MÁRIO DE ANDRADE – O pai do modernismo brasileiro

Francisco de Assis Gois

 

Mário de Andrade cujo nome completo é Mário Raul de Morais Andrade, nasceu em São Paulo no dia 09 de outubro de 1893. Faleceu, também em São Paulo em 25 de fevereiro de 1945. Foi um grande poeta, romancista, contista, musicólogo, historiador de arte e fotógrafo. Teve uma influência enorme e marcante na nossa literatura, inclusive ultrapassando as nossas fronteiras.

Como um dos fundadores do modernismo no nosso país, foi o precursor da poesia moderna brasileira ao publicar a sua obra “Paulicéia Desvairada” em 1922.

Membro do vanguardista “Grupo dos Cinco” Mario de Andrade foi a força motriz da Semana de Arte Moderna de 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil. As ideias apresentadas nessa semana estão claramente expostas na sua obra “Paulicéia Desvairada”.

Mario de Andrade nasceu em São Paulo e passou quase toda a sua vida morando na Rua da Aurora número 320, na mesma casa em que seus pais, Carlos Augusto de Andrade e Maria Luisa de Almeida Leite Moraes de Andrade também moraram.

Foi considerado durante a infância um pianista prodígio e como dominava a língua francesa, lia Rimbau e os principais poetas simbolistas franceses. Em 1911 foi matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Recebeu educação formal apenas em música, porém foi autodidata em história, arte, e especialmente poesia.

Em 1913 uma tragédia marcou a sua vida. Seu irmão Renato, na época com quatorze anos de idade morreu em função de um golpe recebido em um jogo de futebol. Isso causou-lhe um profundo choque. Ele abandonou o conservatório e juntamente com a família se retirou para uma fazenda que possuíam em Araraquara.

Ao retornar a São Paulo mesmo tendo se formado no Conservatório, não se apresentou mais, pois sua habilidade no piano foi afetada por um tremor nas mãos. Começou então a estudar canto e teoria musical para se tornar um professor de música. Concomitantemente começou o seu interesse mais sério pela literatura. No ano de sua formatura, 1917, sob o pseudônimo de Mário Sobral publicou seu primeiro livro de poemas com o título de “Há uma Gota de Sangue em Cada Poema”.

Apesar da forte influência europeia, especialmente a francesa, como era comum a todos os autores brasileiros da época, o livro já mostra indícios de uma percepção de Mario de Andrade em relação a uma identidade brasileira na literatura.

Decidido a ampliar a sua escrita deixou São Paulo e iniciou uma atividade que continuaria pelo resto de sua vida: Um meticuloso trabalho sobre a história, o povo, a cultura e especialmente a música do interior do Brasil. Publicou ensaios em jornais de São Paulo, por vezes ilustrados com suas próprias fotografias e assim foi acumulando informações sobre a vida e o folclore brasileiro. Entre essas viagens lecionava piano no conservatório.

Desenvolveu um grupo de amigos artistas e escritores que também acompanhavam o movimento modernista na Europa. Dentre eles surgiu o Grupo dos Cinco composto por ele próprio, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.

No ano de 1922 enquanto preparava o livro “Paulicéia Desvirada” para publicação, Mario de Andrade juntamente com Anita Malfatti e Oswald de Andrade prepararam um evento que iria introduzir seu trabalho ao público em geral: A Semana de Arte Moderna. O evento incluiu exposições de pintura de Malfatti e outros artistas, leituras e palestras sobre arte, música e literatura. Mario de Andrade foi o principal organizador e a figura central do evento. Além de outras apresentações, como clímax do evento ele leu “Paulicéia Desvairada”. O uso de versos livres e expressões coloquiais de São Paulo nos poemas, embora já comuns a poemas modernistas europeus, eram inteiramente novos para os brasileiros. A leitura foi acompanhada por vaias, no entanto ele não desistiu e depois descobriu que grande parte da plateia a considerava transformadora. Este evento foi um marco histórico na literatura moderna brasileira.

O Grupo dos Cinco continuou trabalhando juntos, mas no final da década de 1920 se separou. Mario de Andrade e Oswald de Andrade tiveram uma desavença séria e romperam relações em 1929.

Suas viagens pelo Brasil ultrapassaram as barreiras da pesquisa e em 1927 começou a escrever um diário de viagem chamado “O Turista Aprendiz” para o jornal “O Diário Nacional”. Essa coluna introduziu os cosmopolitas ao Brasil indígena e ao mesmo tempo serviu de divulgação para o trabalho de Andrade.

Ao mesmo tempo ele estava desenvolvendo extensa familiaridade com os dialetos e culturas de grande parte do Brasil. Começou a aplicar à ficção em prosa a técnica padronizada da fala que desenvolveu ao escrever os poemas da Paulicéia Desvairada. Escreveu dois romances usando essa técnica:  O primeiro foi “Amor, Verbo intransitivo” que foi em grande parte um experimental formal e o segundo em 1928 foi “Macunaíma”, com o subtítulo de O herói sem caráter. Macunaíma é considerado uma antologia do folclore brasileiro. Essa obra como um texto fundamental do modernismo brasileiro mudou a natureza da nossa literatura.

Há muito mais que se falar sobre a vida e obra de Mario de Andrade, porém isso tornaria esse artigo extremamente longo, motivo pelo qual fica aqui a sugestão aos interessados em cultura e literatura que pesquisem e procurem saber mais a respeito desse grande poeta e escritor brasileiro que foi Mario de Andrade. Encerro esse resumido relato sobre sua vida e obra com seu belo poema Eterna Presença.

 

ETERNA PRESENÇA 


Este feliz desejo de abraçar-te,
Pois que tão longe tu de mim estás,
Faz com que te imagine em toda a parte
Visão, trazendo-me ventura e paz.

Vejo-te em sonho, sonho de beijar-te;
Vejo-te sombra, vou correndo atrás;
Vejo-te nua, oh branco lírio de arte,
Corando-me a existência de rapaz…

E com ver-te e sonhar-te, esta lembrança
Geratriz, esta mágica saudade,
Dá-me a ilusão de que chegaste enfim;

Sinto alegrias de quem pede e alcança
E a enganadora força de, em verdade,
Ter-te, longe de mim, juntinho a mim.

(Mario de Andrade)

 

Com um forte e fraternal abraço a todos,

Francisco de Assis Gois.

ChicoDeGois
Enviado por ChicoDeGois em 30/08/2022
Reeditado em 30/08/2022
Código do texto: T7594170
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