MEU PAI, O CARA

Eu e minha irmã brigamos. Uma tia comentou a briga, o filho dela disse a ela:

- Mãe, irmãos brigam mesmo.

Ela veio até nós e disse:

- Façam o possível para conviver bem.

Eu e minha irmã fizemos as pazes. Eu, nesta época, morava só numa casa numa cidade de Minas. Minha irmã resolveu e viajou de volta para onde morava. Eu notei que ela estava muito gorda. A ela eu não disse nada sobre isso. Talvez por delicadeza. Mas, veio meu irmão mais novo e disse:

- Sua irmã, a falsa magra, já se foi?

Eu respondi:

- Sim.

Minha tia também tinha viajado de volta ao seu lar. Minha tia para nós significava prestígio social. Porque ela ocupava um lugar ímpar no meio social mineiro. Claro, o lugar dela ela o conquistara com muito trabalho. Foi aí que meu irmão mais novo se lembrou de um músico baiano. O Gilberto Gil. Porque o marido de minha tia era baiano. E me perguntou:

- Você está sabendo?

- De que? - eu perguntei.

- O Gilberto Gil foi admitido entre os acadêmicos da ABL.

Eu me alegrei, pois sou fã das canções de Gilberto Gil. E no momento mesmo em que meu irmão falou do cantor, eu me lembrei de uma canção dele em que ele falava de Zeca, meu pai, comprou um volkswagen...

E falei para o meu irmão que nosso pai tinha comprado um fusca vermelho. Ele, meu irmão, entendeu o paralelo que fiz entre o cantor, agora imortal, e a lembrança que a canção do Gil evocou em mim.

Revelo agora a que veio essa matéria. tudo isso me lembrou de meu pai, Que morreu quando eu tinha catorze anos. E vivo aqui e mantenho uma doméstica que trabalha me ajudando. Esta doméstica depois que todos se foram, me disse:

- Sabe sua irmã gorda, ela briga com todos vocês.

E isso era verdade. Mas, voltei às lembranças de meu pai. Meu pai foi na minha vida o cara. Acredito que na vida da maioria dos meus contemporâneos o pai de cada um é o cara.