CONSIDERAÇÕES SOBRE MACHADO

CONSIDERAÇÕES SOBRE MACHADO

Mal findei meus "palpites" sobre livros do imortal escritor e o Destino me põe nas mãos bela revista "LÍNGUA PORTUGUESA - Conhecimento Prático" (edit. ESCALA, SP, 2013 (?), pags 61-62), na qual o pesquisador ALEX SANDER DE OLIVEIRA exibe as semelhanças de trechos do conto "Teoria do Medalhão" com passagens de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", elencando citações de outros estudiosos em livros de 1955 até 2010, que dissecam os escritos do "Bruxo", sem chegar a um consenso, a um parecer coletivo e definitivo.

("NATO" AZEVEDO - março/2023) 

Exponho aqui trechos do capítulo 3: 

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3. INTRATEXTUALIDADE E MOMENTO LITERÁRIO 

(...) A intratextualidade presente nas duas obras demonstra o que tem sido uma tendência na análise daqueles que têm construído para a formação recente da fortuna crítica machadiana. Se antes a obra era entendida em duas fases, tendo em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" um divisor de águas entre os estilos romântico e realista, já há algum tempo cresce a tendência a que se entenda a obra de Machado de Assis como única e que a retomada de esquemas narrativos e de personagens mostra o crescimento vigoroso da obra sobre o tempo. 

Coutinho (1960, p. 16) justifica a partir de argumentos atribuídos à subjetividade do autor como "a consciência da inferioridade física pela doença e constituição psicológica semi-anormal"; que desencadeou uma crise de existência, a mudança do estilo do escritor. 

"Há diferenças e semelhanças entre as duas fases. Em ambas, o gosto e a propensão à análise dos costumes, O humorismo aparece nas duas, embora na primeira não associado ao pessimismo, sem o travo amargo e mórbido, sem a melancolia de finado, sem o desencanto que a descoberta da maldade humana e o sofrimento físico e moral lhe dariam depois". (COUTINHO, 1960, p. 17) 

Embora ainda separe e justifique a obra machadiana em duas fases, Coutinho (1960) aponta a construção progressiva de estilo e de apuro técnico de Machado de Assis.

"O trabalho de conscientização técnica na arte de Machado de Assis, processando lentamente, é perfeitamente perceptível se observarmos a sua evolução segundo a cronologia de suas publicações. Sobretudo, ela se evidencia no conto, que foi o grande instrumento que o levou ao domínio de sua método de ficção". (COUTINHO, 1960, p. 19) 

Santiago (2010) defende a atualização da fortuna crítica machadiana entendendo sua obra como um todo progressivo: 

"Já é tempo de se começar a compreender a obra de Machado de Assis como um todo coerente e organizado, percebendo que à medida que seus textos se sucedem cronologicamente e se desarticulam e rearticulam sob forma de estruturas diferentes, mais complexas e mais sofisticadas. Certa crítica que se faz À MONOTONIA DA OBRA de Machado, À REPETIÇÃO em seus romances e contos de certos temas e episódios, ocasionando desgaste emocional por parte do leitor (ou do crítico impressionista), tem de ser também urgentemente revista". (SANTIAGO, 2010, p. 27)  

Meyer (2005) é citado por Santiago (2010) como exemplo desse tipo de crítica que já não deveria continuar tendo trânsito:

"Por mais ágil que pareça, Machado não consegue alçar vôo além dos seus horizontes familiares. Falta portanto extensão e acrescentamento humano ao âmbito de sua obra, tão monocórdia em seu conjunto e tão incapaz de abarcar, como obra mais arejada de grandes criadores de ficção, a riqueza complexa e trágica do bicho da terra chamado Homem, nas suas manifestações imprevisíveis. A melhor prova disso é que ele ganha muito em ser lido aos trechos, ou a largos intervalos de leitura, para que o esquecimento relativo ajude a sentir, não a inércia da repetição e os lado mais fracos, mas a graça original dos melhores momentos. (MEYER, 2005, p. 141) 

Santiago (2010) contesta este trecho de Meyer (2005) entendendo as repetições de estrutura como parte da essência da obra, refutando a validade deste tipo de crítica.

"A busca -- seja da originalidade a cada passo, seja da excitação intelectual em base puramente emocional, a leitura dirigida para "os melhores momentos" do romancista -- dificultou a descoberta daquela que talvez seja a qualidade essencial de Machado de Assis: a busca lenta e medida do esforço criador em favor de uma profundidade que não é criada pelo talento inato, mas pelo exercício consciente e duplo, da imaginação e dos meios de expressão de que dispõem todo e qualquer romancista". (SANTIAGO, 2010, p. 28) 

Bosi (1999, p. 92) fala do momento literário de Machado de Assis quando são lançadas as obras que aqui nos detemos. É quando "cresce a suspeita de que o engano é necessidade" e que universalmente "aparência é essência". A partir das "Memórias Póstumas" e dos contos enfeixados nos "Papéis Avulsos" importa-lhe cunhar a fórmula sinuosa que esconda (mas não de todo) a contradição entre parecer e ser, entre a máscara e o desejo, entre o rito claro e público e a corrente escusa da vida interior. (BOSI, 1999, p. 84)

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