A poesia lírica de Francisco Lobo da Costa

A POESIA LÍRICA DE FRANCISCO LOBO DA COSTA

Segundo Platão o verdadeiro amor pode purificar o homem ao permitir que ele se desprenda da realidade ilusória, a fim de contemplar o belo em si, o mundo das essências, do qual a Terra seria apenas sombras.

Sob essa perspectiva, não se busca o amor carnal, mas sim uma ideia.

Francisco Lobo da Costa, como todo autor romântico, cultivava na maior parte de sua poesia o amor platônico. Transforma-se em uma maneira de fazer o Eu lírico não se submeter aos desejos sensuais e, assim sublimá-lo, o amor!

Pode-se conjeturar que na poesia de Francisco Lobo da Costa o lírico-amoroso expressa os sentimentos, as emoções, conhecimentos, enfim, a concepção de mundo de um Eu fictício, que pode ou não ter características do-Eu autoral.

No texto lírico Lobiano observamos um discurso expressivo, com musicalidade e ritmo que transmite ao leitor a-voz poética, os pensamentos mais profundos que se revelam ao ao mundo interior do seu “Eu” lírico.

O gênero lírico consiste, na poesia (texto em verso) formada por quatro principais aspectos: o “ eu” lírico, a subjetividade, o lirismo (sentimentalismo) e a musicalidade.

Neste contexto, Francisco Lobo da Costa nos brinda com belos poemas líricos. O “eu” lírico, a natureza e o amor, são temas presentes em suas criações. Belíssimas descrições de paisagens surtindo precioso efeito tanto de leitura, musicalidade, quanto de visualização, da imaginação. Além das belas imagens narradas, impressionam, em seu lirismo as diversas nuances do amor e também da morte.

No poema: À Minha Mãe

Ó Deus! Eu curvo a fronte fulminada

Pelo fatal relâmpago da morte,

Que me levou esse bem!

Mas choro... e sofro ... e sinto que não vivo!

- Deus! Julgai minha dor –sou pobre órfão...

Vós tendes vossa mãe.

A fronte fulminada pelo fatal relâmpago da morte, conseqüências da morte em relação a sua vida. ( Não Vive)

No último verso a conclusão inesperada. Só ele está sozinho neste mundo. Até Deus, no céu, está junto de sua mãe.

No poema: Treno

Se tu me amasses... eu pediria um ósculo...

Um suspiro, uma flor...Se tu me amasses

Eu pediria-te mais... a vida...a vida...

Eu pediria, mulher, que me salvasses.

O amor não correspondido. O amor romântico, também como símbolo de vida. A sua existência dependendo da reciprocidade deste amor.

Empregou a palavra MULHER, igualmente designada como - DONZELA, CRIANÇA, MORENA, SERAFIM, SEREIA, ANJO em seus textos. Às vezes, apresentada como falsa e traiçoeira - PERIGOSA. Como, por exemplo, nos versos do poema “Remador da Barca Fria”

A Sereia, foge dela

Foge dela, Remador.

Na poesia de Lobo as flores simples, apresentando fragrâncias intensas significam a mulher que se transforma em açucena, camélia, lírio ou violeta espalhando encantamento. FLOR E ROSA são metáforas do sentimento AMOR que ele nunca consegue alcançar em seu “eu lírico. Mas, suas diversas versões do gênero feminino só atestam grande admiração por elas, suas musas inspiradoras e símbolos do amor.

No poema: Morrer de Amores

Depois, mais tarde, no cerrar da noite,

Lúgubre açoite sobre o chão se ouviu...

E um -Ai sentido...uma oração pedida...

Foi quando a vida lhe deixou...fugiu!

Dorme o mancebo que morreu de amores,

AH! Nem se reza por quem morre assim!

Canta a morte, prematura, por amor.

A tranquilidade e felicidade que desperta tal desfecho. O “eu lírico” , já antecipando sua breve passagem pela vida sem benquerer.

No poema: ESCUTA

À Elvira

Não creias, Elvira, que a lira do vate

Por outra vibrasse sincera canção

Pois só no remanso do exílio em que vive,

Teu nome sepulta-se em seu coração.

Não creias! Não creias que um dia eu te esqueça!

Não creias que o possa...não creias... ELVIRA!

Declara seu amor eterno e o compromisso de sempre louvá-lo, exaltá-lo. O “eu” lírico mais contundente em seus poemas é glorificar e enaltecer o amor. Mas...

No poema: VINGANÇA

E o ídolo que adorei reduzo a cinzas,

E sobre as cinzas me coloco em pé.

Julguei-te um anjo da vida,

Elevei-te a um céu ridente,

Mas, hoje, vejo, impudente

Que não passas de mulher!

Nestes versos, a lira lobiana é o desejo de vingança, por seu amor traído.

O eu-lírico afirma sua submissão ao domínio dos sentimentos terrestres, vãos.

Encontramos o termo MULHER empregado no sentido de traidora, falsa.

Para encerrar minha fala, OUSO dizer que quando leio a poesia de nosso valoroso vate lembro, é óbvio, em outra época, outra sociedade, outra cultura um dos maiores escritores da língua portuguesa – Luis Vaz de Camões com seus magníficos sonetos.

Salvo todas diferenças, a inspiração, o eu lírico, baseado no amor, na paixão não correspondida muito se assemelham .

Então, nada mais justo que para louvar nosso homenageado, termine com os versos de Camões, dizendo:

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE

TÃO CEDO DESTA VIDA DESCONTENTE,

REPOUSA LÁ NO CÉU ETERNAMENTE,

E VIVA EU CÁ NA TERRA SEMPRE TRISTE.

Inalva Froes
Enviado por Inalva Froes em 19/07/2022
Código do texto: T7563319
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