PATRONO – PAULO LEMINSKI
Tomar assento na Cadeira 01 deste novel Sodalício, como acadêmico fundador, é nobre e sublime, e mais ainda valioso é para mim reverenciar a poesia e prosa minimalistas. E para destaque desta nobreza é exaltar e imortalizar um dos mais importantes nomes da poesia minimalista e concreta, como base do concretismo brasileiro. Não é tarefa fácil descrever Paulo Leminski, hoje patrono da Cadeira 01, de que é titular este articulista.
Nesta monografia, uma breve nota biografia de Paulo Leminski e um pouco de sua obra, portanto, não esgotarei a pesquisa, que será aviventada ao logo da permanência acadêmica.
Paulo Leminski Filho foi poeta, escritor, tradutor e professor brasileiro. Dedicou a uma poesia sem compromisso, destacando-se com a obra “Catatau”, obra maldita marcada por exacerbado experimentalismo linguístico e narrativo. Nasceu em Curitiba, em 24 de agosto de 1944, e, faleceu em 07 de junho de 1989, em sua terra natal, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática, que o acompanhou por vários anos. Filho de Paulo Leminski, militar, de origem polonesa, e Áurea Pereira Mendes, de descendência africana.
Aos 12 anos, ingressou no Mosteiro de São Bento, na cidade de São Paulo/SP, onde estudou latim, teologia, filosofia e literatura clássica (1956). Em 1963, abandonou o Mosteiro, e, nesse mesmo ano, mudou-se para Belo Horizonte onde participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, quando conheceu Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos, criadores da Poesia Concreta.
Em 1964, publicou seu primeiro poema na revista “Invenção”, editada pelos concretistas. Ano em que assumiu o cargo de professor de História e Redação em cursinhos pré-vestibulares.
Publicava seus textos em revistas alternativas, antológicas do tempo marginal, na década de 1970, tais como “Muda”, “Código” e “Corpo Estranho”.
Em 1975, publicou seu livro “Catatau”, que o consagrou numa trajetória de “escritor maldito”. Um polêmico livro de prosa em que o experimentalismo atinge níveis pouco usuais, que ele, próprio, o classificou como mero romance-ideia. Diria aqui, hoje, como um espetáculo no aprofundamento de ideias. Entretanto, lançado numa época em que havia censura infundada e desmotivada.
“A obra (Catatau), uma ágil alegoria tropicalista, apresenta o filósofo francês René Descartes (“se penso, logo existo”) vivendo no Brasil holandês de Maurício de Nassau, no século XVII, fumando maconha e comparando o pensamento europeu à natureza do povo tropical. ”
Com a recepção dada a Catatau, que levou oito anos para concluir, Leminski jurou que jamais voltaria a escrever em prosa e, em 1980 publicou dois instigantes livros de poesia: “Polonaises” e “80 poemas”. Ambos herdeiros, na forma, dos melhores momentos da “geração mimeógrafo”.
Casado com a também poetisa Alice Ruiz, com duas filhas, passou a ganhar a vida em Curitiba como redator de publicidade, depois de ter sido jornalista e professor de Português e História. Tornou-se um dos mais destacados poetas brasileiros da segunda metade do século XX, inventando seu próprio jeito de escrever poesias, fazendo trocadilhos ou brincando com ditados populares.
Sua poesia também foi cantada por grupos e cantores da MPB, sobretudo, entre grupos na capital paranaense.
Na obra “Toda Poesia”, foram reunidos seus poemas, micro poemas, haicais e poemas visuais.
A meu pensar, Paulo Leminski é o supra sumo da literatura minimalista, dirigindo nossos olhares a seus trabalhos, resta aqui rendar vulto solene a este poeta e escritor, que nos legou um tesouro de preciosidades mínimas. Com orgulho e simplicidade, fica aqui imortalizado como poeta do mínimo literário.
POEMAS PARA SEREM REVERENCIADOS: -
Cesta feira
oxalá estejam limpas
as roupas brancas de sexta
as roupas brancas da cesta
oxalá teu dia de festa
cesta cheia
feito uma lua
toda feita de lua cheia
no branco
lindo
teu amor
teu ódio
tremeluzindo
se manifesta
tua pompa
tanta festa
tanta roupa
na cesta
cheia
de sexta
oxalá estejam limpas
as roupas brancas de sexta-feira
oxalá teu dia de festa
mesmo
na idade
de virar
eu mesmo
ainda
confundo
felicidade
com este
nervosismo
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro do meu centro
este poema me olha.
Pra que cara feia?
Na vida
Ninguém paga meia.
a impressão do teu
corpo no meu
mexeu
O poeta maximizou o poema visual com maestria.
Hai – cai: hi fi
Chove
na única
qu’houve.
Cavalo com guizos
sigo com os olhos
e me cavalizo
De espanto
espontânea oh
espantânea.
Manchete
CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META.
A partir do poema social de Paulo Leminski:
MERDA E OURO
(Paulo Leminski)
Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.
Construí o soneto abaixo:
MANIFESTO SOCIAL
Uns defecam cheiroso, outros, odor.
Entre humanos esta ufania impera,
porém, não sucumbe o esperado amor,
eis o princípio da mais remota era.
É odioso defecar terror
num tempo que se clama e que se espera
o beneplácito do Salvador,
lição sensível que ao universo gera.
Doutos senhores ditam regramento,
com seus discursos, extrai-se excremento.
No púlpito, escorgita fé vil,
com a doutrina ignóbil e servil.
Libertam-nos com a poética aberta,
erudição e chulo, na hora certa ...