OPÇÃO CRÍTICA
A PROPÓSITO DA "ARTE DE FAZER SONETOS"
Em Sebastião da Gama (*)
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Ele há Sonetos e sonetos. Ao longo de toda a história literária da Poesia as palavras são a essência própria da sua variada forma. É verdade que são conhecidos os mais diversos modelos formais, todavia aquele modelo que tem permanecido como o factor determinante da sua identidade é o número mágico de catorze versos. Assim, ele há-os que se chamam clássicos ou decassilábicos, por um lado – tal como o conceituado formal de Petrarca – ou então, por outro lado, as variedades elásticas/plásticas mais desconcertantes, como, por exemplo, essa que nos é apresentada, com uma velada pre-conceitualização (entenda-se receio de estarmos diante de uma heresia) pelo nosso terno amigo Gama. Portanto, bem vistas as coisas, trata-se apenas de uma questão de palavras em que o importante é fazer prevalecer o tal número mágico, ainda que por aqui ou por ali se sinta uma sub-reptícia musicalidade a fazer lembrar soltos fragmentos versejantes.
Como diria um crítico pensante destas coisas de literatura – refiro-me obviamente a Jorge de Sena – quando falamos de SONETOS, temos presente a alma criadora de Michel Angello que, para as suas obras apenas exigia que o mármore fosse mármore. De resto tudo era uma questão de escopro e martelo: a forma estaria sempre assegurada.
Portanto, quanto a esta perspectiva temo-los visto como alexandrinos, segundo o termo mais amplo no que diz respeito às sílabas e ao ritmo; temo-los visto como shakespearianos, relativamente à associação versial; temo-los visto com métricas menores e, até, com métricas ínfimas, ditos sonetilhos. Em fim, o acervo de formas literárias poéticas, comummente conhecidas como Sonetos, tem um horizonte de tal forma diversificado que poderemos dizer, sem receio de errarmos, ser esta forma de fazer poesia o grande cavalo de Tróia da Poética Universal.
Resta-nos, todavia, aceitar que se tem como verdadeiro o grande argumento da liberalização poética.
Longe vai o tempo do desgaste digital, como imperativo da metrificação – no que toca ao receio fisiológico de Sebastião da Gama – e apostar-se-á antes na sensibilidade e, acima de tudo, na emocionalidade.
Estará sempre assegurada a estética literária.
Assis Machado / Frassino Machado
(*) - ARTE DE FAZER SONETOS – Sebastião da Gama
“Ah! Soneto,
Que não sei porque me custas!...
Se é por seres muito pequeno
Para as grandezas que eu sinto
Ou se, por seres infinito,
E o meu espírito acanhado
Se encontrar dentro de ti
Como um fato emprestado,
Muito largo…
Só sei que gosto de ti,
Sei que me fazes medo
E que, quando há meia hora te medi,
Me foste, em cada sílaba medida,
Uma chaga doendo em cada dedo.”
Sebastião da Gama
In “Pelo Sonho é que vamos”