Estradas de ferro

Índice

Capítulo primeiro

Estrada de Ferro Nazaré

Malha férrea, 8

Maragogipe, 15

Nazaré, 17

Santo Antônio de Jesus, 19

Varzedo, 20

São Miguel das Matas, 20

Amargosa, 22

Laje, 23

Mutuípe, 24

Jiquiriçá, 26

Ubaíra, 27

Santa Inês, 29

Itaquara, 29

Jaguaquara, 30

Jequié, 47

Capítulo segundo

Ferrovia Madeira-Mamoré

Dados preliminares, 50

Integração do Acre, 54

Capítulo terceiro

Rede Férrea Federal

Privatização de ferrovias, 61

Imbituba, 64

São Francisco do Sul, 68

Mafra, 73

Estrada de Ferro São Paulo- Rio Grande do Sul

Preliminares, 75

Porto União, 78

Matos Costa, 80

Calmon, 80

Caçador, 81

Videira, 84

Pinheiro Preto, 85

Piratuba, 86

Elementos destacados

Percival Farquhar, 87

João Xavier Dubois, 89

Zeca Vacariano, 90

Guerra do Contestado, 92

Atração turística, 95

Reativar ferrovias, 96

Capítulo quarto

Ferrovia Norte-Sul

Presidente do Clube de Engenharia, 99

Fase inicial, 100

Barcarena, 103

Açailândia, 104

A corrupção corrói, 105

Itaqui, 110

Na gestão Michel Temer, 111

Palmas, 114

Anápolis, 115

Na gestão Jair Bolsonaro, 118

Ilhéus, 125

Centro de Excelência de Tecnologia Ferroviária, 129

Chapecó, 131

Ferrovia de Integração Centro-Oeste, 133

Rio Grande, 135

Transposição do São Francisco, 138

Ramais ferroviários catarinenses, 145

Referências, 149

Prefácio

A ferrovia tem sido de suma importância como veículo de transporte de passageiros, de integração territorial e de escoamento da produção de muitos países. No ano de 2014, conforme o Mapa Comparativo de ferrovias de países possuidores de malha ferroviária, os Estados Unidos da América tinham 293.564 km de ferrovias, a China com 131.000 km, Rússia com 87.157 km, Canadá com 77.932 km, Índia com 68.525 km, Argentina com 36.917 km, Alemanha com 33.590 km, Austrália com 33.343 km, e o Brasil, nação com uma enorme extensão territorial, com apenas 29.850 km.

No Brasil, a malha ferroviária teve início com o empresário Irineu Evangelista de Souza, em 1854, que construiu a Estrada de Ferro Mauá para escoava a produção de Petrópolis para o Porto de Estrela, no Rio de Janeiro. A ferrovia competia com o transporte de cargas que era efetuado no lombo de burros.

Ao longo do Século XIX, foram implantadas a Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II, a Estrada de Ferro Central do Brasil, a Estrada de Ferro São Paulo, a Paranaguá-Curitiba e a Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, todas, com investimentos efetuados pela iniciativa privada, as quais operavam por meio do sistema de concessões.

No ano de 1957, a União incorporou muitas ferrovias para formar a Sociedade Anônima Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), sendo que sua vida útil começou a entrar em processo de sucateamento entre os anos de 1980 e 1992.

Somente a partir de 2019, na gestão do presidente Jair Messias Bolsonaro, é que o sistema nacional de escoamento da produção começou a se movimentar com a construção, ampliação e recuperação de rodovias; construção, reforma e ampliação de aeroportos; construção, reforma e ampliação de portos; construção de pontes e demais obras de artes; e com a construção de uma malha ferroviária ligando o extremo norte ao sul do Brasil, a partir da qual vem sendo edificados vários ramais de integração territorial. Além de se prestar para o escoamento da produção, garante frete mais barato para o produto final, como promove a integração do território nacional.

Jaguaquara

Dados preliminares

O vocábulo jaguaquara vem do idioma Tupi e significa “toca da onça”. O município está localizado no Vale do Jiquiriçá, na Microrregião de Jequié, e tem população de 54.163 habitantes, conforme dados do ano de 2018. Por muitas décadas a Toca da Onça foi uma das seis enormes fazendas do capitão Manoel Esteves de Souza e dona Maria Tereza de Jesus. Nessa época, as terras que abrangiam Jaguaquara, Itaquara e Santa Inês eram exploradas por fazendeiros. A partir de 1887, a Toca da Onça tornou-se propriedade da empresa Fortunato Coelho & Cia, que, posteriormente, a transferiu a Pinho Avelar & Cia.

Em 1896, o jovem português Guilherme Martins do Eirado e Silva (25/05/1873 a 1952) a arrendou por algum tempo, e depois a comprou pela quantia de 10 milhões de réis. Foi assim que teve início a construção das primeiras edificações do povoado.

O cidadão Guilherme Martins, nascido na Freguesia de Beiriz, região de Póvoa de Varzim, aos 13 anos, sozinho, no dia 11 de janeiro de 1886, seguiu para Lisboa, e no dia 13 embarcou, sozinho, para Salvador, na Bahia, e chegou no dia 25. Mudou-se para Nova Laje, a atual Laje, em 1890, região bravia conhecida como Matas do Sertão de Baixo. No ano seguinte estava em Areia, a atual Ubaíra, no vale do Rio Jiquiriçá, e no ano de 1893 se casou com Maria Luiza de Souza (nasceu em 13.12.1876).

O povoado Toca da Onça teve seu início no ano de 1910, mas há quem coloque essa data em 1912, data em que surgiram as primeiras edificações. Após enfrentar árduas lutas políticas, o coronel Guilherme Silva, em 1913, conseguiu que a estação local da Estrada de Ferro Nazaré fosse instalada na sede do povoado, bairro Centro, e assim impediu sua instalação no bairro da Casca.

Pela Lei nº. 174, de 5 de outubro de 1915, do Conselho Municipal de Areia, a designação Toca da Onça foi alterada para arraial de Jaguaquara. Pelo Decreto nº. 1.540, de 16 de maio de 1916, foi criado o distrito de Jaguaquara.

Em 1919 havia 1 cinema e 8 escolas funcionando no povoado. A Lei nº. 1472, de 18 de maio de 1921, elevou o Arraial de Jaguaquara à categoria de Vila de Jaguaquara. Pela Lei nº. 1560, de julho de 1922, foi criado o vocábulo jaguaquara.

Finalmente, no dia 30 de agosto de 1923, a Vila de Jaguaquara foi elevada à categoria de Cidade de Jaguaquara. Seu primeiro intendente, o mesmo que prefeito, foi o coronel Guilherme Martins do Eirado e Silva, eleito no dia 3 de julho para a gestão de agosto de 1921 a dezembro de 1923. Com a denominação “prefeito”, o primeiro foi o senhor Lauro Mota, na gestão de novembro de 1930 a novembro de 1937.

Localizada no Vale do Jiquiriçá, a cidade é dotada de clima excelente, invejável área topográfica de morros e vales, e por 13 anos foi ponto terminal da Estrada de Ferro Nazaré, até a malha férrea chegar a Jequié, em 1927. A malha ferroviária, situada no km 289 da Estrada de Ferro Nazaré, ficou concluída em 21 de dezembro de 1913, sendo que o tráfego de cargas e passageiros começou a circular somente em 10 de janeiro de 1914, data em que ocorreu a inauguração da estação ferroviária. Nessa mesma data irrompeu a Primeira Guerra Mundial, e por muito tempo o lugarejo funcionou como terminal ferroviário.

Porém, com a desativação da ferrovia, em 1968, o prédio da estação passou a funcionar como armazém para estocar sacas de cacau.

Imigrantes italianos e japoneses

No ano de 1950, cerca de 41 famílias imigrantes italianas desembarcaram em Jaguaquara, recebendo do governo um lote de terra para recomeçarem a vida. Esses colonos introduziram técnicas agrícolas avançadas de cultivo, até então desconhecidas da comunidade local, fundaram o Núcleo Colonial de Jaguaquara, no qual desenvolveram produtos hortigranjeiros, plantação de uva e de trigo no agradável clima do município, que é frio no inverno e quente e seco no verão, com índice pluviométrico de 800 milímetros. Sua temperatura mínima foi de 9,4 ºC, em 24 de setembro de 1966, e máxima de 35,6 ºC, em 3 de outubro de 1997.

Sua economia, destaque com hortigranjeiros, rebanho bovino, equino, asinino e muar na pecuária; o setor de comércio e serviços opera com 111 industrias de pequeno porte, estabelecimentos comerciais e hoteleiro; e no setor de mineração atua a Mineradora Anglo-australiana Rio Tinto explorando bauxita.

Entre os anos de 1920 e 1940, Jaguaquara era um centro produtor de farinha de mandioca, café, fumo, cacau, mamona, feijão e frutas, até que, com a chegada de colonos italianos e, poucos anos depois, das famílias japonesas Mitsuo Shibasaki, Tadao, Saburo, Akihiro Fujita e Tochio Goto, a técnica italiana e japonesa revolucionaram a agricultura do município, com a cultura de tomate, repolho, pimentão, chuchu, cenoura e beterraba. Hoje, esse polo hortigranjeiro desenvolveu o setor agrícola, com técnicas modernas de manejo do solo, adubação, sementes de boa qualidade, irrigação por gotejamento, dentre outras.

Sistema educacional

Colégio Luzia Silva

Jaguaquara nasceu de uma fazenda chamada Toca da Onça, e sua história tem como ponto de partida a chegada do casal Guilherme Martins do Eirado e Silva e Luzia de Souza e Silva, no ano de 1896, e que muito trabalharam em prol do crescimento do povoado habitado por onças pintadas. Na sede da fazenda havia uma casa para residência do casal, uma casa comercial provida de amplos depósitos, dependências de empregados, uma rancharia para viajantes, e uma casa de farinha.

A residência do casal foi posteriormente doada à Ordem das Irmãs Imaculatinas Franciscanas, que empreenderam uma reforma para instalar o Colégio Luzia Silva, uma instituição religiosa provida de internato exclusivo para meninas. A rancharia para viajantes foi demolida para dar lugar à Praça J.J. Seabra, situada no Bairro Praça, na cidade baixa. A casa de farinha foi reformada e transformada em residência, em 1921. Depois, foi adquirida pelo então médico e prefeito municipal, Menandro Minahim, que governou o município de 1951 a 1954, e depois foi vendida pela família do político a um empresário local. Este, infelizmente, demoliu o imóvel de enorme valor histórico.

Esse estabelecimento de ensino foi fundado em 15 de fevereiro de 1950 por freiras vindas da Itália, a pedido do coronel Guilherme Silva, que desejava uma instituição de ensino de fé católica romana, e foi dado à instituição o nome de sua esposa.

O estabelecimento de ensino, situado no Bairro Praça e que tem a administração exercida pelo governo da Bahia, provido de sanitário, oferece Ensino Fundamental II, nos turnos matutino e vespertino, é provido de sanitário dentro do imóvel, biblioteca, cozinha, quadra de esporte, internet banda larga, e encerrou o ano letivo, de 2009, com 522 alunos matriculados.

A pedra fundamental do povoado encontra-se cravada na edificação que o coronel Guilherme Silva mandou erguer para sua residência e, que, em 1952, passou a funcionar como Escola Luzia Silva.

Escola Carneiro Ribeiro

O estabelecimento de ensino funciona em prédio próprio no Bairro Muritiba, tem instalações sanitárias dentro do prédio para pessoas normais, como também para portadores de deficiência, cozinha, internet banda larga, oferece cursos de Ensino Fundamental I. No ano letivo de 2020 teve 210 alunos matriculados, período matutino e vespertino, e sua administração está a cargo do governo municipal de Jaguaquara. Fui aluno desse estabelecimento de ensino.

Escola Delminda Farias de Almeida

O estabelecimento de ensino funciona em prédio próprio no Bairro Casca, tem instalações sanitárias dentro do prédio para pessoas normais, como para portadores de deficiência, cozinha, biblioteca, internet banda larga, laboratório de informática, oferece cursos de Ensino Fundamental I.

No ano letivo de 2020 teve 242 alunos matriculados no período matutino e vespertino, e sua administração está a cargo do governo municipal de Jaguaquara. O nome do estabelecimento foi dado em homenagem a membro da família do capitão Egídio Pereira de Almeida, cuja fazenda funcionava nesse bairro. Fui aluno desse estabelecimento de ensino.

Colégio Taylor-Egídio

Curralinho é o nome do povoado baiano que posteriormente teve seu nome alterado para Castro Alves, em homenagem ao jovem teatrólogo e poeta dos teatros, dos salões e das praças públicas. Além de Castro Alves, nesse povoado nasceu, também, o fazendeiro Egídio Pereira de Almeida, filho do casal de ascendência portuguesa Jerônimo Pereira de Almeida e dona Leopoldina.

Algum tempo depois, seus pais, de formação católica romana, se mudaram para Vargem Grande, a atual Varzedo, operando com fazendas e engenho de farinha e de açúcar, e assim criou seus 8 filhos.

Em uma viagem a negócios, seus filhos Guilhermino e Marciano foram até Amargosa, e se estabeleceram em uma hospedaria do vilarejo. Nessa ocasião, Guilhermino presenciou um grupo de católicos romanos empreenderem uma tremenda perseguição religiosa a missionários batistas estadunidenses que tentaram realizar um serviço evangelístico em uma praça da localidade. Os vândalos queimaram certa quantidade de exemplares da Bíblia Sagrada.

Um dos missionários abaixou a fronte e clamou: “Oh, Deus, por Jesus Cristo tira este povo das trevas e dá-lhe a Tua luz! Eles fazem isso porque não te conhecem Senhor”. Ao chegar à hospedaria, comunicou a seu irmão, que era carola de carteirinha, a perseguição religiosa ao grupo de missionários, e de que tinha visto e ouvido “um homem conversando com Deus! Que coisa linda!”.

Tempos depois de retornar a Vargem Grande, Marciano convidou a costureira e o cidadão pernambucano que residia na localidade, a que participassem de uma missa como seu convidado. De forma delicada, recusaram o convite, ao se apresentarem como de formação evangélica, e o pernambucano Antônio Medeiros deixou com Marciano um exemplar do Novo Testamento.

No ano de 1889, pelo fato de haver contraído polineurite, o mesmo que beribéri, o capitão Egídio Pereira de Almeida deixou Vargem Grande e se estabeleceu no povoado da Toca da Onça, devido ao clima seco, e assim ficou curado da enfermidade. Nesse ano, comprou a Fazenda Casca.

Em meio a um ar religioso nessa região de matas bravias, Marcelino postou uma correspondência a seu irmão predileto, narrando seu maravilhoso encontro com o Senhor Jesus Cristo. Grandemente preocupado com o conteúdo da correspondência, o capitão Egídio deixou a fazenda e viajou a Vargem Grande, acreditando que seu irmão estava louco. Levado ao médico local, este o examinou e emitiu seu parecer: “Egídio, seu irmão não está louco, mas exaltado pelas ideias novas que abraçou. Fique despreocupado que seu irmão não está doente”.

Devidamente informado a respeito da localização do pernambucano Medeiros, fazendo-se acompanhar de uma jagunçada, foi até lá para cortar o pescoço do evangelista arretado: “É o senhor que é o Medeiros e está pondo essa cizânia na cabeça do meu irmão?”, bradou o capitão.

“Prouvera a Deus que fosse eu. Seu irmão já veio de Amargosa trazendo esta mensagem, onde viu uma queima de Bíblias e uma perseguição a estrangeiros”, respondeu-lhe o pernambucano. “Se o senhor não deixar de falar dessas coisas, eu mando dois dos meus caboclos tirar-lhe a cabeça do corpo!”, ameaçou-lhe o capitão destemido.

“Se o senhor tirar a minha cabeça, a minha alma irá morar com Jesus”, foi a resposta do evangelista. “Olha lá! Eu estou falando sério com o senhor. O senhor me parece ser bem cínico!”, bradou o fazendeiro irritado. “Mais sofreu Jesus por nós”, foi a resposta de Medeiros.

Finda as ameaças, o capitão esteve na casa de seus pais, recebeu de Marciano um exemplar do Novo Testamento e retornou à sua fazenda no povoado Toca da Onça. Examinando sempre o texto bíblico e pedindo ao Eterno que a ele se revelasse, por ocasião de uma viagem de negócios, a cavalo, a povoados do entorno, eis que avistou um clarão, tão marcante, que Egídio saltou do cavalo de montaria, assustado com o que havia avistado.

Teodorico, que, com ele viajava, declarou avistar um clarão que superava o brilho do Sol. O capitão Egídio sentiu como se fosse duas marteladas de cada lado de sua cabeça, e ouviu uma voz lhe dizer: “Segue o meu Evangelho que estás certo”.

Após realizar os negócios, para acalmar a consciência que o questionava, foi até o povoado de Areia à procura do vigário Manoel Leôncio Galrão, para deste conhecer seu parecer a respeito do conteúdo do Novo Testamento. “Que diz o senhor deste livro?”, perguntou-lhe o capitão. “Ah! Comprou? Feliz do homem que ler este livro e seguir o que ele ensina”, disse-lhe o vigário. “E por que o clero não ensina isso ao povo?”, questionou o fazendeiro. “Porque, com a batina eu consigo viver com mais facilidade do que fazer outro trabalho”, respondeu-lhe o religioso católico. “Então o senhor é um perverso”, questionou o capitão. “Olhe, fique com as ideias deste livro somente para você, porque se isto cair na cabeça do povo, eu fico sem meios para viver...”, finalizou o vigário. Findo o diálogo, o fazendeiro declarou que iria levar a mensagem do Evangelho avante.

Tempos depois, em 1895, estando novamente em Areia com um grupo de missionários norte-americanos, devido a seu enorme prestígio na região, obteve do delegado local autorização para usar as instalações da Casa de Câmara e Cadeia na ministração de um culto ao Criador.

Ao tomar conhecimento do evento, o religioso, político e ditador de batina da comunidade ficou furioso. A força policial local foi acionada para impedir a realização da reunião religiosa.

E quando um soldado tentou impedir o início da cerimônia, o capitão Egídio, de revólver em punho, bradou: “Não vá, que eu atiro. Se esses homens merecem a morte, matem a mim primeiro, e os deixem com vida, pois eles estão aqui por minha causa”.

Nesse momento de muito nervosismo, levantou-se um alferes, que equivale ao posto de segundo-tenente, e tomou a defesa dos pregadores: “O que se levantar e atirar morrerá no mesmo instante. Eu vou matar vocês um por um.” Foi assim que o trabalho evangelístico foi realizado, para tristeza do ditador de batina que trazia a população ameaçada debaixo de sua longa batina.

O capitão, sua esposa e seus 17 filhos foram batizados nas águas pelo pastor Antônio Marques da Silva. Marciano, que era um vigoroso evangelista, convidava sempre missionários estadunidenses a virem a Vargem Grande, e até levou o missionário Zacarias Clay Taylor à Fazenda Casca de seu irmão Egídio, no povoado da Toca da Onça.

Desejoso de educar sua prole de 17 filhos em meio a um povoado sem uma única escola em funcionamento, no ano de 1898, eis que o capitão Egídio, para atender a um pedido de sua filha Belmira Almeida, de apenas 13 anos, reuniu o gado de corte, o vendeu, e com o dinheiro arrecadado viajou a Salvador para se encontrar com o missionário Zacarias Taylor, no firme propósito de abrir uma escola na Toca da Onça, que, na época, não tinha mais que quatro rudes residências. Como Rui Barbosa, mirava além dos Andes.

Após o encontro de alto nível, ao se sentir adoentado, viajou a Amargosa, onde a Estrada de Ferro Nazaré fazia ponto terminal. Poucos dias depois faleceu, acometido por um infarto do miocárdio, sem chegar a ver a inauguração do Colégio Americano Egídio, que nasceu no dia 2 de dezembro desse ano.

O casal Zacarias Taylor e Laura Taylor, que era uma profissional em educação, foram os primeiros diretores do estabelecimento de ensino com sede na rua do Hospício, em um prédio de dois pisos situado bem no centro da cidade de Salvador, com vistas para a Baía de Todos os Santos.

Em seu primeiro ano de funcionamento, a instituição de ensino encerrou suas atividades de 40 semanas com 5 professores ministrando aulas a 130 alunos matriculados.

A pujança do colégio batista começou a decrescer a partir de 1911, devido a abertura de novas escolas na cidade, até que suas atividades foram encerradas no final do primeiro semestre de 1919, na gestão dos diretores Carlos Stapp e Laura Taylor, para ressurgir, das cinzas, como uma Fênix, em 1922, no povoado de Jaguaquara, com o nome Colégio Taylor-Egídio, em homenagem a seus fundadores.

O ressurgimento se deu graças a ação rápida de João Pereira de Almeida, filho do capitão Egídio, que doou à Convenção Batista Baiana as terras da Fazenda Casa Brava e as edificações existentes, o que facilitou a reabertura das aulas em abril desse mesmo ano letivo.

O filho do capitão salvou o colégio de reabrir suas atividades no Piauí do doutor Paranaguá, que muito trabalhou para isso.

Posteriormente, os missionários Maxcy Gregg White

e Francis Willard Taylor compraram uma parte da Fazenda Bela Vista, com 10 mil metros quadrados, que tinha uma residência, um armazém e uma rancharia, para compor o patrimônio do Colégio Americano Egídio.

Após uma reforma, a residência ficou como morada do diretor e o armazém para funcionar como salas de aula. Essa parte da fazenda pertencia a dona Cecília Pereira de Almeida, que era filha do capitão Egídio e avó do ipiauiense Eraldo Tinoco Melo (1943-2008), influente político e ex-aluno da instituição de ensino.

Com o funcionamento da ferrovia, a partir de 1914, e a implantação do Colégio Taylor-Egídio, em 1922, o povoado cresceu enormemente, da noite para o dia, ao som estridente do apito da velha Maria Fumaça, tendo sua malha de trilhos margeando o histórico Riacho da Casca que banha a cidade.

Além de escoar a produção da região, a Estrada de Ferro Nazaré prestou enorme função social a uma sociedade abandonada pelo Governo estadual. Nesse pedaço de terra envolta por matas virgens, aqui e ali desmatadas para a instalação de fazendas da agropecuária, a oferta de escolas era quase nenhuma, e o povo vivia envolto num mar de analfabetismo crônico.

E foi na visão de levar o saber a um povo marginalizado, que o povoado da Toca da Onça, graças à ferrovia, foi contemplado, inicialmente, com um colégio que se prestou como farol para iluminar a região, sertaneja e cacaueira, envolta na escuridão, com os raios luminosos da alfabetização.

A linha de trilhos foi de vital importância para o deslocamento de filhos de fazendeiros, de regiões as mais distantes, para receber educação de boa qualidade no Colégio Taylor-Egídio, um órgão da Convenção Batista Baiana, que se instalou no povoado do Sudoeste Baiano no ano de 1922.

Com a ferrovia funcionando, a região de fazendas cresceu enormemente, mas Jaguaquara destacou-se por ofertar colégio provido de internato, para o sexo masculino e feminino, ferramenta fundamental para atrair, por sete décadas, filhos de fazendeiros de vários pontos do Estado e de estados vizinhos, como Minas Gerais e Espírito Santo.

Dos estabelecimentos mais antigos, constam a Escola Carneiro Ribeiro, centro educacional municipal; Colégio Luzia Silva, com internato para o sexo feminino; Escola Delminda Farias de Almeida, centro educacional municipal; e Colégio Taylor-Egídio, provido de internato e externato, órgão da Convenção Batista Baiana.

Como no meio evangélico nem tudo são flores, a esposa do missionário Charles F. Shapp, que foi diretor do Colégio Americano Egídio, entre 1910 e 1919, comunicou a Belmira Almeida Coutinho, filha do capitão Egídio, que o missionário M.G. White tinha plano de alterar o nome da instituição de ensino para Colégio Americano Brasileiro.

Com a informação colhida, Belmira se comunicou com o pastor Adrião Bernardes, e este, quando da reunião da Junta de Missões, propôs que a instituição de ensino tivesse seu nome alterado para Colégio Taylor-Egídio, o que teve sua aprovação por maioria. Esse foi o nome que Belmira lhe havia pedido para que fosse aprovado.

A região sertaneja de Jaguaquara, Itaquara e Santa Inês sofreu muito com os seis anos de crises que arruinou a economia desses lugarejos. Em 1927, a crise se abateu sobre a Estrada de Ferro Nazaré; em 1929, veio a crise que arrasou investidores da Bolsa de Valores de Nova Iorque; em 1930, veio a Revolução na gestão do presidente Getúlio Dornelles Vargas; e a crise climática que vigorou de 1930 a 1933 arruinou a produção agrícola que afetou fazendeiros e comerciantes.

E para solucionar a crise que o estabelecimento de ensino se encontrava, o missionário M.G. White viajou ao Recife, e do Seminário Teológico do Norte do Brasil escolheu o jovem pastor e professor Carlos Dubois para administrar o colégio. Estando em Salvador, Dubois levou consigo o jovem seminarista católico, Mário Moreira da Silva, para ministrar aulas de Latim e Português em Jaguaquara.

O seminarista, após algum tempo, deixou a batina, tornou-se de formação batista, e se casou com a bonitona professora de Francês e Inglês, Renilde Mussi Moreira.

No dia 7 de dezembro do ano de 1937 o professor Carlos Dubois (6.03.1909 a 13.07.1993) chegou a Jaguaquara, com sua esposa Stela Câmara Dubois (1905 a 1987) e o filho de apenas 11 meses, René Dubois, para assumir a direção do estabelecimento de ensino. O jovem diretor, que exerceu mandato de 1938 a 1992, era filho do engenheiro civil, especialização em ferrovia, João Xavier Dubois, e de Margarida Voulet.

No ano de 1887, trabalhando na Argentina, o francês engenheiro de ferrovia, João Xavier, viajou ao Brasil para visitar patrícios seus. Algum tempo depois, desembarcou no Porto de Paranaguá, e em seguida conheceu o “diretor da empresa francesa encarregada da construção da Ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul, trecho Paraná-Santa Catarina”, que o contratou para fiscalizar a execução dos serviços da ferrovia.

O engenheiro de ferrovia, Xavier, hospedava-se em um hotel de seu amigo Antonie Bertrand Voulet, quando, em 1898, conheceu a jovem Margarida Voulet, que recentemente havia chegado da França, onde, desde pequena, frequentava a escola.

Apesar de ser 20 anos mais jovem, o casamento ocorreu no dia 31 de dezembro de 1900. Carlos Dubois, o terceiro dos cinco filhos do casal, nasceu em 6 de março de 1909, e ainda criança começou a desempenhar uma atividade profissional, e assim trabalhou na ferrovia, com seu pai, até a idade de 17 anos.

Assim que a malha de trilhos avançava, o casal Dubois também mudava de cidade. Em Ponta Grossa, onde o casal se estabeleceu, funcionava o colégio católico São Luiz, como uma humilde escola na sala de estar da residência do pastor batista, de pele negra, Abraão José de Oliveira. Durante o dia, a sala de estar funcionava como escola, e à noite como templo da igreja que a pastoreava.

Apesar de ser uma pessoa austera, seu pai deixou com seu filho a escolha de uma das duas escolas onde estudaria, e Carlos Dubois escolheu a escola do pastor de pele negra, que exercia a função de mestre-escola, como era conhecido o professor desse período histórico.

O pastor, professor e diretor da escola, dotado de uma poderosa oratória, iniciava sempre a aula com a leitura de trechos bíblicos, e assim ia evangelizando seus alunos de uma forma muito sábia. Logo, o garoto de calça curta e suspensório, apesar de seus pais serem de formação católica, começou a frequentar os cultos dominicais, e com o dinheiro de seu trabalho comprou um exemplar da Bíblia Sagrada.

Aos 15 anos aceitou a Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador, e em seguida foi batizado nas águas, pelo processo de imersão, desenvolveu trabalho evangelístico na comunidade, e aos 16 anos tornou-se secretário da Igreja batista da localidade. No firme propósito de se tornar um pastor, com o apoio do pastor Abraão, seguiu para o Rio de Janeiro.

Para custear os estudos e despesas outras, exerceu atividades profissionais no colégio, dava aulas particulares, vendia literatura evangélica no porto da cidade, como servia de intérprete para marinheiros franceses que desembarcavam na Cidade Maravilhosa.

Carlos Dubois nasceu na cidade paranaense de Araucária, na Grande Curitiba, e viveu a infância em Ponta Grossa. Com a conclusão do então Curso Primário, seguiu para o Rio de Janeiro, ingressou no Colégio Sherpard, e se formou em Ciências de Letras. Depois, na cidade do Recife, cursou o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, e se formou em Bacharel em Teologia.

Durante o curso teológico lecionava o idioma Francês no Colégio Americano, e logo chegou a ser Diretor de Curso. Nessa ocasião, conheceu a “talentosa professora de música e de línguas”, Stela Câmara, uma jovem frequentadora de teatros, concertos musicais e óperas da capital pernambucana, a Veneza Brasileira, e com ela se casou.

Foi nessa época de esplendor da capital pernambucana, que, no ano de 1936, surgiu Maxcy Gregg White, Secretário Executivo da Convenção Batista da Bahia, em uma visita ao Seminário Teológico Batista do Norte, em busca de um jovem talentoso para salvar o Colégio Taylor-Egídio, que agonizava. O professor e pastor Carlos Dubois foi o escolhido para assumir o pastorado da Igreja Batista de Jaguaquara, bem como, resgatar o Colégio da tumba.

Cerca de três meses depois, deixou o Recife para assumir a direção do Colégio Taylor-Egídio, na então Toca da Onça, um vilarejo perdido no Sertão da Bahia.

Esse “fim do mundo” tinha uma população de dois mil habitantes, e a Estrada de Ferro de Nazaré era o único meio de transporte. Nessa época, o estabelecimento de ensino tinha seu diretor demissionário, dois professores e 36 alunos matriculados no Curso Primário. Hoje, a cidade está ligada à BR-101, à BR-116, e tem sido um dos maiores polos hortigranjeiros do Norte e Nordeste brasileiro.

Pelos bancos do Colégio Taylor-Egídio passaram muitos Juízes de Direito, Deputados, Pastores, Profissionais Liberais, Ministros de Estado e Ministros do STF.

Em sua gestão de 56 anos, Dubois ampliou as instalações do colégio, fundou a Casa de Saúde Maria José Souza Santos, a Sociedade Beneficente Orfanato Taylor-Egídio, a Cooperativa Mista, o Sindicato Rural e o novo templo da Igreja Batista. Ele foi eleito vereador, prefeito, deputado, pastor, professor, diretor de várias instituições batistas, presidente da Convenção Batista Bahiana e da Convenção Batista Brasileira.

A pernambucana Stela Câmara, filha de José Paulino Raposo da Câmara e Emília Galvão da Câmara, era professora, escritora, poetisa e musicista de renome.

Por muitas décadas, o casal Carlos e Stela Dubois exerceu a administração do Colégio Taylor-Egídio, provido com instalações de internato para acolher filhos de fazendeiros de uma região carente de meios de transportes e de estabelecimentos de ensino. Conforme Rosa Xavier Dubois, educadora irmã de Carlos Dubois, entre 1950 e 1970, o colégio chegou a educar cerca de 1.500 alunos/ano, com o sistema de internato e externato, para pessoas do sexo feminino e masculino.

Com o passar dos anos, esse número foi diminuindo à medida que unidades de ensino, públicas e privadas, como estradas de rodagem e aeroportos foram sendo instalados em cidades do entorno. Foi assim que a Estrada de Ferro Nazaré ajudou o sistema educacional tirar milhares de seres humanos das garras do analfabetismo. Sua esposa Stella faleceu em 7 de março de 1987, aos 82 anos, e Dubois, em 13 de julho de 1993, aos 84 anos. Fui aluno do Taylor-Egídio por 7 anos, do Curso Primário ao Ginasial.

O desbravador português Guilherme Martins do Eirado e Silva, atuante líder político, muito amigo do diretor do Colégio Taylor-Egídio, Carlos Dubois, em uma de suas grandes batalhas, em defesa da lei e da ordem do município, pelo qual muito se empenhou, foi travada com o vigário local, que, tentando dividir a comunidade em uma luta de classes, impediu que um enterro batista fosse realizado no cemitério da cidade, pelo fato de a alma do defunto ser de denominação evangélica. O destemido bandeirante fez valer os direitos da Constituição vigente, o defunto foi enterrado com honras, e assim fez baixar o facho do assanhado ditador de batina.

Estradas de ferro

Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira

Ainda não publicado.

RNF Cerqueira
Enviado por RNF Cerqueira em 08/11/2022
Reeditado em 08/11/2022
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