NA ARTE DAS LETRAS

Na arte das letras não é só o engenho e a arte que contam. Camões, o grande poeta português, nos revelou que pedia às musas do engenho e da arte o talento para dispor em versos o que queria nos transmitir. Nos transmitir artísticamente. Suou muito e até hoje podemos ler o que ele escreveu. Eu, poeta dos menores, dizia ontem que conto muito é com a inspiração. Ao contrário de pares meus que colocam a musa da transpiração em primeiro plano. Tudo no afã de subir ao pódio. E eu também..

Mas nas artes da letras, nós todos não navegamos, como escrevia Pessoa, se não fazemos nossos olhos mergulhar primeiro nas letras do alheio. E enfim temos escrito. E o poeta que tem o seu recado artisticamente registrado, cisma de valorizar esta arte que praticou. E eu contrario a opinião alheia de que devemos mesmo é valorizar a nossa arte. E me explico: quem me valoriza é o número de leitores. Posso até parecer presunçoso, mas pense se não é uma forma de humildade a do homem de letras que escreve sob o signo da inspiração a ver se um de seus leitores diz: -Que coisa bonita!

Quando um me diz: -Que coisa bonita! eu me sinto bem dentro do meu fazer nas letras. É que me inspirei por um breve ou longo momento e nem pensei em suar a camisa para escrever. Transpirar ou suar a camisa para escrever é tornar o resultado artificial. E o nosso tempo, tão frio de sentimentos, pede até uma lágrima poética se tal fosse possível. Claro que eu digo lágrima poética porque me inspirei por um brevíssimo instante. E confesso: não estou chorando. Já li casos de artistas do escrever que ao conseguir um belo resultado da inspiração choravam.

Mas nas artes das letras eu li outro dia um poeta dizendo que a poesia não serve para nada. Isso é porque ele não acredita na poesia, no poder que a beleza das palavras juntadas têm de comover. E comover é tocar os sentimentos do leitor.

E é disso que precisamos, comover esteticamente o leitor, que é o consumidor das artes das letras.. Eu escrevi consumidor mas não pensando no dinheiro. Consumidor como os que tenho aqui.

E eu me comovo ante certos versos e certos escritos, não sou cético. Por isso estou aqui escrevendo, mesmo que diante das minhas letras possam os leitores me supor um velho ranzinza.

Sim, leio. E leio muito em letras. E ler para mim não é nenhum osso do ofício. E entre a transpiração e a inspiração eu fico com a inspiração.

02/07/2023.

Aristides Dornas Júnior
Enviado por Aristides Dornas Júnior em 02/07/2023
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