O POETA

Eu ia passando ali na esquina, gritaram para mim:

- Ô, poeta!

Fiquei pensando, muita gente, na verdade, sabe é pouco das coisas. Pois esta gente costuma dizer que o difícil é ser poeta de

verdade. É uma gente esquisita, que diz também que para ser poeta, é preciso ser reconhecido poeta. Pois é, eu ia passando ali na esquina e gritaram para mim:

- Ô, poeta!

Vivi aquele instante o máximo que pude. Cheguei em casa com a alma em chamas. Peguei papel e lápis e imitei sem vergonha nenhuma quem eu quis. Me saíram uns versos trôpegos. Eu os li, muito mais que uma vez, e resolvi não corrígi-los. Guardei aqueles rabiscos e enxuguei algumas lágrimas. Lágrimas de felicidade, pois o sujeito que me reconheceu poeta, eu nunca mais o vi, mas os versos que escrevi naquele momento remeti para uma revista de literatura.

Eu não sei o que movia o espírito dos editores daquela publicação.

Reconhecimento, dizem os mais abalizados críticos, começa em casa. E eu me supus por um instante um menino de rua.

Aqui paro de escrever sobre mim poeta. E me ponho a pensar em quantos meninos de rua, sentimentais como eu, dotados de inspiração, não poderiam ser hoje poetas. Ou seja, literatos.

Espero que não me venham com aquela conversa de que não falei de literatura. Falei de literatura o tempo todo em que escrevi isto.

Aristides Dornas Júnior
Enviado por Aristides Dornas Júnior em 23/03/2023
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