Historias da Horta - Conhecimento

Histórias da Horta e Outras histórias

Conhecimento é desejável

 

“Os olhos são inúteis quando a mente é cega”. (Autor desconhecido)

Alguns fatos marcaram este dia. No início da manhã, chega, na rampa de acesso à casa, a vizinha de um dos pequenos apartamentos em frente. Queria saber se determinadas folhas que eu ofertei nos cestos de doação eram para chá. Esclareci que não, pois tratava-se de citronela, planta que é usada para pulverizar ambientes e repelir pernilongos. Então ela informou que havia levado um molho grande daquelas folhas e que vinha fazendo chá para beber. Informei que havia colocado uma plaquinha de identificação no local, e que a planta parecida fisicamente com aquela é o Capim Santo. Este não havia sido ofertado na ocasião. Por fim, retirei uma folha de cada uma das espécies e mostrei-lhe a diferença, que está muito mais no cheiro do que no aspecto físico. Percebi que ela foi se alterando...

- Quando peguei as folhas não havia plaquinha nenhuma.

- A plaquinha é provisória. Pode ter caído – respondi

Ela insistia nesse ponto. Depois resolveu me impor algo.

- Eu pensei que as ervas da doação são todas para fazer chá.

- Não é assim. Eu nunca disse isto. Sempre informei que são ofertadas nos cestos as folhagens e mudas excedentes da produção da horta. Como você deve saber, aqui funciona no sistema de autosserviço. Todas as plantas dos canteiros estão identificadas. Está tudo explicitado no Mural. Os visitantes devem ler, entrar em contato por telefone ou interfone, apenas em caso de dúvida.

Ela continuou batendo nesse ponto. Dizia ser adepta da alimentação orgânica, que por sua boca não entrava nada que fosse de origem duvidosa, que estava muito apreensiva por ter tomado um chá não convencional, que poderia ter consequências ruins.

- Não se estresse. Provavelmente você já eliminou os efeitos desse chá.

Agora queria que eu julgasse a qualidade dos alimentos que ela adquire no comércio próximo.

- Não posso avaliar. Não conheço a origem, não sei como são cultivados, selecionados e postos à venda.

Nesse momento eu já estava farta daquela conversa. Pedi licença para atender aos meus cães que esperavam pelo alimento da manhã.

II

Mais tarde um amigo escritor, que tem um especial cuidado com o acervo cultural da nossa pequena cidade, trouxe o relato surpreendente do manifesto público (anônimo) de uma Universidade Federal contra seu projeto, que pretende homenagear a bravura de um expedicionário. O argumento apresentado é que os índios e os negros envolvidos na missão é que deveriam ser os homenageados. O documento demonstra, ainda, falta de conhecimento básico da história do Brasil e outras inconsistências. Uma pobreza de texto!

III

Finalmente, recebi a contestação pública, por parte do Sindicato dos escritores do DF, à fala infeliz e considerada agressiva de um Ministro de Estado, que denegriu a imagem da cidade e do cidadão trabalhador de Brasília. Alega o Sindicato que se trata de absoluta falta de conhecimento da cidade, seu funcionamento e sua população. Sugere que a autoridade saia do conforto dos palácios e circule pelas ruas, antes de se manifestar a respeito.

Fica a pergunta: estamos a caminho de um apagão cultural?

Bsb, 15/07/2023

 

Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 16/07/2023
Código do texto: T7837905
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.