Usina Hidrelétrica de Itaipu

Como surgiu o embrião

No embalo de elevar o potencial econômico brasileiro, muitos estudos foram efetuados na região da badalada região do Salto das Sete Quedas do Rio Paraná, curso de água cuja nascente está no Brasil, e que faz divisa com o Paraguai.

Em 1953, a corporação britânica Light S.A., que há mais de um século abastecia cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, com o fornecimento de energia elétrica, pleiteou junto ao Governo brasileiro a concessão para o aproveitamento dos recursos hidrelétricos das cachoeiras do Salto de Sete Quedas, mas não lhe foi concedida autorização.

Algum tempo depois, no ano de 1956, a Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, composta por membros do Estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, recebeu autorização para empreender estudos e pesquisas para aproveitar o potencial energético do Salto das Sete Quedas, elemento preponderante para, futuramente, alimentar o parque industrial desses estados brasileiros. Porém, pela dificuldade de concentrar seus estudos a jusante desse elemento geográfico, essa Comissão não conseguiu alcançar resultados satisfatórios.

Ainda antes da Hidrelétrica de Itaipu existir, o engenheiro militar e capitão do Exército, Pedro Henrique Rupp, da 9ª Região Militar, destacada no Estado do Mato Grosso, aproveitou uma das cachoeiras do Salto de Sete Quedas e construiu uma hidrelétrica para abastecer a 5ª Companhia de Fronteira, como também a população da cidade paranaense de Guaíra.

O oficial do Exército de Caxias firmou convênio com sua Região Militar e o Serviço de Navegação do Prata, esta, uma autarquia subordinada ao Ministério da Viação e Obras Públicas, e assim construiu uma pequena hidrelétrica de apenas 1,2 mil quilowatts, e cuja inauguração ocorreu no ano de 1960.

Essa obra, como tantas outras, demonstram que profissionais brasileiros da área de engenharia reuniam conhecimento técnico suficiente para edificações de setores diversos do ramo de Engenharia.

A Hidrelétrica de Rupp funcionou normalmente até o dia 13 de outubro de 1982, quando foi desativada e desmontada para a área ser inundada pelo gigantesco lago de água doce formado pela barragem de Itaipu.

As tratativas entre brasileiros e paraguaios para o aproveitamento das águas do Rio Paraná, como elemento gerador de energia elétrica, foram iniciadas em 25 de setembro de 1965 entre autoridades brasileiras e paraguaias.

Então, cerca de 6 anos após os loiros do oficial Rupp, mais precisamente nos dias 21 e 22 de junho de 1966, a delegação paraguaia comandada pelo chanceler Sapeña Pastor e a delegação brasileira do general cearense e chanceler Juracy Magalhães se reuniram nas instalações do Hotel das Cataratas, na cidade brasileira de Foz do Iguaçu e no Hotel Acaray, na cidade paraguaia de Puerto Presidente Stroessner, a atual Ciudad del Este, quando redigiram e assinaram a Ata das Cataratas.

Uma vez firmado o documento entre as partes, começaram os estudos para o aproveitamento energético dos Saltos de Sete Quedas até a foz do Rio Iguaçu. Este rio separa o Brasil da Argentina. No documento, ainda, ficou acordado que a geração de energia elétrica, a ser futuramente gerada, seria equitativamente dividida entre as partes acordadas, como também, a energia não consumida por uma das partes, seria adquirida pela outra parte, e de acordo com preço justo.

O documento garantia a geração da unidade geradora de energia elétrica, uma obra binacional em um dos rios que compõem a Bacia do Prata, esta, formada pelos rios do Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Argentina. Essa bacia hidrográfica é composta por 4 milhões de metros quadrados.

Com os olhos voltados para um futuro aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná, o Governo do Brasil e do Paraguai começaram a estreitar os laços de amizade, ao reativarem a Comissão de Comércio e Investimento que havia sido criada em janeiro de 1956.

A reativação da Comissão permitiu o Brasil comprar 45 mil quilowatts de energia elétrica gerados pela paraguaia Hidrelétrica Rio Acaray, conforme acordo firmado pela empresa paraguaia ANDE e a brasileira Copel, Companhia Paranaense de Energia Elétrica; permitiu estudos de engenharia para a construção de uma ponte sobre o paraguaio Rio Apa; como permitiu a brasileira Eletrobrás se colocar à disposição para prestar assistência financeira à Comissão Mista Técnica Brasileiro-Paraguaia. Esta, havia sido criada em 12 de fevereiro de 1967 para elaborar estudos referentes ao aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná.

Por conta da cooperação entre as nações irmãs, foi construída uma ponte e uma rodovia para fomentar o comércio e a circulação de pessoas e de tráfego entre as partes amigas. E para comemorar a inauguração da Rodovia BR-277, o general e presidente do Brasil, Arthur da Costa e Silva, se reuniu com seu homólogo paraguaio, Alfredo Stroessner Matiauda, na cidade brasileira de Foz do Iguaçu, no dia 27 de março de 1969. A Rodovia liga a cidade de Assunção, capital do Paraguai, ao Porto Livre do Paraguai, na cidade brasileira de Paranaguá.

Muitos foram os gargalos políticos que tiveram de ser ajustados para a “criancinha” nascer saudável. Na década de 1960 o Brasil teve que travar negociações técnicas com o Paraguai e com a Argentina, todos, banhados pelo Rio Paraná. O acordo com a nação portenha ficou selado em outubro de 1979, na gestão do presidente brasileiro João Baptista de Oliveira Figueiredo.

O chamado Acordo Tripartite, firmado por Brasil, Paraguai e Argentina, finalmente estabeleceu horários diários de descarga das águas do reservatório de Itaipu, e assim evitou-se que houvessem “descargas bruscas do nível do Rio Paraná a jusante da barragem”, como a fixação de cotas de aproveitamento hidrelétrico, tanto em Itaipu como no trecho do rio onde a Argentina desejava construir as hidrelétricas de Corpus e Yacyretá.

A preocupação do Governo argentino estava relacionada a essas hidrelétricas que seriam edificadas a montante da barragem de Itaipu. Após firmar acordos com Brasil e Paraguai, a Argentina deu início aos serviços de projetos de suas unidades geradoras de energia.

Com o início da construção da Usina Hidrelétrica de Yacyretá, na década de 1980, essa usina binacional argentina-paraguaia tem capacidade instalada de 3.200 MW. Quando à Hidrelétrica de Corpus, situada a 285 quilômetros a montante da Hidrelétrica de Itaipu, até o ano de 1996 os serviços construtivos não foram iniciados, pelo fato da Província de Missiones, banhada pelo Rio Paraná, e que faz fronteira com o Brasil e Paraguai, haver sido rejeitada sua construção por uma consulta popular.

Ponte Internacional da Amizade

Antevendo o enorme benefício econômico que a futura Usina Hidrelétrica de Itaipu traria aos dois países latino-americanos, os laços de cooperação se estreitaram ainda mais, com a construção da Ponte da Amizade, edificada sobre as águas revoltas do Rio Paraná, a qual passou a ligar a cidade brasileira de Foz do Iguaçu com a paraguaia Ciudad del Este.

Edificada em concreto armado, a ponte com quase 553 metros de comprimento permitiu um fenomenal intercâmbio fronteiriço que tem sido considerado um dos “maiores centros de consumo” do planeta que habitamos.

O tratado firmado entre as partes para a edificação dessa grandiosa obra de engenharia foi assinado no dia 29 de maio de 1956, pelo presidente brasileiro Juscelino Kubitschek de Oliveira e pelo presidente paraguaio Alfredo Stroessner. E a comissão encarregada de elaborar o projeto e efetuar a execução dos serviços construtivos foi formada no dia 14 de novembro desse mesmo ano

A construção dessa obra de arte teve início em 1959, e sua inauguração ocorreu no dia 27 de março de 1965. Ela tem altura de 78 metros, o maior vão-livre mede 290 metros, tem largura de 13,50 metros, comprimento de 552,40 metros, está situada em um local estreito que fica entre a cidade de Foz do Iguaçu e o Salto das Sete Quedas, o canal é profundo e de águas revoltas. O Rio Paraná está sujeito a duas enchentes anuais, uma entre os meses de junho ou julho e outra entre novembro e dezembro. A cheia de 1905 elevou o nível normal das águas a 30 metros de altura.

Sua inauguração ocorreu no dia 27 de março de 1965, com a presença do general e presidente brasileiro, Humberto de Alencar Castello Branco, e do presidente paraguaio, Alfredo Stroessner.

Nela, foram consumidos 43 mil metros cúbicos de concreto armado; 14 mil toneladas de cimento; 2.900 toneladas de aço para construção; 120 mil metros cúbicos de madeira para a confecção de caixaria, escoras e andaimes; 50 toneladas de pregos produzidos nos estados brasileiros de Santa Catarina, Paraná e São Paulo;12 mil toneladas de parafusos oriundos dos estados brasileiros de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; 33 toneladas de arame para construção produzidos no Estado do Paraná; cerca de mil operários de construção civil; deslocamento de 600 famílias instaladas na Vila Operária; e 1.300 toneladas de aço laminado, cabos, rebites e parafusos de alta tensão para as peças metálicas do cimbre.

Para desafogar o gigantesco engarrafamento gerado pelo grande número de carros de passeio e de veículos pesados que trafegam na Ponte Internacional da Amizade, no sentido Brasil-Paraguai e vice-versa, está sendo construída a Ponte da Integração Brasil-Paraguai, devido a uma parceria que envolve o Governo do Paraná, da Itaipu Binacional e do Governo Federal, um investimento de 174 milhões de reais.

Com 760 metros de comprimento e vão-livre de 470 metros, a ponte estaiada terá 2 pistas simples de 3,6 metros de largura, 2 calçadas laterais de 1,70 metros de largura, além de acostamento com 3 metros de largura.

Tendo seus 2 mastros principais concluídos, sendo um em território brasileiro e o outro em solo paraguaio, os serviços construtivos encontram-se voltados para a execução do tabuleiro central da ponte que liga a cidade brasileira de Foz do Iguaçu à cidade paraguaia de Presidente Franco, e cuja conclusão está prevista para o ano de 2022. No lado brasileiro, o acesso que liga a ponte em construção e a BR-277 terá um contorno de 15 quilômetros.

Tratado de Itaipu

Finalmente, após a solução de vários problemas, o Governo brasileiro e o paraguaio, no dia 26 de abril de 1973, assinaram o Tratado de Itaipu, documento que garantiu o início das obras para a construção da enorme barragem que iria gerar energia elétrica. E conforme uma cláusula contratual, o Brasil ficou credenciado a comprar, a preço fixo, a energia excedente não consumida pelo parceiro paraguaio.

Quase um século antes de se construir a Usina Hidrelétrica de Itaipu, profissionais brasileiros reuniam uma bagagem tecnológica suficiente para construir usina geradora de energia elétrica. A primeira usina foi construída no ano de 1883, na cidade mineira de Diamantina, aproveitando as águas do Ribeirão do Inferno, com uma queda de apenas 5 metros. E o cearense Delmiro Gouveia, pelo fato de haver construído uma usina geradora de energia, em 1913, para abastecer sua fábrica têxtil e iluminar 256 residências para seus operários, teve sua vida ceifada e sua obra destruída. E tudo isso, devido à inveja de uns e à cobiça estrangeira de outros.

A edificação da obra gigantesca não era problema para os profissionais de engenharia brasileiros, porquanto dominava a tecnologia de construção de barragens, produzia os materiais essenciais, tinha o curso de água potencialmente capaz para gerar muita energia elétrica para abastecer o mercado consumidor, mas não tinha os recursos financeiros, em caixa, para dar o pontapé inicial dos serviços.

O cearense general presidente da Eletrobrás e primeiro diretor-geral da Usina Hidrelétrica de Itaipu, José Costa Cavalcanti (1918 a 1991), para obter os recursos financeiros, necessários para dar início aos serviços construtivos do enorme empreendimento, bateu à porta do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial (Bird), mas deram-lhe com a porta na cara. É que banqueiro judeu das Treze Famílias, jamais, poderia financiar uma obra dessa envergadura, pois, tornaria a nação brasileira em condições de gerar um enorme desenvolvimento econômico, e assim a tornaria independente e fora de controle.

O choque financeiro quase lançou por terra o sonho de liberdade energética. Mas o general de fibra mudou apenas seu norte de atuação. A solução viável foi a de realizar concorrência internacional para as enormes escavações em rocha.

Como diz um adágio popular de que “quem não tem cão caça com gato”, foi lançado mão de um sistema de consórcios de empresas brasileiras e paraguaias dotadas de conhecimento tecnológico de ponta e de uma sólida estrutura econômico-financeira que viabilizasse o empreendimento gigantesco.

Os serviços de construção civil couberam ao Consórcio Brasileiro-Paraguaio Unicom/Conempa, sendo que o índice de nacionalização brasileiro foi da ordem de quase cem por cento. Das construtoras brasileiras que participaram do consórcio, destaque para a Cetenco, CBPO, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez/Mendes Júnior.

O Consórcio Itaipu Eletromecânico (CIEM), constituído por seis corporações brasileiras, uma paraguaia e seis europeias, ficou encarregado pela aquisição das turbinas e geradores. Sendo que as empresas brasileiras alcançaram o índice de nacionalização acima de 85% na fabricação e montagem das unidades geradoras de energia elétrica. Dessas empresas, destaque para as corporações brasileiras Bardella S.A. Indústrias Mecânicas, BSI-Indústrias Mecânicas S.A., Indústria Elétrica Brown Bover S.A, Mecânica Pesada S.A., Siemens S.A.

Quanto ao Consórcio Itamon, formado por oito empresas brasileiras e uma paraguaia, ficou incumbido pela montagem dos equipamentos permanentes da hidrelétrica. As empresas brasileiras que participaram do Consórcio foram a Araújo S.A. Engenharia e Montagens; EBE-Empresa Brasileira de Engenharia S.A.; Montreal Engenharia S.A.; Sertep S.A. Engenharia e Montagens; Techint-Companhia Técnica Internacional; Sade-Sul-Americana de Engenharia S.A.; Teneng-Técnica Nacional de Engenharia S.A.; Ultratec Engenharia S.A.; e pela paraguaia Consórcio de Ingeniería Electromecánica S.A.-CIE.

A obra construtiva proporcionou aos profissionais paraguaios em enorme cabedal de conhecimento tecnológico em construção de barragem e montagem de equipamentos geradores de energia elétrica.

Sem financiamento externo, a solução encontrada foi a garimpagem de recursos junto a instituições bancárias brasileiras. No ano de 1996, os investimentos aplicados na obra atingiram 11,7 bilhões de dólares que, somados aos encargos financeiros, chegaram a 20 bilhões de dólares.

Com a negação de financiamento do BID e do Bird, o diretor-geral de Itaipu, general Costa Cavalcanti, gastou a sola de muitos sapatos à procura de financiamento junto a casas bancárias do eixo Rio-São Paulo-Brasília, porquanto a continuidade dos serviços construtivos não podia sofrer paralisação alguma.

E foi com os olhos fitos nos “Andes” que o destemido general emitiu seu grito de vitória: “Dizem que Itaipu é uma obra faraônica. Mas é preciso lembrar que os faraós faziam obras para a morte, enquanto Itaipu vai produzir vida, gerar desenvolvimento” para a nação brasileira.

No mês de outubro de 1995, ao assumir o cargo de diretor-geral de Itaipu, Euclides Scalco deparou-se com o fantasma da dívida, e caso não fosse ajustada, em 2023, data em que o Tratado de Itaipu será renegociado, chegaria ao montante de 88 bilhões de dólares. Enfim, após várias tratativas, em setembro de 1997, o presidente da Eletrobrás, Firmino Ferreira Sampaio Neto, o diretor-geral brasileiro, Euclides Scalco, e o diretor-geral paraguaio, Miguel Luciano Jimenez Boggiano, ambos, da Itaipu Binacional, dentre autoridades outras, firmaram o acordo que permitiria Itaipu quitar a dívida em 2023.

A partir da década de 1950, período em que foi criada a Petrobrás, técnicos brasileiros passaram angariar um enorme cabedal de conhecimento tecnológico, também, no ramo de construção de barragens geradoras de energia elétrica, rodovias, ferrovias, construções habitacionais, como expandiu a produção de aço, cimento e demais produtos na área de construção civil, mecânica e demais ramos da Engenharia.

E quando chegou a vez da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, profissionais brasileiros se encontravam amadurecidos para enfrentar os desafios tecnológicos, e a desempenhou com extrema eficácia. Todavia, para o setor tecnológico paraguaio foi uma grande oportunidade de agregar conhecimento, porquanto a nação guarani se encontrava envolta no setor agrícola, baixo crescimento populacional, precária rede de transportes, enfim, uma economia fincada em uma elevada concentração de propriedades latifundiárias.

Com uma renda per capita de 1,2% ao ano, o setor produtivo guarani começou a sair das cinzas, com a construção da barragem, que gerou conhecimento tecnológico, desenvolvimento industrial, capacitou a mão de obra, como desenvolveu seu comércio.

Canteiro de obra

O local escolhido a montante do Salto das Sete Quedas não ocorreu por acaso, mas fruto de muita pesquisa de campo dentre os 50 locais pesquisados por profissionais consultores, os quais se debruçaram em uma análise econômica, técnica e política. Depois de consultar diversas alternativas, chegou-se à conclusão de que o melhor local seria em torno de pequeninas ilhotas existentes em uma curva do Rio Paraná, onde a correnteza incidia contra barrancos das margens.

Essa escolha descartou o local em que o Rio Paraná se encontra com o Rio Iguaçu, formando as divisas do Brasil com Argentina e Paraguai. Os nativos guaranis, segundo Nilson Monteiro, em sua obra Itaipu, A Luz, costumavam chamar essas pequenas ilhas pelo nome Itaypu, que, nesse idioma significa “A pedra que canta”. ITA significa Pedra; Y corresponde a Água; e PU quer dizer Barulho. Com a construção da barragem em concreto armado, do tipo gravidade aliviada, e a formação do enorme reservatório, as ilhotas Itaypu ficaram submersas.

No dia 17 de maio de 1974, com 100 milhões de dólares em caixa, o mineiro Rubens Vianna de Andrade, que havia participado da construção da Usina Hidrelétrica do Paulo Afonso, na cidade baiana de Paulo Afonso, foi nomeado Superintendente de Obras (SOT).

O Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso é composto por um conjunto de usinas que está localizado na cidade de Paulo Afonso, é formado pelas usinas de Paulo Afonso (I, II, III, IV) e Apolônio Sales (Moxotó), e que produz 4.279,6 megawatts de energia gerada a partir da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso, com um desnível natural de 80 metros.

Esse Complexo de usinas tem a terceira maior capacidade instalada dentre as usinas brasileiras, perdendo apenas para a binacional Hidrelétrica de Itaipu (14.000 MW), Belo Monte (11.233 MW) e Tucuruí (8.000 MW).

A construção da obra teve início no mês de fevereiro de 1949, e foi inaugurada pelo presidente João Fernandes Campos Café Filho, no dia 15 de janeiro de 1955.

Administrada pelo brasileiro, Rubens Vianna, e por um vice-presidente paraguaio, a SOT montou uma equipe de engenheiros, experimentados na execução de obras do setor elétrico, como atuou estritamente com o consórcio brasileiro Engerio/Logos, que, por sua vez, estava associado ao grupo consultor paraguaio Alto Paraná.

O planejamento elaborado por esse grupo de notáveis, vigorou “entre o segundo semestre de 1974 e meados de 1975”, época em que teve início os trabalhos do canteiro de obra, o acampamento, os escritórios, o almoxarifado, o refeitório, o alojamento, os postos de combustíveis, melhoria nas estradas de acesso, edificação de dois ancoradouros, como a contratação de uma empresa paraguaia para realizar o transporte de pessoal, de materiais construtivos e de equipamentos de pequeno porte. Enquanto, para o transporte de material pesado, foi construída uma barcaça no estaleiro de Porto Epitácio, cidade do Estado de São Paulo.

Coube à SOT localizar o canteiro industrial, comprar determinada quantidade do equipamento pesado, fiscalizar a execução dos serviços construtivos, isso, de acordo com especificações técnicas, como o devido cumprimento das etapas estabelecidas pelos diversos consórcios montados por empresas de engenharia.

Os ensaios dos corpos de provas, para análise da resistência de determinados produtos, ficaram a cargo de laboratórios que examinariam a qualidade dos solos, do concreto armado, da hidrologia, da hidráulica e da geologia de rochas.

Quanto ao canteiro industrial, abrigou as centrais de concreto, de refrigeração para obter a temperatura ideal do concreto a ser lançado na caixaria, de moinhos de clínquer, dos cabos aéreos, das máquinas escavadeiras, e de caminhões do tipo fora-de-estrada. O clínquer é um produto resultante da fusão entre a argila e o calcário que entra na fabricação do cimento.

A Comissão Mista Técnica Brasileiro-Paraguaia, montada em fevereiro de 1967, acompanhou a elaboração do projeto da usina a cargo do consórcio composto pela corporação norte-americana, International Engineering Company Incorporation (IECO) e a empresa italiana, ELC Eletroconsult Spa.

Em seu projeto para a execução de uma barragem maciça, que iria consumir uma enorme quantidade de ferragem, uma volumosa quantidade de concreto armado, uma elevação dos custos, como prazo alongado para a execução dos serviços, o engenheiro indiano Gomurka S. Sarkaria, responsável pela escolha do local exato para a edificação da barragem, como de sua plasticidade arquitetônica, a concebeu com a utilização de aberturas, visando “conter eficientemente o peso da água do reservatório”, como uma economia de materiais.

Então, o projeto original a ser executado pelo consórcio IECO-ELC sofreu duas alterações. A primeira, foi a edificação de uma ponte sobre o Canal de Desvio, obra de arte que liga o território brasileiro ao paraguaio, para facilitar a comunicação das partes envolvidas. A segunda, consistiu na instalação de sete torres metálicas dotadas de cabos aéreos, que grandemente facilitariam o transporte de caçambas cheias de concreto armado, e seu lançamento dentro das formas de concretagem.

Por constituírem elementos móveis, a montagem das torres facilitaria o deslocamento ao longo das margens do Rio Paraná, e os cabos aéreos permitiriam o constante deslocamento das caçambas metálicas em direção aos locais a serem concretados.

Essa estratégia já tinha sido empregada e aprovada em outras obras de engenharia, fato que gerou uma rapidez na execução dos serviços e ganho de tempo.

Ao término dos serviços construtivos, três desses cabos aéreos foram desmontados, e os restantes lançados dentro do reservatório que se formaria.

Com a chegada de máquinas, com a construção de vilas providas de unidades residenciais para moradia do corpo técnico, operários e funcionários, tanto no lado brasileiros como no paraguaio, foi dado início aos trabalhos para a edificação da barragem. Cerca de 5,1 mil unidades residenciais foram erguidas entre os anos de 1975 e 1977, e em 1978 foram edificadas mais outras 3.960 habitações.

Desse total de 9,06 mil unidades, cerca de 4,935 casas foram construídas na margem esquerda do Rio Paraná, próximas à cidade brasileira de Foz do Iguaçu, e 4,125 unidades na margem direita, próximas às cidades paraguaias de Puerto Presidente Stroessner, Hernandarias, Puerto Presidente Franco e Colônia Puerto Presidente Stroessner.

As unidades construídas na margem direita ficaram a cargo de construtoras paraguaias, com o emprego de mão de obra, materiais e equipamentos guaranis, e as unidades erguidas na margem esquerda foram executadas por corporações brasileiras.

Até o ano de 1981, as vilas instaladas nas duas margens do rio abrigavam uma população de 39,9 mil pessoas ocupando as unidades habitações unifamiliares, cerca de 18.938 alunos encontravam-se matriculados em colégios instalados, ambulatórios médicos e odontológicos efetuaram 2.226.457 atendimentos, como 140 mil refeições diárias eram preparadas para alimentar os barrageiros.

A cozinha do refeitório central contou com o apoio de 180 cozinheiros(as) que costumavam se revezar 24 horas diárias para atender a demanda.

Ainda, foram instaladas 4 centrais de britagem, sendo 2 na margem esquerda e 2 na margem direita, dotadas com capacidade para produzir 2.430 toneladas/hora de agregados; 6 centrais para produzirem 180 metros cúbicos de concreto armado, cada; para viabilizar transporte e lançamento de concreto armado foram instaladas 2 monovias providas com a capacidade de 900 metros cúbicos/hora; 7 cabos aéreos; e 13 guindastes de torre.

Canal de Desvio

Para iniciar os serviços construtivos da barragem, primeiro, foi preciso efetuar o desvio do curso normal do Rio Paraná por meio de um canal a ser escavado em ambiente rochoso, com extensão de 2 quilômetros, largura de 150 metros e profundidade de 90 metros. Foram escavados cerca de 55 milhões de metros cúbicos de elementos rochosos em seu leito original, uma façanha publicada pela revista estadunidense “Popular Mechanics”, no mês de dezembro de 1995.

Foi necessário a edificação de duas Ensecadeiras em concreto armado, no início e no fim do Canal de Desvio, para então garantir a construção da estrutura, em concreto armado, que se prestaria para controlar a penetração das águas revoltas.

As escavações começaram em fevereiro de 1976, todavia, devido à não-entrega de equipamentos importados que seriam usados nas escavações, a execução dos serviços foi afetada, e isso alterou o Cronograma da obra. O atraso comprometeu a concretagem que deveria ocorrer em agosto de 1977, como afetaria a vazão do rio, favorável para a edificação das Ensecadeiras previstas para outubro de 1978.

Os serviços sobre o leito rochoso principal da barragem somente teria início após a conclusão das obras de escavação e concretagem do Canal de Desvio.

De formato em arco, as Ensecadeiras foram demolidas às 11h15 do dia 20 de outubro de 1978, por meio de uma explosão detonada por 58 toneladas de dinamite, e com isso as águas começaram a fluir pelo Canal de Desvio. Ao evento compareceram o general e presidente brasileiro, Ernesto Geisel, o presidente paraguaio, Alfredo Stroessner, e o general brasileiro João Baptista Figueiredo.

Devido ao ritmo imposto pela equipe do engenheiro Ronan Rodrigues da Silva, a última camada de concreto armado foi lançada “na noite de 19 de setembro de 1978”. E uma vez processada a comemoração da abertura do Canal de Desvio, que ocorreu no dia 28 de outubro desse ano, o foco construtivo foi voltado para a edificação da barragem principal e da casa de força. Os 22 milhões e 500 mil metros cúbicos de rochas escavados foram utilizados na composição do concreto armado e no enrocamento de barrancos de terra da barragem. A escavação do Canal de Desvio como dos demais trechos da barragem geraram o total de 46 milhões de metros cúbicos de rocha, os quais foram reaproveitados.

Construção da obra

No ano de 1974, data em que teve início da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, a pequena cidade de Foz do Iguaçu, localizada na região oeste do Estado do Paraná, tinha uma população de 20.147 habitantes.

E quando da conclusão dos serviços construtivos da Usina geradora de energia elétrica, em outubro de 1982, a população saltou para 257.971 habitantes, segundo dados do Wikipédia.

Em apoio à construção da Usina, o Governo Federal do general Ernesto Geisel, com olhos fitos no futuro, investiu recursos para melhorar a infraestrutura do espaço urbano do município, com a criação de um sistema de telecomunicações, ampliação do aeroporto local, pavimentação de ruas de barro vermelho, e a inciativa privado passou a investir recursos no setor hoteleiro e de serviços. Também, o governo paraguaio passou a melhorar a estrutura urbana do município de Ciudad del Este.

Focado em ofertar energia elétrica para abastecer o mercado interno brasileiro, autoridades governamentais do Brasil e do Paraguai arregaçaram as mangas para desafiar obstáculos que se opunham à edificação da maior de todas as hidrelétricas. Tanto que, entre os anos de 1978 e 1981, a demanda de mão de obra no canteiro de obras chegou a 40 mil operários atuando em obras nas margens esquerda e direita do Rio Paraná.

Com a dinamitação das ensecadeiras, as águas do Rio Paraná passaram a circular pelo Canal de Desvio, o que permitiu dar início à construção da barragem principal, localizada na margem direita do curso d’água, cujo leito está situado na cota 40.

Preocupado com o atraso no Cronograma da Obra, no final do ano de 1977, época em que teve início o lançamento da primeira caçamba de concreto armado dentro da caixaria de madeira, a cúpula diretora de Itaipu viajou à cidade de São Paulo para se reunir com os gestores responsáveis pelas construtoras consorciadas, e nesse encontro ficou resolvido o xis da questão atordoadora.

A solução encontrada pelo gestor da construtora Andrade Gutierrez foi a de se levar para Itaipu uma equipe de profissionais especializados na construção de barragens, do quadro da Construtora Mendes Júnior, os quais estavam concluindo a edificação da Usina Hidrelétrica de Itumbiara, uma cidade do Estado de Goiás.

Foi assim que a equipe comandada pelo engenheiro Ronan Rodrigues da Silva chegou ao canteiro de obras de Itaipu, no dia 3 de março de 1978. Um de seus encarregados era especializado em caixaria de madeira, um segundo tinha especialização em armadura de ferro para concreto armado, e um terceiro era especializado em lançamento de concreto na caixaria de madeira.

No primeiro mês de atuação dessa equipe, foram executados 108.500 metros cúbicos de concreto armado. No segundo mês foi batido o recorde sul-americano, com a concretagem de 134 mil metros cúbicos de concreto, uma façanha que valeu um churrasco que consumiu as carnes de 15 bois abatidos.

Uma vez a montagem da caixaria e da ferragem em seu interior, vinha o lançamento do concreto, mas este dependia dos estoques de areia e de pedra britada. A areia era extraída do Rio Paraná, a brita resultou da extração de pedra do Canal de Desvio, enquanto o cimento, o ferro e as chapas de aço foram obtidas no mercado interno brasileiro, ficando descartado a importação desses produtos.

A fábrica de cimento do Paraguai, Valle-Mi, e as fábricas brasileiras Companhia de Cimento Portland Rio Branco, Itabira Agro-Industrial, Fábrica de Cimento Santa Rita, Fábrica de Cimento Itambé, Companhia de Cimento Portland Barroso, Fábrica de Cimento Eldorado e Companhia de Cimento Portland Goiás abraçaram a causa de aumentar a capacidade produtiva para atender a demanda construtiva da barragem em execução. Essa tomada de decisão elevou o consumo médio anual, do produto, a cerca de 500 mil toneladas.

Para a colocação de diversos materiais produzidos em fábricas nacionais e colocados no Canteiro de Obra, foi necessário a mobilização de 20.113 caminhões, 10.011 veículos comuns e 6.648 vagões ferroviários, os quais foram usados para transportar as sacas de cimento, as barras de ferro, as chapas de aço e a cinza volante extraída do carvão de pedra.

Quanto ao transporte marítimo, este foi descartado devido ao congestionamento do porto paranaense de Paranaguá.

As chapas de aço foram fornecidas pela USIBA, sediada na Bahia, e cerca de 60 vagões da Rede Ferroviária Federal e 40 vagões da Fepasa se prestaram para abastecer o Canteiro de Obra de Itaipu.

Considerada a maior de todas as hidrelétricas, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, incialmente, era composta por 18 unidades geradoras de 700 MW, tendo cada unidade potência instalada de 12.600 MW. Numa etapa posterior seriam instaladas mais duas unidades geradoras.

Segundo o entendimento do engenheiro Mário Penna Bhering, que havia sido diretor da Eletrobrás na gestão do presidente do Brasil, Arthur da Costa e Silva, o sucesso exitoso da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu ocorreu devido ao fato de o ministro das Minas e Energia, general Costa Cavalcanti, haver tomado duas decisões fundamentais. Primeiro, contratar os serviços do engenheiro Ronan Rodrigues da Silva. Segundo, haver adquirido a quase totalidade dos equipamentos eletromecânicos junto ao mercado brasileiro. Esses equipamentos foram financiados pelo Finame, o mesmo que Agência Especial de Financiamento Industrial, e fabricados pelo Consórcio Siemens-Asea Brown Boveri e Volth-Mecânica Pesada.

Unidades geradoras de energia

No dia 20 de outubro de 1978 foi firmado um contrato com o Consórcio Itaipu Eletromecânico, no valor de 800 milhões de dólares para a aquisição dos tubos geradores de 700 megawatts, cada, e das turbinas. A cerimônia contou com a presença de 475 jornalistas brasileiros e latino-americanos, como de correspondentes de veículos de comunicação europeus e estadunidenses. (p.54)

Com o término da fase de concretagem dos serviços, teve início a fase de montagem das unidades geradoras de energia elétrica, constituídas por peças de tamanho e peso gigantescos.

A grande dor de cabeça recaiu sobre o fato de como efetuar o transporte da única peça, a mais pesada de todas, produzida na cidade de São Paulo, conhecida como roda de turbina, com 300 toneladas de peso, 4,5 metros de altura e diâmetro de 8,6 metros.

A peça devia ser transporta ao Canteiro de Obra de Itaipu por uma carreta provida de 256 pneus e de dois cavalos mecânicos, tendo cada cavalo 16 eixos. Esse monstro sobre rodas tinha capacidade de transportar 400 toneladas, mas, em seu deslocamento até o local da obra, em Foz do Iguaçu, exigia rodovias e pontes capazes de suportar o peso da carga e do veículo em movimento.

A Rodovia Raposo Tavares foi descarta, pois, não reunia condições estruturais para suportar o peso gigantesco, e sua recuperação levaria muito tempo. Enfim, a escolha recaiu sobre a Rodovia Castelo Branco, apesar desta ter 1.350 quilômetros de percurso mais longo. (p.76)

O transporte da roda de turbina levou três longos meses para chegar ao Canteiro de Obra, pelo fato de a Rodovia sofrer reformas em seu sistema viário. A última turbina foi transportada em apenas 26 dias.

O transporte no interior das turbinas e no interior da Casa de Força, contou com o apoio de potentes pontes rolantes.

A gigantesca carreta deixou a cidade de São Paulo no dia 4 de dezembro de 1981 e chegou a Itaipu no dia 3 de março de 1982, sendo recebida em clima de festa pelos barrageiros.

A primeira das 18 turbinas, cada uma com capacidade de produzir 700 megawatts de energia, teve seu Giro Mecânico no dia 17 de dezembro de 1983.

O Giro Mecânico serviu, apenas, para efetuar um teste dinâmico na primeira turbina, com a finalidade de observar, como ajustar o bom funcionamento do equipamento, ainda antes do mesmo entrar em operação.

Essa turbina, a primeira, entrou em operação no dia 5 de maio de 1984, e a segunda turbina passou a produzir energia no dia 1º de março de 1985. A 18ª turbina foi inaugurada no dia 6 de maio de 1991, com a presença do presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, e do presidente do Paraguai, Andrés Rodrigues, e entrou em fase de produção de energia em 30 de maio do mesmo ano.

A Casa de Força, com 968 metros de comprimento, abriga 18 geradores hidrelétricos, e cada uma pesa 3,3 toneladas. Posteriormente, mais 2 unidades seriam instaladas.

Localizada na cota 108, esse ambiente abriga 9 unidades geradoras de 50 Hz e 9 unidades geradoras de 60 Hz. Cada unidade obedece a um espaçamento de 34 metros uma da outra.

Cerca de 18 Condutos Forçados, de formato cilíndrico, cada um tem 10,5 metros de diâmetro interno, e transportam, cada, 690 metros cúbicos de água por segundo, do Reservatório a cada turbina.

No Canteiro de Obra, cada gerador sofreu um processo de soldagem, ajuste e empilhamento de placas para compor o anel magnético do rotor. E uma vez ajustado, cada gerador foi transportado por duas pontes rolantes de mil toneladas, cada, ao poço destinado a cada unidade geradora.

O eixo de cada turbina pesa 130 toneladas, tem 2,6 metros de diâmetro e 5,5 metros de altura. Esse eixo, uma vez acoplando à roda da turbina e ao gerador, transforma a energia mecânica em energia elétrica.

Na manhã do dia 5 de novembro de 1982, o presidente brasileiro, João Baptista Figueiredo, e o presidente paraguaio, Alfredo Stroessner, posicionados no topo ou crista da barragem, exatamente, na fronteira entre os dois países latino-americanos, além de “descerem a placa” comemorativa, acionaram as 14 comportas do Vertedouro para escoar o excesso de água do Reservatório.

Às 12h40 do dia 5 de maio de 1984, em uma operação conjunta com a paraguaia Usina Hidrelétrica Acaray, a binacional Usina Hidrelétrica de Itaipu começou a gerar energia elétrica. E no período da manhã de 25 de maio desse ano, para comemorar o “Dia de Júbilo”, fruto de um decreto presidencial, buzinas de veículo automotores, sinos de igrejas, campainhas residenciais e sirenes de corporações fabris soaram, tanto no Brasil como no Paraguai, para comemorar a conclusão da grande obra.

Finalmente, ladeados pela comitiva brasileira de 45 membros e pela paraguaia de 23 componentes, os presidentes do Brasil e do Paraguai efetuaram a inauguração oficial da unidade geradora de energia, apesar de apenas 2 unidades geradoras estarem operando.

Ao substituir o general Costa Cavalcante, que foi seu colega de farda e, também, de turma, na Escola de Estado-Maior do Exército, na direção da Itaipu Binacional, no dia 17 de maio de 1985, o general paranaense Ney Braga providenciou a transferência do centro de decisão da empresa, da cidade do Rio de Janeiro para a cidade paranaense de Curitiba, como, em sua gestão se processou a montagem de mais 14 unidades geradoras de energia elétrica.

A Barragem de Itaipu tem 8 quilômetros de comprimento, 196 metros de altura e espessura tal, que diariamente, um ônibus circula sobre sua crista ou topo transportando turistas de várias nações que visitam a obra gigantesca, começou a transformar energia mecânica em energia elétrica no dia 5 de maio de 1984, após 10 anos de trabalhos construtivos.

O Brasil era uma nação de economia primária no início do Século XX, mas a governança, a exemplo de Rui Barbosa que costumava fitar os Andes, tinha os olhos voltados para um aproveitamento futuro da capacidade hidrelétrica do Rio do Paraná, fator primordial para alimentar o parque industrial que viria algum tempo futuro.

E quando na década de 1970 a nação provou um enorme surto econômico, o Governo Federal entendeu que era chegada a oportunidade de produzir uma enorme reserva de energia elétrica para consumo habitacional e industrial de seu povo.

A Usina Hidrelétrica de Itaipu, no ano de 1996, gerou 81,6 bilhões de quilowatts-hora de energia elétrica; em 1997, a geração chegou a 89,2 bilhões de KWh.

O controle de intercâmbio com empresas consumidoras que operam com a binacional está subordinado ao Controle de Operação do Sistema.

No ano de 1998, foram produzidos 87,9 bilhões de KWh, e em 1999 a geração chegou a 90 bilhões de KWh.

Quanto a uma comparação de rendimento com a chinesa Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, que opera com 26 unidades geradoras e capacidade instalada de 18,2 bilhões de quilowatts, apesar de, em 1999, a Usina Hidrelétrica de Itaipu contar com apenas 18 unidades geradoras em operação, geravam mais energia que sua concorrente asiática.

Entre 5 de maio de 1984 e 31 de janeiro de 1999, foram gerados 780 bilhões de KWh, dado que torna a Usina Hidrelétrica de Itaipu, com até então 12,6 KW de potência instalada, “garota” cobiçada por “piratas” estrangeiros.

No ano de 2006 foi instalada a 19ª unidade geradora, e no ano de 2007 a 20ª unidade geradora, cada, com capacidade nominal de 700 MW, elevando a capacidade instalada para 14 mil megawatts (MW).

Líder mundial na geração de energia limpa, renovável e não poluente, a Itaipu Binacional vem, desde sua inauguração, gerando mais de 2,8 milhões de gigawatts-hora (GWh), tem 20 unidades geradoras de energia elétrica, tem 14.000 MW de potência instalada, como fornece apenas 8,4% da energia consumida pelo mercado interno brasileiro e 85% pelo mercado consumidor paraguaio.

Dados do Reservatório:

-Área de drenagem da bacia 820.000km²

-Área do reservatório 1.350km²

-Extensão 170km

-Queda brusca 120m

-Largura média 7km

-Volume normal 29 bilhões m³

Barragem em concreto armado, terra e enrocamento:

-Altura máxima 196m

-Comprimento 7.760m

-Volume de concreto armado 8,1 milhões m³

Vertedouro:

-Largura 380m

-Comprimento 483m

-Comportas 14

-Tamanho das comportas 20m x 21,3m

-Capacidade máxima de descarga 62.200m3/s

-Volume total de concreto armado 700 mil m³

Condutos Forçados:

-Quantidade 20

-Comprimento 142,2m

-Diâmetro interno 10,5m

-Descarga normal 690m³/s

Casa de Força:

-Comprimento 968m

-Largura 99m

-Altura 112m

-Número de unidades 20

-Volume de concreto armado 3,2 milhões m³

Unidades Geradoras:

-Quantidade (10 de 50Hz/10 de 60Hz) 20

-Queda líquida nominal 112,9m

-Potência nominal (50/60Hz) 823,6/737 MVA

-Rotação nominal (50Hz/60Hz) 90,9/92,3rpm

-Peso de cada unidade (50Hz/60Hz) 3343/3242

-Peso do rotor do gerador 1.760t

Em 1999, o número de unidades geradoras no leito do rio era de 15 unidades, e no Canal de Desvio eram 3 unidades.

No edifício sede da binacional foram instalados dois centros para a recepção de visitantes, sendo um na cidade de Foz do Iguaçu, e um outro na cidade paraguaia de Hernandarias. Por essas instalações, até o ano de 1999, passaram pessoas de 164 países. Este autor, em outubro de 2021, esteve visitando essa Usina gigantesca.

Questão da frequência

Uma vez definido o local exato que abrigaria a barragem, restou a questão da ciclagem que deveria ser padronizada, conforme observou o engenheiro Mário Penna Bhering, um antigo presidente da Eletrobrás. (p.36)

Tanto o Paraguai como a maior parte dos países latino-americanos consomem energia elétrica com a frequência de 50 Hertz, enquanto a energia elétrica brasileira opera com a frequência de 60 Hertz. Essa diferença de frequência foi o Nó Górdio que somente entrou em questão muito tempo depois.

No início dos serviços construtivos o corpo técnico não tinha a solução a ser dada para resolver o imbróglio da obra considerada “o maior gerador de energia do mundo”, e que, futuramente, passaria a produzir 70 milhões de quilowatts-hora.

Com o tumor em gestação, o problema estourou no final de 1975, e a solução teria que ser imediatamente encontrada, para não ocorrer a paralisação dos serviços construtivos da obra em uma região rural situada no meio do nada.

Quando da assinatura do Tratado de Itaipu, a questão da frequência da carga elétrica a ser gerada pela hidrelétrica não constou em nenhuma cláusula do documento firmado pelas partes interessadas. Além de Brasil e Paraguai usarem frequências diferentes, também, uma parte da carga elétrica não consumida pela nação guarani, com frequência de 50 Hertz, seria consumida pela nação brasileira, e foi aí que o xis da questão explodiu, pois, a frequência utilizada pelo Brasil é de 60 Hertz.

Então, uma comissão composta por autoridades brasileiras e paraguaias, da Itaipu Binacional, da Eletrobrás e da ANDE (Administración Nacional de Electricidad) se sentaram para estudar e negociar o que fosse viável em busca de uma solução. Ela surgiu no dia 9 de novembro de 1977, na reunião em que participou o general e presidente do Brasil, Ernesto Geisel; do general e chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva; do chanceler Azeredo da Silveira; do embaixador João Hermes; do presidente da Eletrobrás, Antônio Carlos Magalhães; e do diretor de Planejamento da Eletrobrás, Licínio Seabra, a questão problemática foi resolvida.

Uma vez solucionada a questão, a energia a ser gerada para consumo brasileiro, em 60Hz, obedeceria a um “sistema de corrente alternada em extra-alta tensão”, enquanto a energia a ser gerada para consumo paraguaio, em 50Hz, “seria transmitida por um sistema de corrente contínua”, pois, esse sistema é destituído de ciclagem ou frequência.

A energia não consumida pelo Paraguai seria transmitida para consumo pelo Estado de São Paulo, no Brasil, por meio de “dois bipolos de aproximadamente 600 quilowatts”, porém, antes de chegarem às estações receptoras, deveria ser edificada uma estação para converter a corrente contínua em corrente alternada com frequência de 60Hz.

Isso posto, foram instaladas torres metálicas para enviar, ao Brasil, grande parte de energia elétrica em 50 Hertz, como a energia elétrica gerada em 60 Hertz.

Ambiente ecológico

Uma vez concluídas as obras de construção da Barragem e o enchimento do Reservatório de água doce que começou a se formar, as terras agrícolas, situadas em suas margens, passaram a ser alagadas, em cerca de 80 mil hectares.

As terras que foram alagadas eram exploradas por colonos filhos de imigrantes alemães e italianos que, em sua maioria, se comunicavam no idioma de seus antepassados.

Para se comunicar e negociar com essas famílias de agricultores, emissoras de rádio de Foz do Iguaçu e de São Paulo, várias vezes ao dia, passaram a conclamá-las a manterem contato com a Itaipu Binacional para negociarem a indenização de suas terras. Também, plantões foram instalados em fins de semana para dar atendimento especial aos interessados.

Quando o Reservatório ficou totalmente cheio, cerca de 8.519 propriedades agrícolas brasileiras tiveram uma grande parte de suas terras alagadas, tanto na região urbana como na rural. Desse total atingido, 8.503 delas firmaram um acordo, mas cerca de 16 outras tiveram que ser desapropriadas, e o caso foi levado aos tribunais.

As terras atingidas pelo alagamento, tanto as negociadas como as desapropriadas, corresponderam a 4,5% do custo aplicado na edificação da Usina. Esses colonos migraram para outras paragens do Estado do Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina, e também para o Paraguai.

Apesar de ser a maior Usina geradora de energia elétrica, o Reservatório ocupa apenas o sétimo lugar das barragens brasileiras, com 29 bilhões de metros cúbicos de água. Ele foi gerado no momento em que as 12 comportas do Canal de Desvio se fecharam, às 5h45 de 13 de outubro de 1982. Cerca de 14 dias depois, ficou completamente cheio.

O volume de água cobriu uma área de 1.350 quilômetros quadrados, alagando 16 municípios brasileiros do Estado do Paraná e do Mato Grosso. No Brasil, foram 780 quilômetros quadrados de terras inundadas, e no Paraguai o número chegou a 570 quilômetros quadrados.

A cúpula da Itaipu Binacional entendia perfeitamente as consequências que o enchimento do Reservatório poderia causar ao meio ambiente, com as áreas inundadas, com a atividade agrícola que seria afetada, com a população humana residente, como também com os animais irracionais.

No ano de 1975, foi elaborado o “Plano Básico Para a Conservação do Meio Ambiente” para atenuar prováveis efeitos ambientais a uma população de 40 mil seres humanos. Com a extensão de 4.695 quilômetros, o Rio Paraná inundou 800 quilômetros quadrados de terras agrícolas, com o Reservatório que se formou, o que causou uma redução drástica de ambientes ocupados por humanos, animais e aves diversas.

Ainda antes do início da construção da Barragem, a direção da Itaipu Binacional efetuou pesquisas arqueológicas na região, e materiais de cerca de 237 sítios foram coletados, os quais encontram-se expostos em um museu que funciona na sede da empresa. E em 1975, pesquisas se aprofundaram em estudos a respeito da diversidade de peixes, o acompanhamento das espécies, as rotas migratórias, além de coletar dados relacionados à reprodução.

Para incrementar as atividades de pescadores no Reservatório que se formou, foi implementado um projeto pesqueiro conhecido como Estruturas Flutuantes, voltado para a criação de peixes em cativeiro, tais como pacu, dourado, Piracanjuba e armado.

Em junho de 2022, o presidente brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, informou que o Lago da Itaipu Binacional se prestará para a criação de peixes que abastecerão o mercado interno consumidor.

No ano de 1988, com a função de dar apoio à pesquisa e reprodução de peixes, de forma artificial, foi criada a Estação de Aquicultura. E no momento em que o Reservatório começou a alagar as margens do Rio Paraná, a administração de Itaipu lançou a operação chamada “Mymba Kuera”, e esta resgatou cerca de 450 animais, os quais, posteriormente, foram soltos em locais apropriados, em ambas as margens.

A Reserva Indígena de Ocal, criada em 1982, teve a função de abrigar famílias nativas guaranis em 253 hectares de terras, devido ao alagamento das águas que encheram o Reservatório. E no mês de dezembro de 1996, foram adquiridos 1.780 hectares de terras repletas de matas nativas, entre os rios São Domingos e São Francisco Falso, para reassentar nativos avá-guaranis.

O controle da qualidade da água doce do Reservatório, do clima local, dos sedimentos que chegam ao Lago, e de seu monitoramento sanitário tem sido um cuidado constante, para evitar a formação de qualquer risco de assoreamento de seu leito.

Estudos e pesquisas a respeito da proliferação de insetos, controle de epidemias e efeitos danosos causados pela ação de agrotóxicos gerados pela cultura agrícola, o pessoal da área de saúde e saneamento efetua uma ação constante na região para manter o bom estado da população ribeirinha.

Em todo o contorno do Reservatório foi criada uma mata ciliar protetora com 99,2 mil hectares, a qual funciona como cordão garantidor da qualidade das águas, preservação da fauna e da flora local. Na margem esquerda do Reservatório a mata ciliar ocupa 63 mil hectares de terras, com largura de 200 metros lineares, e reflorestada com 17 milhões de matas nativas.

A administração da binacional tem atenção constante voltada para evitar que haja assoreamento do solo e, consequentemente, contaminação das águas do Lago. Nas duas margens foram criadas sete reservas biológicas destinadas a pesquisas, criação de animais silvestres, como a reintegração de animais ameaçados de extinção. Esses refúgios abrigavam um número superior a 400 espécies de aves, 62 mamíferos e animais outros.

Além de todo esse cuidado com o meio ambiente, a binacional firmou convênios com autoridades municipais de ambas as margens, para a montagem de projetos voltados para a conservação do solo, “abastededouros comunitários e reflorestamento ciliar”.

Em funcionamento na sede da bionacional, o Ecomuseu foi inaugurado em 16 de outubro de 1987, e que tem área construída de 1,2 mil metros quadrados, mantém em exposição espécies de peixes, de animais e de vegetais coletados na região.

Amazônia, a menina cobiçada

Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira

Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, junho 2022.

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RNF Cerqueira
Enviado por RNF Cerqueira em 28/06/2022
Reeditado em 11/10/2023
Código do texto: T7547818
Classificação de conteúdo: seguro
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