A COISA MAIS CERTA DE TODAS AS COISAS...

A COISA MAIS CERTA DE TODAS AS COISAS...

...NÃO VALE um caminho sob o sol: estes são, possivelmente, os versos mais belos da poesia em língua portuguesa. E na voz de Gal Costa, mais ainda. No início da poesia vemos um menino correndo. E o Tempo em volta dele a sugerir caminhos ao redor daquele menino. A letra é uma montagem à moda de Eisenstein, cineasta soviético nascido na Letônia em 1898. Sua técnica de montagem cinematográfica sugere a poética que une todos os espaços significantes e significados entre si.

O MENINO correndo no Tempo. O Tempo a brincar. A presença de pés no riacho, pés que sempre estarão na água. A água mantém o estado de pureza, transparência, nitidez. A água que lava as mãos, o corpo. No Cristianismo, no Judaísmo e no Islamismo os mortos banhados simbolizam a entrada na eternidade: o corpo lavado, a alma purificada, uma nova vida espiritual.

OS VERSOS são os mais belos porque sugerem uma verdade inegável. A própria vida é um caminho sob o sol. Ao nascer, o fogo do corpo do menino está aceso. Fogo e água. A mulher, sua barriga, o líquido amniótico. O nascer sugere o grito na estrada que nunca passa. A criança vai trilhar uma estrada que nunca passará. A mulher a parir outra pessoa. O Tempo não para. O nascituro nasce para a força estranha do viver. Do viver a vida na qual ela nunca passou. A vida é a parte que o sol ensinou. Outras vidas passaram. O sol continua na estrada que passou a existir.

NOVAS VIDAS, outras vidas. Outras artes de viver. Outras canções e vozes a cantá-las. A força estranha da vida não para de trilhar na estrada. O canto da força tamanha não pode parar. Até o cabelo branco chegar na fronte do artista. A vida nunca jamais envelhece. O jogo é o fogo das coisas que são: sol/estrada/Tempo/pé no chão. Os homens competem. Recordes olímpicos são proscritos. Os que competem brigam, mesmo que não se ouçam seus gritos. Afinal, as vontades estão sempre encobertas.

O QUE VALE mesmo é a coisa mais certa de todas as coisas: o caminho que se cria, que se faz acontecer sob o sol do viver. O sol sob a estrada é o sol que leva a vida de todos os homens a acontecer. O sol conduz ao canto. A força estranha continua nua. Não há Tempo para se vestir nem parar de cantar. A voz tamanha precisa continuar no ar. A força estranha, tamanha, nunca vai parar. Talvez não pare nem para se olhar. Porque o Tempo é o caminho sob o sol. E o sol sempre há de continuar na estrada que nunca passou.

A ESTRADA do sol não sugere a noção de Tempo, exceto do Tempo Inconsciente que não tem noção de si mesmo. A psique cósmica, universal, acontece. Em seu acontecer sugere que acreditemos na imagem fantasiosa da imaginação: ilusão de Tempo e espaço. O Tempo para a física clássica é a 4ª dimensão. Há três dimensões de espaço. A quarta dimensão, o Tempo, é o sol na estrada. É o chão.

PARA EINSTEIN (Teoria da Relatividade) o Tempo é sócio remido, absoluto, da velocidade. As pessoas vivem Tempos diversos, distintos. O que é futuro para uns, já foi passado para outros. E vice-versa. Quanto maior a velocidade de deslocamento no espaço, menor a passagem no Tempo. E o Tempo existencial das pessoas na Terra é o sol na estrada/é o sol na estrada/é o sol/é o chão.

CONSIDERADO uma das dimensões do universo, o Tempo é, para as pessoas que não têm Tempo para se pensarem, a marcação do relógio e de seus acontecimentos triviais. O Tempo histórico são os aconteceres que marcam as horas dos sobreviventes, do povo, da humanidade sob o sol das circunstâncias, incidentes, peripécias. Dos conflitos, pandemias políticas, pendências, corrupções diversas. O tempo das doenças, das multas, das filas, dos hospitais, das verbas vadias do Centrão.

NA VERDADE, o Tempo é uma teoria dimensional da mera virtualidade: a realidade.

(P.S: Este texto, foi sugerido pelo artigo da escritora Lélia Angélica, “Eu Vi O Menino Correndo... Eu Vi O Tempo”).

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 22/07/2023
Reeditado em 22/07/2023
Código do texto: T7843252
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