Origem da Ficção Brasileira: Romance e Conto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: FICÇÃO NA LITERATURA NACIONAL
ALUNO: CLÁUDIO CARVALHO FERNANDES
ORIGEM DA NARRATIVA DE FICÇÃO
NA LITERATURA NACIONAL
UFPI
Teresina – 2001
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: FICÇÃO NA LITERATURA NACIONAL
ALUNO: CLÁUDIO CARVALHO FERNANDES
ORIGEM DA NARRATIVA DE FICÇÃO
NA LITERATURA NACIONAL
UFPI
Teresina – 2001
INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata das origens da narrativa de ficção na literatura brasileira em seu aspecto diacrônico (evolutivo), pretendendo fornecer informações sobre as espécies literárias CONTO e ROMANCE, através do estudo conexo de diversos autores acerca das primeiras obras representativas de tal ficção, identificando-as e evidenciando suas características específicas.
Divide-se tal estudo em duas partes: na primeira, dá-se ênfase ao romance brasileiro em seus primórdios, considerando-se as análises pertinentes de renomados autores sobre a história da literatura brasileira. Em seguida, aborda-se primariamente a origem do conto brasileiro e suas raízes históricas dentro do aspecto evolutivo da ficção nacional.
Este estudo constou do levantamento bibliográfico disponível, selecionando-se o tema dentre tal bibliografia e confrontando-se as perspectivas críticas dos autores envolvidos, além de aportes suplementares diversos, como pesquisa na internet e anotações em sala de aulas.
A importância de se estudar as origens da ficção na literatura nacional encontra-se patente no desenvolvimento dos fatos cuja seqüência lhe cabe retraçar, renovando incessantemente, e ampliando, o sentido da evolução cultural, ao tempo em que premune contra alguns erros de julgamento menos compatíveis com uma sã apreciação das coisas.
ORIGEM DO ROMANCE BRASILEIRO
A origem do romance nacional tem sido objeto de muita discussão, com orientações diversas da crítica, historicista ou estética, e mesmo de correntes outras dentro do complexo cultural brasileiro.
O próprio governo do Brasil, em uma de suas páginas na internet (www.mre.gov.br/ndsg/textos/litbras-p.htm), situa a questão do primeiro romance brasileiro sob dois pontos de vista. Inicialmente, “ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance brasileiro foi ‘O filho do pescador’, publicado em 1843, de autoria de Teixeira de Souza (1812-1881). Mas se tratava de um romance sentimentalóide, de trama confusa e que não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria na literatura brasileira”. Considerando a razão apontada e “sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor, justamente por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às suas expectativas, convencionou-se adotar o romance ‘A moreninha’, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro”.
Querelas à parte, o tema admite, no mínimo, como precursores cronológicos, algumas publicações anteriores mesmo a “O Filho do Pescador”. A primeira referência seria, então, a “História do Predestinado Peregrino e de seu irmão Precito”, livrinho do padre Alexandre de Gusmão, aparecido em 1682, mas que, embora escrito no Brasil, nada oferecia de brasileiro, já que a peregrinação dos dois irmãos no suposto romance dá-se em época e locais estranhos à realidade nacional.
Já o “Compêndio Narrativo do Peregrino da América”, de Nuno Marques Pereira, apresenta em seu conteúdo elementos identificadores do contexto brasileiro, apesar de publicado em Lisboa, em 1728, sendo considerado por Afrânio Peixoto como o nosso primeiro romance. Dele, diz José Veríssimo que “não era romance ou novela, mas em prosa e impressa era a primeira obra de imaginação escrita por natural da terra. E dizia de cousas desta... com referências aos seus costumes, notações de sua vida, alusões aos seus moradores”.
Também há pesquisadores que apontam como primeiro romance brasileiro as “Aventuras de Diófanes”, obra que foi publicada em Lisboa, em 1752, e cuja autoria manteve-se sob o pseudônimo de Dorotéia Engrássia Tavareda Dalmira, alterando-se o título, na 2ª edição, para “Aventuras de Diófanes imitando o sapientíssimo Fénelon na sua viagem de Telêmaco”, uma vez que o título original era demasiadamente extenso: “Máximas de Virtude e Formosura, com que Diófanes, Climinéia e Hemirema, Príncipes de Tebas, venceram os mais apertados lances da desgraça, Oferecidas à Princesa Nossa Senhora a Senhora D. Maria Francisca Isabel Josefa Antonia Gertrudes Rita Joana, por D. Dorotéia Engrássia Tavareda Dalmira”.
Ainda, é possível que a primeira tentativa de romance brasileiro tenha sido a história picaresca “Obras do Diabinho” da mão furada, de autoria atribuída a Antonio José da Silva (o Judeu), nascido no Brasil (1705) e morto em Portugal (1739). Composta de cinco capítulos, tal obra apresenta problemas quanto à incerteza de sua autoria e ao brasileirismo do autor, que deixou o Brasil aos oito anos e nunca mais voltou.
De classificação dúbia, entre novela e romance, a obra “Statira, e Zoroastes”, publicada em 1826, por autoria de Lucas José de Alvarenga, contava apenas 58 páginas e nada inovou nos princípios da ficção alegórica, embora se tenha acreditado ser o primeiro livro do gênero publicado no Brasil.
Em 1839, João Manuel Pereira da Silva publicou “O aniversário de D. Miguel, em 1828”, que o próprio autor classificava como romance histórico. Também veio a público, em tal data, a obra “Religião, Amor e Pátria”, do autor já citado, classificada ainda por este como novela. No mesmo ano de 1839 surgiu outro caso de obra tida como romance (ou mais um de seus precursores): “Os Assassinos Misteriosos, ou a Paixão dos Diamantes”, de Justiniano José da Rocha, com 29 páginas e primeiramente publicado em folhetins no Jornal do Comércio.
Acerca da obra romanceada “Crônica do Descobrimento do Brasil”, de Francisco Adolfo de Varnhager, publicada em 1840, a crítica aponta-lhe deficiências de ordem estética quanto à sua concepção e forma, negando-lhe a caracterização de romance.
Publicada somente em 1852, mas contendo trabalhos anteriores (“As duas órfãs” de 1841; Januário Garcia, ou As sete orelhas, de 1832, etc), a obra “Romances e Novelas”, de Joaquim Norberto de Souza e Silva, contribui para a evolução das espécies narrativas na literatura nacional ao já apresentar uma distinção entre novela e romance.
OBRAS
HISTÓRIA DO PREDESTINADO PEREGRINO E SEU IRMÃO PRECITO
Obra alegórica e doutrinária, a “História do Predestinado Peregrino e seu irmão Precito” visa à edificação do leitor através da doutrina cristã exposta alegoricamente, consistindo numa parábola: dois irmãos, Predestinado e Precito, abandonam o Egito, ou seja, o mundo, em peregrinação, cada qual num caminho: o Predestinado passa por Belém, Nazaré, Betânia, Cafarnaum, Bethel e finalmente chega a Jerusalém, que representa a Bem-Aventurança; já o irmão Precito segue por Bethavém, Samaria, Bethorón, Eden, Babel, até alcançar a Babilônia, término de sua viagem, significando o Inferno.
O livro de Alexandre de Gusmão insere-se numa linhagem que remonta proximamente à Idade Média. Massaud Moisés diz que “a obra se enquadra na categoria de novela: novela alegórica, porquanto a ação se estrutura em células dramáticas subseqüentes e utiliza alegorias em vez de personagens ‘reais’. Os sucessivos episódios ou células dramáticas que identificam a novela são substituídos pelos passos dos dois irmãos”.
O texto de “História do Predestinado Peregrino e seu irmão Precito” é barroco na concepção e na linguagem, direcionado para chegar fácil e diretamente a qualquer inteligência, mesmo a menos favorecida, utilizando-se de um estilo descritivo, límpido, unívoco.
A doutrina da Bíblia e outros dogmas cristãos são transmitidos extensa e minuciosamente, em forma de alegoria narrativa, e a ficção se transforma em literatura engajada, a favor do pensamento católico.
Tal vínculo ideológico, segundo ainda Massaud Moisés, “define-lhe com precisão os limites e a importância: primeira novela escrita no Brasil, ostenta o mérito da precedência e o de vazar-se num estilo que comprova, uma vez mais, o nível alcançado pelos prosadores da Colônia em relação aos da Metrópole. Circunscrita, porém, a visualizar alegoricamente a condição humana em geral, em momento algum espelha a nossa realidade histórica ou geográfica. Obra de um asceta voltado para a contemplação das esferas transcendentais e para a educação do leitor, a valer-se da ficção novelesca apenas como instrumento de comunicação, insere-se mais no âmbito da história da cultura que da atividade literária”.
COMPÊNDIO NARRATIVO DO PEREGRINO DA AMÉRICA
O título completo do livro é “Compêndio Narrativo do Peregrino da América, em que se tratam vários discursos espirituais, e morais, com muitas advertências e documentos contra os abusos, que se acham introduzidos pela malícia diabólica no Estado do Brasil”.
Também esta obra é classificada por Massaud Moisés como sendo novela e não romance ou outra espécie narrativa. Após referenciar dúvidas quanto à nacionalidade do autor da obra, o estudioso cita Varnhagen e José Leite de Vasconcelos na qualificação do livro de Nuno Marques Pereira e diz que, “efetivamente, o Compêndio movimenta-se em dois eixos: um, horizontal, inerente à novela, e outro, vertical, em que se condensariam os ingredientes que, à falta de rubrica geral mais específica, denominaríamos doutrinários”. De tal modo, a obra partilharia do plano da novela, por sua estrutura externa, e, por seu conteúdo, da prosa moralista. Ainda segundo Massaud Moisés, “O Compêndio seria, pois, novela alegórica, ou alegoria novelesca”.
A obra de Nuno Marques Pereira divide-se em duas partes, a primeira contendo 28 capítulos e a segunda com 22 capítulos, tratando-se de uma longa alegoria dialogada, ilustrando a prosa narrativa barroca. As duas únicas “personagens” do livro são o Peregrino e o Ancião, que contam casos da terra. Na obra, a paisagem que serve de fundo aos diálogos é um misto de realismo e alegoria, pois ao lado de indicações topográficas muito precisas, ressurge inteira a simbologia medieval.
A partir do segundo capítulo, a obra segue numa sucessão de unidades narrativas que, como qualquer novela, constituem autênticas células dramáticas linearmente encadeadas, em que o narrador funciona como o elo de aglutinação entre os vários núcleos dramáticos.
Finalizando sua análise sobre o livro de Nuno Marques , Massaud Moisés diz que o Compêndio, colocado no limiar entre o Barroco e o racionalismo iluminista, “identifica-se, pela estrutura, como novela alegórica, e pela substância e intenção, como obra de catequese e reforma dos costumes, à luz da Igreja Católica, espécie de vade-mecum para o colono: Nuno Marques pretendia oferecer ao leitor um livro de doutrina e de práticas correspondentes, a que não fossem alheias as regras de bem viver, nos vários níveis, incluindo a alimentação, o uso de drogas, as relações sexuais, os penteados, etc... fora de dúvida, porém que o Compêndio teria causado sensação e influência, se considerarmos as várias edições que teve em poucos anos” (cinco, em menos de quatro décadas).
AS AVENTURAS DE DIÓFANES
Tal livro teve como modelo as “Aventuras de Telêmaco”, de Fénelon, obra da literatura clássica. Teria sido escrita por Teresa Margarida da Silva e Orta e, a rigor, não pertenceria à literatura brasileira, apesar de sua suposta autora ter sido chamada “precursora do romance brasileiro”, por Tristão de Ataíde, em “O Romance Brasileiro”.
A objeção quanto ao vínculo da possível autora à literatura nacional deve-se ao fato de que Teresa Margarida foi muito pequena ainda para Portugal, onde recebeu esmerada educação clássica e de onde nunca mais regressou. O seu abrasileirismo seria, então, o ponto básico para tal posicionamento crítico: o livro não faz qualquer alusão ao Brasil, com sua ação decorrendo na antiguidade grega.
Essa obra, como suposto romance, não difere muito do “Compêndio Narrativo”, pois o traço moralista também nele é profundo e, supondo tratar-se sua autoria de Teresa Margarida, Tristão de Ataíde vê nela uma das mulheres mais brilhantes de seu tempo, precursora do romance social e das idéias mais avançadas da época.
OBRAS DO DIABINHO DA MÃO FURADA
Sabe-se que seu suposto autor, Antonio José da Silva (o Judeu), nasceu no Rio de Janeiro, em 1705, e morreu executado num ato de fé em 1739, após processo inquisitorial. Ele foi um grande animador de espetáculos no Teatro do Bairro Alto em Lisboa, para os quais escrevia as peças, demonstrando talento na realização da síntese entre comédia espanhola e melodrama italiano, bem ao gosto português de então.
O CONTO BRASILEIRO: PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES
Tratando da evolução do conto no Brasil, Sílvio Romero cita, no livro História da Literatura Brasileira, como primeiras manifestações, os contos populares e a literatura de cordel, no período que ele chama de precursor (época colonial). Posteriormente, na fase de início direto com o Romantismo (1840-1856), teriam surgido obras que consolidariam o conto como forma literária no contexto do Brasil.
Tais contos populares pertencem primeiramente à literatura oral, apesar de seu freqüente conteúdo filosófico, o profundo simbolismo humano, a malícia e o imprevisto de sua finalidade deliberadamente moralizadora.
Para Edgar Cavalheiro, teria sido Norberto de Sousa e Silva o pai do conto brasileiro, ao compor a narrativa “As Duas Órfãs”, em 1841.
Os trabalhos de pesquisa efetuados por Barbosa Lima Sobrinho nas coleções de periódicos da Biblioteca Nacional apontam para o fato de que, a partir de 1836, foram numerosas as produções, aparecidas na imprensa cotidiana, de obras que, se não de contos verdadeiros, muito próximas de tal, intermediárias do conto e da crônica, pela sua feição de narrativa, tendendo a despertar o interesse do leitor da época, já acostumado à publicação de folhetins traduzidos de revistas e jornais franceses e ingleses, muito em voga na década de 1830-40.
Para Barbosa Lima, o conto se divulgou no Brasil “como um gênero autônomo, no período de influência romântica. Seus primeiros escritores foram os melhores jornalistas da época, Justiniano José da Rocha, Pereira da Silva, Josino Nascimento Silva, Firmino Rodrigues da Silva, Francisco de Paula Brito, Vicente Pereira de Carvalho Guimarães, Martins Pena, João José de Sousa e Silva Rio. Esses é que foram, efetivamente, os precursores do conto no Brasil”, embora não fossem, a rigor, vocações espontâneas, assemelhando-se mais suas obras a de jornalistas que, habituados com os modelos europeus, interessavam-se em transportar para o Brasil um tipo de ficção, que estava sendo um dos fatores de êxito dos periódicos literários ou políticos da Europa.
Assim, a razão de tais produções precursoras do conto no Brasil seria antes jornalística do que propriamente literária, segundo ainda Barbosa Lima Sobrinho.
Um desses precursores, ainda que numa forma intermediária entre a crônica e o conto, seria “A Caixa e o Tinteiro”, que Justiniano José da Rocha publicou em seu jornal O Cronista, em 26 de novembro de 1836. Com características mais aperfeiçoadas, publicou-se também no mesmo jornal, em 11 de janeiro de 1838, o escrito “”Um Sonho”, com as iniciais do mesmo autor.
Os autores especializados como ficcionistas apareceram depois dos jornalistas já citados. Dentre muitos outros, “difíceis de identificar, através das iniciais com que se ocultavam, numa atividade literária possivelmente efêmera ou transitória”, destacam-se os nomes de Joaquim Norberto de Sousa e Silva e Carlos Emílio Arder.
Segundo Barbosa Lima Sobrinho, o cultivo da ficção teria significação maior a partir de 1840, por ser, com a poesia e o teatro, “a manifestação mais ajustável ao papel que a imaginação deveria desempenhar na fase romântica”.
Mas o conto brasileiro, como expressão verdadeiramente literária, viria da segunda fase do romantismo, com as narrações de cunho fantástico da Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, apesar de o estilo e a inspiração desse livro de um poeta exacerbadamente romântico nada terem a ver com o Brasil, por sua influência direta de Musset e Byron. O estudioso Afrânio Coutinho diz que “a importância desse livro decorre de que as diversas histórias que o compõem, algumas de perene beleza literária, como o conto de Bertram, obedeciam já aos requisitos duma composição depurada, de plano definido e proporções equilibradas, a despeito da delirante concepção das suas personagens e de suas situações em permanente paroxismo”.
O conto “A Dansa dos Ossos”, de Bernardo Guimarães, pode ser considerado o precursor de toda a literatura regional do gênero, sob a marca incipiente do realismo brasileiro, caracterizando-se pela fluência e movimentação da narrativa, além do despojamento do estilo, bem dentro da linguagem coloquial do interior brasileiro.
Depois, vale citar ainda o paulista Valdomiro Silveira e o também mineiro Afonso Arinos, além de Lúcio de Mendonça que, embora não se dedicando exclusivamente ao regionalismo, escreveu pelo menos duas obras-primas incluídas em Esboços e Perfis (1889), os contos “João Mandi” e “Coração de Caipira”.
Mas o grande nome, desde os começos do conto brasileiro, tanto cronologicamente como pela sua elevada dimensão artística, é Machado de Assis que, como disse Alberto de Oliveira, em 1922, no prefácio da primeira antologia do conto nacional, se não foi o iniciador do conto literário, firmou-o, dando-lhe trato que nenhum outro autor anteriormente lhe havia dado, “e feição nova e característica com o interesse dos temas e alinho e cuidado do estilo”. Tanto pela temática como pela técnica ou pelo estilo, Machado de Assis foi o melhor autor do gênero, desde as suas primeiras produções, a partir de 1860.
O mestre da ironia e do amargo humorismo sem piedade começou a escrever contos ainda preso aos moldes românticos, com os Contos Fluminenses (1870) e Histórias da Meia Noite (1873), aperfeiçoando-se cada vez mais até a publicação de Papéis Avulsos (1882), já com o domínio perfeito do gênero.
Em pouco mais de dez anos, Machado de Assis ofereceu ao público cinco coleções de contos, com alguns destes revelando uma evidente preferência por uma espécie de literatura de “conto fantástico”, elemento de tanta importância indireta na evolução do conto brasileiro, pela fixação primordial de alguns dos seus fatores preponderantes, em especial quanto à forma, apresentação das personagens, exposição dos episódios e preparação do clímax, sendo ainda digno de reparo o fator de transição representado pela crônica de costumes, na sua forma de relatos de acontecimentos atuais em que o autor, com o toque da sua arte literária, fazia com que fosse tomando forma definitiva o genuíno conto brasileiro.
Machado de Assis firmou predileção por tal tipo de composição, sendo o fixador das principais diretrizes do conto brasileiro, a vigorarem durante meio século, pelo menos. Foi, incontestavelmente, como contista que Machado de Assis criou as suas obras-primas, sobrelevando-se em nossa produção dessa espécie, embora não se despreze a contribuição dos demais contistas brasileiros, tanto os seus contemporâneos como aqueles que se lhe seguiram.
BIBLIOGRAFIA
COUTINHO, Afrânio. Evolução do Conto. In: A Literatura no Brasil. Volume VI. Editorial Sul Americana S.A. Rio de Janeiro, 1971.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. 7ª edição. Editora Distribuidora de Livros Escolares Ltda. RJ-Guanabara, 1975.
http://www.mre.gov.br/ndsg/textos/litbras-p.htm
LINHARES, Temístocles. História Crítica do Romance Brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. Volume I. 4ª edição. São Paulo: Cultrix, 1997.