BRINCANDO COM AS PALAVRAS...
BRINCANDO COM AS PALAVRAS...
"...a obra literária, assim como o
devaneio, é uma continuação ou
um substituto do que foi a brincar
infantil". (segundo FREUD, in rev.
"MENTE & CÉREBRO", de junho/
2009, pag. 46)
E cheguei aos 70 anos vivo e bem, na medida do possível... vivo "graças a Deus" que, penso eu, decide o dia de nossa partida. Sendo assim, mesmo que você -- fumante inveterado ou "cachaceiro" incorrigível -- não cuide da saúde viverá até o momento de "subir para falar com o Criador". Ainda me é difícil entender a existência de uum Deus Todo-Poderoso cuidando de cada ser vivente (ou nos observando), porém segundo a religião dos hebreus é o que sucede. Nas anteriores, de egípcios, árabes, persas ou gregos, era da mesma forma. Diz a revista "MENTE & CÉREBRO", que me faz registrar estes conceitos... "enquanto houver Morte haverá Religião"! O fato é que desde que hindus "inventaram" a reencarnação (?!) -- que a religião de Moisés admitia e a Católica "eliminou" -- a quantidade de viventes que Jeovah ou Javeh terá que cuidar "aumentou" um bom número de milhões, contudo, ainda assim a conta não fecha: saímos dos 3, 10 ou 15 milhões de bípedes pensantes -- nem todos, embora tenham cérebro -- dos tempos bíblicos e chegamos aos 9 BILHÕES atuais... são corpos demais para ALMAS de menos A REENCARNAREM. É a "repetição" da fábula ou parábola (caso não seja fato, milagre) sobre os 5 pães e 5 peixinhos. Meu irmão questiona se Jesus os multiplicou... assados ou crus, à maneira dos "sushis" e sashimis".
Sempre gostei de CONTOS, embora não seja exatamente um leitor, e tinha curiosidade em entender como (ou porquê) surgiam. A leitura de 2 textos contíguos na citada revista esclareceu de vez todas as minhas dúvidas: saio de uma falsa premissa -- a da Escrita enquanto terapia, "remédio" para não enlouquecer -- para o que significa realmente minha ânsia em ESCREVER: a vontade DE BRINCAR que não tive, "preso" em barraco, em creche ou colégios desde que nasci. Na casa dos meus tios, não foi muito diferente, "isolado dentro de mim mesmo", vivendo quase sempre entre adultos.
Admiro demais a criança moderna, exercendo sua liberdade plenamente, INTEGRADA aos adultos a seu redor e sendo "quase um deles", CONTINUIDADE de seus pais, informa o texto. Fomos, nos anos 50/60 do século anterior, "meros robôs sem voz, vez nem vontades", MARIONETES, registrou em sentido depoimento meu colega de colégio Augusto Spisla.
BINGO ! Não tivemos infância, raramente se brincou naquela época... ESCREVER se torna no adulto (segundo Freud) "voltar a brincar" !
O Autor de "O Senhor dos Anéis" confirma o veredito freudiano e de Anna Freud, referindo-se aos contos infantis: "...a fantasia se constrói dentro de um universo no qual o criador submerge. (...) Ele constrói UM MUNDO SECUNDÁRIO no qual sua mente pode entrar". (pag. 51)
"A fantasia é herdeira e fundamento do brinquedo na infância. Quando a atividade de brincar cessa, a de fantasiar continua..." aifrmam os autores Diana & Mário Corso. (pag. 46) "A ficção dispões elementos para o uso da imaginação. (...) O uso que o adulto faz da ficção é similar. A ARTE leva-nos à experiência única de um estado de ALIENAÇÃO no qual acabamos nos encontrando, nos perdemos DA RAZÃO e da consciência para ganhar em consistência subjetiva.
A questão sobre o lugar a ser dado às nossas fantasias coloca-se para os analistas desde o nascimento da Psicanálise. Em 1908, Freud tentava entender de que fontes o escritor criativo retira seu material. (...) Desde então, a psicanálise vem se relacionando COM A FANTASIA de diversas formas. (pag. 48) Crianças recorrem à fantasia para ORGANIZAR o próprio mundo.... adultos fariam o mesmo, a partir de "livros, de filmes, peças de teatro e obras de arte que funcionam como SUPORTES psíquicos". Diria eu que uso (e abuso) DA ESCRITA com igual propósito ! "A imaginação nutre-se do material DE UM LUGAR que está dentro de cada um, mas QUE NOS TRANSCENDE"! (pag 49)
Os 2 prefaciadores de meus futuros livros (já em EBOOKs) -- ambos de minha Geração, os anos 1940/50 -- limitaram-se a um olhar literário, corretíssimo, de meus escritos. Por terem vivenciado as coisas da mesma forma que eu, podem não ter visto (ou ignoraram) o que o jovem Israel Gutemberg percebeu em quase todas as crônicas: um amor exacerbado ao Passado (?!), um discurso que recusa o Presente, quase o (re)nega... em suma, "VIVO" de memórias !
Talvez ele nem tenha sido tão claro, mas foi o que pretendeu dizer... E DISSE ! Aquilo me incomodou, sinto que ainda incomoda; "a Verdade dói", declaram os antigos ! Precisei conhecer a opinião deste "casal" de psicólogos para "me entender" e compreender o jovem gentilmente me apresentado pela amiga jornalista Regina Silva.
"Viver em outro Mundo" parece ser mal de família: conheci nos anos 60 meu primo Joãozinho, de uns 30 anos, "rabiscando" furiosamente o dia inteiro. Morreu de cirrose, por excesso de bebidas. Minha mãe viveu quase sempre "no Mundo da lua", vendo inimigos em toda parte e tentando nos proteger deles. Meu irmão gêmeo e eu, ao que parece, seguimos "no mesmo trajeto".
O texto na revista desvenda todos os mistérios: "o atual consumo, por adultos, de literatura e filmes infantis já foi visto como imaturidade, fuga da realidade e incapacidade de assumir responsabilidades". NÃO É MAIS ! "Adultos que hoje constituem famílias são filhos DE PAIS que foram mais participativos e, em geral, viveram infâncias MAIS PROLONGADAS e cultuadas do que ocorreu com GERAÇÕES ANTERIORES. Essas pessoas foram, por sua vez, famílias MAIS INCLUSIVAS em relação às crianças, ainda brincam e consomem ficção infantil". (pag. 49)
AÍ ESTÁ... mais claro do que isso é impossível ! Suponho que eu devo DESCULPAS ao jovem Israel Gutemberg (2 nomes poderosos), caso ele tenha se aborrecido com meus impertinentes "comentários" a sua excelente "Apresentação" do livro de crônicas "Maravilhosa Saudade", onde deprecio o Presente -- dele e do Mundo -- olhando tão-somente para o que "se foi". sombras & lembranças. Fecho este artigo com outra citação, a final, na revista:
"AS FANTASIAS -- tanto para uso pessoal quanto as de uso coletivo -- sob a forma de Arte, são um espaço de sustentação e elaboração do que em nós se expressa para ALÉM DA RAZÃO e da vontade. Por isso é que sempre precisamos DE HISTÓRIAS" !
"NATO" AZEVEDO (em 26/junho de 2023, 8,30hs)
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OBS: todos os GRIFOS vão por minha conta. As citações são do livro "FADAS NO DIVÃ", de Diana Lichtenstein Corso & Mário Corso (edit. ARTMED, 2006, SP?) e constam do extenso artigo "BRINCADEIRAS DE PALAVRAS", incluso na revista "MENTE & CÉREBRO, de junho/2009.