marcando a História da Literatura no Piauí com o relevo de uma força de pensamento sem precedentes. Em terras piauienses, Higino Cunha e Clodoaldo Freitas redigiam a Idéia Nova, trazida de Recife, influenciando profundamente a literatura, em especial a poesia, enquanto em outros estados, piauienses ilustres, como o que é considerado o maior poeta piauiense de todos os tempos, Da Costa e Silva (Rio Grande do Sul), Félix Pacheco (Rio de Janeiro) e Jonas da Silva (Amazonas) marcavam uma presença respeitável, caracterizando esta fase como a Geração de Ouro, aproximadamente na época em que se fundou a Academia Piauiense de Letras (1917). Os nomes mais representativos de então foram, além dos poetas já citados, Abdias Neves; Celso Pinheiro (poeta-filósofo de um materialismo trágico e transcendente, amargurado nos sentimentos); repetindo, Félix Pacheco (poesia intelectualizada, com preocupação da verdade artística e elevação do pensamento); Zito Baptista (lirismo simples e comunicativo); Lucídio Freitas (fundador da Academia Piauiense de Letras); Alcides Freitas; Baurélio Mangabeira etc.
TERCEIRA GERAÇÃO
Os modernistas (1940-1965)
Benedito Martins Napoleão do Rêgo
Júlio Antonio Martins Vieira
Maria Isabel Gonçalves de Vilhena
João Francisco Ferry
Adail Coelho Maia
Antonio Veras de Holanda
Raimundo de Araújo Chagas
Domingos Martins Fonseca
Vidal da Penha Ferreira
Santiago Vasques Filho
Luiz Lopes Sobrinho
Carlos Ferreira de Oliveira Neto
José Vidal de Freitas
Félix Aires
Manoel Felício Pinto
José Newton de Freitas
Gaudêncio Carvalho de Sousa
Raimundo da Costa Ribeiro
Eulino Pereira da Silva Martins
Almir de Sousa Fonseca
Altevir Soares de Alencar
Clóvis Moura
Nerina Castelo Branco
José Expedito de Carvalho Rêgo
Balduíno Barbosa de Deus
Raimundo José dos Reis
Mário Faustino dos Santos e Silva
Em 1927, Martins Napoleão, retornando de Belém (PA), publica em Teresina o livro “Copa de Ébano”, inaugurando o que se convencionou chamar de “Modernismo”, no Piauí, revitalizando a poética local, em estado de aparente morbidez em função do anacronismo em relação às manifestações literárias externas. A emoção estética da obra deste pró-modernista foi o manifesto de um momento de transição social e econômica para a comunidade piauiense, compartilhando com Júlio Martins Vieira e Isabel Vilhena uma poesia de natureza telúrica com raízes européias.
A transição pró-modernista deu-se entre 1917 e 1940 e nela verificou-se tanto o influxo de correntes conservadoras quanto uma influência de setores revolucionários da arte, destacando-se os nomes de João Ferry (parnasianismo multiforme e novos rumos da poesia); Adail Coelho Maia (poesia lírica, épica e satírica); Vasques Filho (“Bronzes e Cristais”); Oliveira Neto (ferrenho opositor das idéias modernistas na literatura); Félix Aires (poeta e trovador); Newton de Freitas (nostalgia e filosofia da angústia e do sofrimento); Almir Fonseca (notável sonetista, com olhar distendido por todas as camadas sociais); Clóvis Moura (investigador do comportamento da sociedade) e Nerina Castelo Branco (ruptura com o tradicionalismo acadêmico e amargura como signo).
Universalizando o indivíduo em sua arte, Mário Faustino publicou em 1955 a obra “O Homem e sua Hora”, em que procura redescobrir a linguagem, com a poesia abandonando suas raízes telúrico-líricas para se definir como essência nuclear da palavra, e produzindo uma poesia hermética, difícil, construída em ideogramas, na montagem gráfica do poema.
Os vanguardistas (1965-1990)
Álvaro Pacheco
Hindemburgo Dobal Teixeira
Francisco Miguel de Moura
Francisco Hardy Filho
Herculano Moraes
Gregório de Moraes
José Ribeiro e Silva
José Maria Barros Pinho
João Ribeiro de Carvalho Neto
Torquato Pereira de Araújo Neto
José de Ribamar Matos
O poeta Álvaro Pacheco reformulou as concepções clássicas do modernismo no Piauí, com uma poemática segura e objetiva, rigorosamente sensorial, produzindo uma obra de profunda substancialidade e sendo um escritor de grandes recursos, consciente de sua arte. Sua obra divide-se em dois ciclos: da Província e do Universo. Como marca de sua composição, figura o lirismo das concepções simples, numa poesia carismática.
H. Dobal foi diretor da revista Meridiano e figura líder da geração vanguardista, tornando-se um poeta respeitado no Brasil inteiro. Em 1969, com o livro “O Dia sem Presságios”, ganhou o Prêmio Jorge de Lima (poesia) do Instituto Nacional do Livro. É considerado o maior poeta vivo do Piauí.
Juntamente com Hardy Filho, Herculano Moraes e outros, Francisco Miguel de Moura fundou o Círculo Literário Piauiense, um grupo literário cujo período de atividades organizadas abrange de 1967 a 1970.
O nome de Torquato Neto está associado nacionalmente ao movimento tropicalista, em que foi um influente participante, com várias canções famosas como “Louvação”, Soy Loco por ti América”, Geléia Geral”, “Pra Dizer Adeus” e outras. Seu único livro publicado, “Os Últimos Dias de Paupéria” surgiu em 1973, com apresentação de Augusto de Campos.
Paulo Henrique Machado
William Melo Soares
Rubervam du Nascimento
Enquanto os poetas Paulo Machado e William Melo Soares seguem a mesma linha de uma poesia compromissada com a terra, a história e o mundo, em que o talento e o universalismo apontam para os aspectos da tradição que tornaram grande a poética de H. Dobal, o poeta Rubervam du Nascimento tenta a poética plástica, no esforço de recriação da palavra. Os três representam novas tendências na poesia do Piauí após a geração clipeana, com obra consolidada.
Alcenor Candeira Filho
Elmar Carvalho
Alcenor Candeira Filho é um poeta de forte carga emocional, integrando o grupo Parnaibano da literatura no Piauí, juntamente com Elmar Carvalho, que foi incluido no livro “A Poesia Piauiense no Século XX” (1995), organizado por Assis Brasil.
Nilo Carvalho Neto (Neto Sambaíba)
V. de Araújo
Jamerson Lemos
Neto Sambaíba publicou “Um Maluco Inteligente” e “O Grito dos Mudos” (1983). V. de Araújo é tido por Herculano de Moraes como um dos poetas mais conscientes de sua geração. Jamerson Lemos conseguiu impor a evidência de um estilo renovador, com predomínio da inteligência sobre a forma e manuseio do verbo como instrumento projetor de frias emoções.
Cid Teixeira de Abreu
Raimundo Alves de Lima (Ral)
Durvalino Filho
Numa linha em que o lírico se confunde com o estado emotivo da alma, Cid Teixeira de Abreu publicou em 1986 o livro de poemas “Moenda” e Raimundo Alves de Lima (Ral), em 1982, publicara “Canção Permanente”, este resumindo a poesia de um tempo amargurado. Durvalino Filho publicou em 1987 o livro “Mistério”, de poesia social.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL, Assis. A poesia piauiense no século XX: (Antologia)/organização, introdução e notas de Assis Brasil. – Rio de Janeiro: Imago Ed.; Teresina, PI: Fundação Cultural do Piauí, 1995
NETO, Adrião José. Literatura Piauiense para Estudantes. 2ª edição. Teresina. Edições Geração 70, 1997.
PINHEIRO, João. Literatura piauiense; escorço histórico. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
SILVA FILHO, Herculano Moraes da. Visão histórica da literatura piauiense. 3ª ed. Teresina, Academia Piauiense de Letras/Hércules, 1990.