NA LIVRARIA

Peguei um táxi, já não me lembro em que parte da cidade. Dei o endereço, o motorista rodou e em pouco eu estava na livraria. Paguei e desembarquei. Dei alguns passos e entrei na livraria. Tudo cheirava à literatura. O balconista já me conhecia, eu tinha feito camaradagem com ele. Claro, eu vivia frequentando a livraria.

Pedi e ele me auxiliou a chegar perto das estantes minhas preferidas. E ali fiquei mirando a lombada dos livros que estavam à venda. Não estava acontecendo nada de mais, eu tinha ido até ali para comprar livros mesmo.

E só para não dizer que depois de instalado frente às estantes, eu não disse nada, eu disse:

- Você se lesse também escreveria.

O balconista riu, sabia que eu estava falando a verdade. Tanto quanto eu sabia que ele tinha que trabalhar. Ele não se ofendeu pois sabia que eu era um aposentado. E pude me sentir à vontade.

Mas, é claro, quem lê sente a comichão inesperada de escrever. Assim nasce o literato, já que eu e o balconista somos homens. Se fossemos mulheres eu diria literatas. E se o leitor acha que eu estou falando tolice, verifique em algum lugar a quantidade de favelados escritores. Favelados, eu digo, para localizá-los bem, porque são gente da comunidade, que é como se chamam agora o lugar onde habitam. E devemos elogiá-los com sinceridade. Estes escritores muitas vezes fornecem material que inspira os chamados grandes autores. E eu não estou discutindo o mérito dos nomes artísticos.

Vejam bem que só por estar ali na livraria já estou falando de literatura como quem dá uma entrevista a um jornalista amigo.

E existem jornalistas amigos de escritores. Assim como existem balconistas que foram meus amigos. Dirão as más linguas que eu tive a coragem de ir à livraria e que minha imaginação então viajou.

Respondo:

- Viajou eu, minha imaginação e a transcrição das palavras para o papel.

Indo à livraria imaginei tudo isso, comprei rápido uns livros, cheguei rápido em casa e agora acabo de escrever aqui.

23/04/2023.