A INSPIRAÇÃO *

A postura crítica que desestimula a revisão do primeiro sopro criativo é altamente nefasta aos noviços em Poesia.

Estes novatos, por ainda não estarem prontos para a confecção do bom poema ou por ainda não conhecerem razoavelmente o ofício que exige convivência com a poética, acreditam que o poema nasce pronto, porque é mais fácil e agradável ao poeta-autor nada refazer ou corrigir.

Este processo do criar é muito trabalhoso, e, no íntimo, atinge o ego do pretenso criador, que, na ânsia de ser reconhecido como artista-escritor, acredita piamente que escreveu sua última obra-prima...

Tudo o que é exagerado não se presta à arte, em qualquer dos ramos dela, sob pena de uma transfiguração infantil, caricata, jocosa ou pouco inteligente.

É necessário ter sempre em alta conta que uma das características, talvez a mais marcante, em Poesia, é a sacralidade que o poeta-autor deve ter para com a (sua) expressão artística.

O poema com Poesia sempre tem algo de solene, exigindo respeito do seu autor e do público que o está a consumir.

É óbvio que após tanta "transpiração" sobre o rabisco original, ainda mais no poema em que comparecem poucos vocábulos, enxuto, sintético, como é o formato usual da obra poética da contemporaneidade, o eixo do assunto que norteava a garatuja inicial, até mais do que o simples formato, o conteúdo interpretativo poderá tomar sentido diverso do que originalmente pretendeu o seu criador.

É muito natural, então, que este venha a sentir-se psicologicamente frustrado, porque o poema funciona no psiquismo do poeta-autor como objeto prazeroso. O bem-estar daí decorrente é, as mais das vezes, a sua maior premiação.

Como fazedor de versos e analista literário, quanto ao processo de criação, afilio-me à corrente que entende que o "poeta-artífice", o autor que burila, o que cinzela meticulosamente os versos originais, em regra, consegue um poema de melhor apresentação estética.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2022.

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