Conte um Conto que eu Conto.
A Oficina Manhã Literária deste domingo, 28 de agosto, como é prache foi coordenada pelo poeta Marcos Antônio Lima, Membro Correspondente da Academia de Letras de Paulo Afonso (ALPA), que conta com o precioso apoio cultural da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer, (Secretário Damião) da Prefeitura Municipal de Santa Brígida - BA, sob a gestão do Sr. Prefeito Elton Carlos Magalhães. Ainda contamos com o precioso apoio da Diretora Escolar do Centro Educacional Zenor Pereira Teixeira, Maria José e, da Coordenadora Pedagógica, Joseane Barros, além da nossa Assistente de Classe: Apoliana Suênia. O tema trabalhado nessa oficina foi o Conto. O educador litero-social, escritor Presidente da ASLA (Academia Santabrigidense de Letras & Artes): Marcos Antônio Lima entregou aos alunos, uma cópia do referido texto: CONTO, que foi aplicado nessa sala de aula, e explica que o conto é um gênero caracterizado por ser uma narrativa literária curta, tendo começo, meio e fim da história narrados de maneira breve, porém o suficiente para contar a história completa.
O conto possui elementos e estrutura bem marcados, sendo que o tipo de história pode indicar o tipo de conto que estamos lendo. Vamos aprender um pouco mais sobre esse gênero narrativo.
Veja também: Clarice Lispector – autora de contos importantes da literatura nacional
Elementos de um conto
Para que uma narrativa seja considerada um conto, alguns elementos são muito importantes: personagens, narrador, tempo, espaço, enredo e conflito.
Personagens
As narrativas (reais ou fictícias) precisam ter um ou mais seres vivenciando sua história. Esses seres podem ser pessoas ou, até mesmo, animais, objetos e seres imaginários que ganham vida e consciência para viver aquela história — são as personagens da narrativa.
Embora seja comum que o conto tenha poucas personagens, existem contos com muitas delas (habitantes de um bairro, por exemplo). Mesmo assim, a narrativa continua sendo breve.
Narrador
É a voz que conta a história dentro da narrativa. O narrador pode contar a história de três maneiras:
Narrador-personagem: quando uma das personagens que vivencia a história faz, também, o papel de narrador, ou seja, uma das personagens narra a história. Por isso, muitas vezes, os verbos são conjugados em primeira pessoa, mas podem também ser conjugados em terceira quando o narrador-personagem conta o que acontece com os outros personagens.
Narrador-observador: esse tipo de narrador não participa da história. Ao invés disso, ele é apenas uma “voz” contando o que acontece, narrando a história. Entretanto, assim como o leitor, esse narrador não sabe o que se passa na consciência das personagens, não sabe o que aconteceu no passado (anterior à narrativa) nem o que acontecerá no futuro.
Narrador-onisciente: assim como o observador, ele não participa da história. Entretanto, essa “voz” é onisciente, ou seja, sabe de tudo no universo daquela narrativa: ela sabe (e pode contar) o que as personagens estão pensando e sentindo. Também conhece (e pode contar) o passado anterior à narrativa e o futuro.
Tempo
As narrativas passam-se em um período determinado: trata-se do tempo de duração entre o início e o final da narrativa e da época em que a narrativa ocorre. É mais comum que as histórias dos contos aconteçam em pouco tempo (podendo ser minutos ou até alguns dias), mas é possível que elas se passem durante muitos anos (em qualquer um desses casos, a narrativa será breve por tratar-se de um conto).
Alguns contos são sobre histórias que se passam nos dias de hoje, e outros podem passar-se em algum lugar do passado ou, até mesmo, em um futuro imaginado pelo autor (e descrito pelo narrador da história).
Espaço
Assim como o tempo, as narrativas precisam ocorrer em um espaço, descrito explicita ou implicitamente, onde as personagens situam-se.
Novamente, por tratar-se de narrativa breve e curta, é mais comum que o conto ocorra em apenas um ou poucos espaços, mas ainda é possível que muitos cenários sejam percorridos durante a história (podendo ser apenas um pequeno cômodo de uma moradia, um país inteiro ou outra galáxia distante e imaginária). Em todo caso, a narrativa continuará sendo curta.
Enredo
É o que acontece na história, ou seja, a sequência de ações que faz com que a narrativa exista e tenha uma estrutura: um começo, um meio e um fim. Vamos falar mais sobre o enredo adiante.
Conflito.
Por fim, os contos têm um conflito, que é uma situação gerada por uma das ações iniciais (ou em uma das ações iniciais) e que faz com que outras ações sejam tomadas pelas personagens para solucionar o problema. Essa sequência de ações forma o enredo e, geralmente, deixa o começo da narrativa diferente do final.
Os contos são narrativas curtas que possuem diversas modalidades que variam conforme seus enredos.
Estrutura do conto
O conto costuma ser estruturado em quatro partes: introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão. Vamos a elas:
Introdução (ou apresentação/equilíbrio inicial): é o início da narrativa. Nela, podemos descobrir o contexto da narrativa: quem são as personagens, qual é o espaço e o tempo nos quais a história vai ser narrada e quais são os primeiros acontecimentos dela.
Desenvolvimento (ou complicação/surgimento do conflito): apresenta as ações que modificam o estado inicial da narrativa. Vemos o conflito (situação-problema) que fará as personagens agirem para resolvê-lo.
Clímax: é o momento de maior tensão, quando o problema está no auge e as ações tomadas definirão o rumo da história.
Conclusão (ou desfecho/solução do conflito): como o nome já diz, é o final da história, que será provavelmente diferente de como ela começou. Pode mostrar que o problema foi solucionado ou não, dependendo muito mais do tipo de conto que estamos lendo. Vamos conhecer esses tipos a seguir.
Tipos de conto
O conto é classificado como um gênero narrativo, ou seja, um tipo de narração. No entanto, existem vários tipos de contos dependendo dos elementos que compõem a história e de como ela pode terminar, dando subgêneros a eles. Vejamos alguns mais famosos:
Conto de fadas (ou conto maravilhoso)
São narrativas curtas que possuem um elemento “maravilhoso” em sua composição, ou seja, algo mágico ou sobrenatural. Não existem explicações para as intervenções sobrenaturais que ocorrem na narrativa; tanto personagens, quanto narrador e mesmo o leitor não se impressionam com o que ocorre.
As personagens, lugares e tempos não são determinados historicamente, o que fica claro pelo início genérico do “Era uma vez”. Apesar disso, sabemos que sua origem é medieval, período aproximado em que se passa a maioria de suas histórias. Nesse tipo de conto, o leitor espera um final feliz e uma moral da história, o que costuma acontecer.
Conto de terror
Subgênero mais moderno do que o conto de fadas. Nos contos de terror, as histórias incluem os elementos sobrenaturais sem aquele ar de naturalidade: trata-se dos contos de terror com personagens lendários, como vampiros, lobisomens, mortos-vivos etc.
Aqui, já se vê uma diferença na percepção dos personagens diante dos fatos sobrenaturais e até o leitor fica assustado com a história. Nem sempre a narrativa acaba com final feliz.
Conto fantástico
Narrativas curtas que levam o elemento “absurdo” a cenários e personagens do próprio cotidiano. São personagens comuns levando uma vida comum até que algo absurdo acontece, algo que não poderia acontecer na realidade.
É justamente a proximidade com a realidade do leitor que causa um maior estranhamento na história. O leitor busca uma explicação para o que ocorre (será um sonho?), mas não fica com medo como acontece nos contos de terror.
Exemplos de contos
Vamos ler alguns contos para ver o que aprendemos. Tente, após a leitura, responder quem são as personagens; que tipo de narrador tem esse conto; onde e quando se passa a história; qual é o enredo e o clímax; qual foi o desfecho; ou que tipo de conto se trata. Boa leitura!
A festa no céu |1|
(Conto tradicional do Brasil)
Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no céu. Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de voo.
Imaginem quem foi dizer que ia também à festa... O Sapo! Logo ele, pesadão e nem sabendo dar uma carreira, seria capaz de aparecer naquelas alturas. Pois o Sapo disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma. Os bichos só faltaram morrer de rir. Os pássaros, então, nem se fala!
O Sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o Urubu e deu uma prosa boa, divertindo muito o dono da casa. Depois disse:
— Bem, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido.
O Urubu respondeu:
— Você vai mesmo?
— Se vou? Até lá, sem falta!
Em vez de sair, o Sapo deu uma volta, entrou na camarinha do Urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro, encolhendo-se todo.
O Urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru...
Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola num canto e foi procurar as outras aves. O Sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua, todo satisfeito.
Nem queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o Sapo pulando no céu! Perguntaram, perguntaram, mas o Sapo só fazia conversa mole. A festa começou e o Sapo tomou parte de grande. Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, mestre Sapo foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu se havia hospedado. Procurou a viola e acomodou-se, como da outra feita.
O sol saindo, acabou-se a festa e os convidados foram voando, cada um no seu destino. O Urubu agarrou a viola e tocou-se para a Terra, rru-rru-rru...
Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva, o Sapo mexeu-se e o Urubu, espiando para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.
— Ah! camarada Sapo! É assim que você vai à festa no céu? Deixe de ser confiado...!
E, naquelas lonjuras, emborcou a viola. O Sapo despencou-se para baixo que vinha zunindo. E dizia, na queda:
— Béu-Béu! Se desta eu escapar, nunca mais bodas no céu!
E vendo as serras lá embaixo:
— Arreda pedra, senão eu te rebento!
Bateu em cima das pedras como um jenipapo, espapaçando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena do Sapo, juntou todos os pedaços e o Sapo voltou à vida de novo.
Por isso o Sapo tem o couro todo cheio de remendos.
(Luís Câmara Cascudo)