Atualidade em questão - Prefácio
O poeta enquanto escritor é um ser histórico e atemporal. Ao passo que verseja a vida e tece suas reflexões, o faz sobre a perspectiva da atualidade, porém, não se prende ao tempo, posto que deste, aproveita as flexões. E se ao tempo respeita e obedece, no presente não pretere e ou esquece o passado, nem tampouco profetiza futuros, apenas os reverencia enquanto escreve, seja em prosa ou poesia. (Adriana Ribeiro, out/ 2021)
A escrita literária, indistintamente, suscita questões de vivências humanas tão comuns que são a um só tempo antigas e atuais, porém nunca ultrapassadas ou superadas definitivamente. Tais questões, se aparentemente antigas, tornam-se atuais na medida em que discutem problemas atemporais no espaço/tempo chamado “hoje” ou “agora”.
É, pois, sobre as questões da existência humana universais que as mentes pensantes da atualidade estão debruçadas. Uma parte voltada para a Biologia na busca de diferentes formas de prevenção e cura para os males do corpo e as perturbações da mente, para a preservação da fauna e da flora que se estende para a recuperação da saúde do planeta como um todo. E a outra debruçada sobre as relações sociais, políticas, históricas, geográficas, sociológicas, antropológicas, religiosas, entre outras áreas, buscando formas de estabelecer a paz mundial e possibilitar a convivência harmoniosa numa sociedade sadia física, psicológica e/ou espiritualmente, numa luta constante, a priori, para moldar uma coletividade solidária e oferecer uma vida de qualidade para todos.
No entanto, esse escrutínio das questões atuais não apenas remete tais pensadores aos estudos e análises dos fatos passados, das conquistas e perdas de outrora, mas também os orienta a considerar projeções para o futuro.
De modo que a tônica das discussões atuais consideram o protagonismo das novas gerações e a vida que se quer deixar como legado para os seus descendentes. Nessa perspectiva, o homem reflete sobre o que viveu, o que ainda quer viver e acerca do que deseja para o futuro próximo e a longo prazo.
Pensando assim é que os homens contemporâneos estabelecem reflexões, ideais e objetivos pontuais, produzindo conhecimentos teóricos, técnicos e tecnológicos possíveis. Ao passo que criam novas leis, receitas, fórmulas, e instrumentos de trabalho, produzindo legados para as novas gerações que testemunham suas necessidades, interesses e preocupações durante as suas passagens por este plano terreno.
E é nesse contexto de mentes pensantes, reflexivas e atuantes que estão inseridos os Escritores e os Poetas. Produtores de uma cultura literária milenar que estabelece vínculos entre as diferentes realidades espaço-temporais e transcende o corpo físico, numa fusão amálgama que mistura metafisicamente o que vive e faz o homem, suas sensações, emoções, desejos, sentimentos, fantasias e ideias, as escrevendo e descrevendo literalmente.
Pode se dizer, portanto, que somente o poeta consegue unir as esferas: corpo - mente - espírito neste espaço físico atemporal e pôr em questão aquilo que convencionou-se chamar de “atualidade” em forma de poemas, contos, crônicas, prosas poéticas e outros estilos de escrita, tendo em vista que, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, seria essa a sua vocação. Para o Poeta Nacional “embora não seja uma vocação desenvolvida consciente ou intencionalmente” ..., é esta que lhes dá “motivação para tentar resolver, através de versos, os problemas existenciais internos como angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo”.
E são exatamente os Poetas que fazem isso de modo brilhante aqui nesta coletânea literária belíssima. Pois, ao passo que versejam suas emoções se voltam para questionamentos existenciais de uma vida toda, trazendo à baila conflitos pessoais e coletivos atuais, porém não inéditos, como as implicações do isolamento social sobre os comportamentos, os sentimentos e as rotinas pessoais e interpessoais no Brasil e no mundo.
Nesta Antologia, intitulada ATUALIDADE EM QUESTÃO, VOLUME 2, Organizada pela Escritora e Poetisa Maura Luza Frazão respaldada pela Ações Literárias Editora, um número expressivo de Poetas contemporâneos reflete sobre as mais diferentes questões da vida cotidiana, entre elas as novas formas de convivências e relações virtuais, as discussões sobre o controle da disseminação e do combate às doenças contagiosas, as recentes demandas profissionais atreladas às tecnologias da informação, os problemas de ordem legal como os crimes de violência doméstica, feminicídio, discriminações e outros abusos, os transtornos emocionais, psicológicos e financeiros decorrentes da pandemia, como as crises e perdas familiares.
Desse modo, a referida Antologia reúne grandes nomes da literatura brasileira atual e, em variados estilos literários, aborda as questões clássicas da existência humana por meio de poesias engajadas e textos reflexivos. Do jeito que somente os Poetas são capazes de fazer, uma vez que são peritos em laurear a vida e exorcizar dores, perdas e mazelas humanas através de sensíveis e maravilhosos poemas.
Concluo pois, este humilde Prefácio, cuja escrita tanto me honra, fazendo um CONVITE aos leitores para que adentrem ao universo reflexivo da obra e se deleitem com as incríveis e poéticas ponderações dos maravilhosos coautores nela presentes, os quais colocam, literalmente, a nossa atualidade em questão.
Aproveitem a leitura!
Adriana Ribeiro, Poeta e Escritora de Arauá/Sergipe. Autora dos livros Coração poético: Sobrevivendo na poesia (2020) e Coração poético, volume 2: entre o amor e a filosofia (2021) – Editora Versejar.