"COINCIDÊNCIAS" MACHADIANAS
"COINCIDÊNCIAS" MACHADIANAS
"Machado de Assis é seguramente
um dos MAIORES ESCRITORES
da Língua Portuguesa de todos os
tempos" - RODOLFO SANTIAGO,
(comentários finais de "Helena",
edit. PRAZER DE LER, PE/2014)
O "Bruxo do Cosme Velho" é unanimidade nacional e seria eu muito sonso se pretendesse desqualificar seu conceito... o que me proponho é esclarecer porque não gostava de ler Machado de Assis, embora todos insistissem que era ele O MELHOR ! Pois bem, só agora (re)conheço "um outro Assis", no caso realmente melhor do que os que lera até então. O mesmo romance que li na infância, "HELENA" -- e do qual pouco lembrava -- me parece hoje excelente, me surge agora como a melhor obra dele (entre as que li), principalmente os 30 ou 40 contos, dos quais só me agradaram meia dúzia, se tanto. Mas ele foi também poeta... e parnasiano, o que o recomenda.
O romance "Helena" quase não tem ROMANCE -- me parece isso uma característica dos escritos machadianos -- pois se descobrem irmãos, o casal da estória, contudo tem um padre pelo meio. Oh, santa coincidência... há sempre um sacerdote em suas obras e, pior, as "mocinhas" e heroínas sempre morrem. As mães, pais ou madrastas delas todas também. Machado é um "assassino" frio e impiedoso... dizem seus analisadores e biógrafos que seria isso o tal de REALISMO, que o famoso escritor teria inaugurado no Brasil.
Nenhuma surpresa aí: em uma Nação muito religiosa, nos 1800, havia padres em todos os lugares e momentos da Vida e, claro, a Morte é o destino final de todos nós. Portanto, por conclusão lógica, Machado não seria a leitura ideal para infantes, para quem se inicia nas Letras (como leitor), ainda que seja tido e havido como o melhor. Leio com prazer um Alexandre Dumas ou José de Alencar, já o aclamado Assis não me traz a mesma sensação, embora "Helena" me pareça ser seu melhor momento. Me explica isso quem dele "entende" mais do que eu:
"Sua prosa costuma ser dividida EM 2 FASES: uma fase romântica e uma fase realista, sendo esta última considerada a de grande expressão para a Literatura Brasileira" (...) "...seus textos são considerados verdadeiros DOCUMENTOS HUMANOS e de PAISAGENS SOCIAIS do final do século 19 e início do século 20". (RODOLFO SANTIAGO, idem, ibidem, pag. 191)
Talvez esteja aí o cerne da questão: a imensa maioria que lê está pouco preocupada com o "perfil psicológico" de cada personagem e essas descrições são úteis na literatura policial, em relatos de crime.
As "semelhanças" entre seus romances não terminam: há sempre uma carta ou testamento, que muda quase tudo na estória... e também um amigo "traíra", recurso comum no Mundo do romance e FATO na vida real que nos cerca e oprime (ou deprime).
Continuo não sendo um fã de Machado de Assis, todavia já lhe reconheço alguns méritos, que nem isso eu fazia. As obras "Casa Velha" e "Helena" -- da primeira "fase" dele, que recomendo -- me fizeram mudar de idéia, embora permaneça arredio a seus contos. Tenho a sensação de "enrolação", de escrita de um sujeito que, sem ter um tema de peso, decide "nos levar na conversa"... e até consegue, mas não como "exercício de genialidade", a meu ver. "Missa do Galo" e o badalado "A Cartomante" estão nesse quesito, nesta "lista"... existem vários outros, Machado "se repete" em fórmulas já "gastas" anteriormente.
"É o MAIOR ESCRITOR do Brasil"... quem sou eu para contradizer a opinião de um país inteiro ?! Pelo menos Assis, fazendo o elogio fúnebre de seu amigo José de Alencar (em dez./1877), também o reconhece gigante nas Letras. Menos mal ! De minha parte, Machado não conseguiu me convencer... ainda ! E daí ? Quer que eu faça o quê ?!
"NATO" AZEVEDO (em 12/março 2023, 6hs)
OBS: o amor entre "irmãos" ou o de dois amigos pela mesma donzela é coisa comum nos escritos do Autor... e todas morrem. Haja cemitério !
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(trecho do artigo "CONSIDERAÇÕES SOBRE MACHADO", postado por mim aqui, em 31/março 2023)
Santiago (2010) defende a atualização da fortuna crítica machadiana entendendo sua obra como um todo progressivo:
"Já é tempo de se começar a compreender a obra de Machado de Assis como um todo coerente e organizado, percebendo que à medida que seus textos se sucedem cronologicamente e se desarticulam e rearticulam sob forma de estruturas diferentes, mais complexas e mais sofisticadas. Certa crítica que se faz À MONOTONIA DA OBRA de Machado, À REPETIÇÃO em seus romances e contos de certos temas e episódios, ocasionando desgaste emocional por parte do leitor (ou do crítico impressionista), tem de ser também urgentemente revista". (SANTIAGO, 2010, p. 27)
Meyer (2005) é citado por Santiago (2010) como exemplo desse tipo de crítica que já não deveria continuar tendo trânsito:
"Por mais ágil que pareça, Machado não consegue alçar vôo além dos seus horizontes familiares. Falta portanto extensão e acrescentamento humano ao âmbito de sua obra, tão monocórdia em seu conjunto e tão incapaz de abarcar, como obra mais arejada de grandes criadores de ficção, a riqueza complexa e trágica do bicho da terra chamado Homem, nas suas manifestações imprevisíveis. A melhor prova disso é que ele ganha muito em ser lido aos trechos, ou a largos intervalos de leitura, para que o esquecimento relativo ajude a sentir, não a inércia da repetição e os lado mais fracos, mas a graça original dos melhores momentos. (MEYER, 2005, p. 141)
Santiago (2010) contesta este trecho de Meyer (2005) entendendo as repetições de estrutura como parte da essência da obra, refutando a validade deste tipo de crítica. (etc, CONTINUA...)