ALUGA-SE: uma proposta irônica de Raul Seixas I

*Aires José Pereira

É muito interessante a análise feita através desta música. Nela dá-se para trabalhar a questão das fronteiras, a soberania do país, o papel do Estado, o território, a questão social, o problema da dependência externa de nosso país, a falta conscientização do povo brasileiro, o problema da falta nacionalismo por parte de nossos governantes, o capital sem fronteiras e sem pátria, o problema do tráfico de produtos naturais que saem da Amazônia em direção aos países do Norte, enfim, existem muitos temas a serem explorados por várias ciências sociais e humanas. Portanto, é um prato cheio e apetitoso, basta ter vontade de se alimentar dele. Bom apetite e mãos à obra!

É uma sátira que deve ser trabalhada em todas as Ciências Humanas e Sociais. Ela pode ser discutida na Filosofia, na Geografia, na História ou na Sociologia, Língua Portuguesa e Literatura. Cada área deve dar a sua contribuição no sentido de o aluno apreender o conteúdo por inteiro e não pela metade. Aliás, esse tipo de letra de música sugere que as pessoas ao ter contato com ela, tenham também a sua própria interpretação e consiga recriar, do seu jeito, seu próprio texto.

Não existe educação neutra. Se ela não existe enquanto neutralidade, logo o professor que não discute os problemas de forma a clarear os fatos que acontecem nos dias atuais de maneira crítica aos seus educandos, está fazendo o jogo da cúpula dominante, pois está aceitando as coisas como estão.

É uma opção, porém, às vezes, ela é uma opção por falta de esclarecimentos por parte do próprio professor que se encontra alienado do seu próprio ofício de professar. O professor é um formador de opinião e como tal deve se posicionar diante das barbaridades que vem acontecendo nos últimos anos no país e no mundo. Não dá para ficar de braços cruzados vendo a banda passa. É preciso tomar parte da História. É preciso fazer História. A História do nosso país depende muito de como o professor está agindo em seu local de trabalho, qual seja, sua sala de aula.

Não podemos aceitar as coisas como estão como se elas não fizessem parte de um processo histórico. As coisas não acontecem ao acaso. Elas têm uma razão de serem assim. Neste sentido, este poema é muito interessante, pois nos possibilita verificar como funciona o sistema capitalista de produção. Quer dizer, os interesses do trabalhador são diferentes dos interesses do patrão. Vamos, então, verificar o conceito de Alienação. Norberto BOBBIO, Nicola MATTEUCCI & Giafranco PASQUINO em DICIONÁRIO DE POLÍTICA. p. 20, nos afirmam que:

“A alienação pode ser definida como o processo pelo qual alguém ou alguma coisa (segundo Marx, a própria natureza pode ficar envolvida no processo de Alienação humana) é obrigado a se tornar outra coisa diferente daquilo que existe propriamente no ser. O uso corrente do termo designa, frequentemente em forma genérica, uma situação psicossociológica de perda própria identidade individual ou coletiva, relacionada com uma situação negativa de dependência e de falta de autonomia. A Alienação, portanto, faz referência a uma dimensão objetiva histórico-social. Neste sentido se fala: de Alienação mental como estado psicológico conexo com a doença mental; de Alienação dos colonizados enquanto sofrem e interiorizam a cultura dos colonizadores; de alienação dos trabalhadores enquanto são integrados, através de tarefas puramente executivas e despersonalizadas, na estrutura técnico-hierárquica da empresa individual, sem ter nenhum poder nas decisões fundamentais; de Alienação das massas enquanto objeto de heterodireção e de manipulação através do uso dos mas media, da publicidade, da organização mercificada do tempo livre; de Alienação da técnica como instrumentação dos aparelhos para que funcionem segundo uma lógica de eficácia e de produtividade independente do problema dos fins e do significado humano de seu uso. A definição do termo em relação aos diferentes estados de despersonalização e de perda de autonomia por parte dos sujeitos envolvidos nos processos em questão corresponde a uma banalização do conceito, mas também à complexidade de semântica que ele tem na cultura filosófico-política moderna dentro da qual ele foi elaborado”.

*Aires José Pereira é graduado e especialista em Geografia pela UFMT, mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Dr. em Geografia pela UFU. É escritor com 18 livros publicados. É professor Associado I no curso de Geografia na UFR. É coautor do Hino Oficial de Rondonópolis. É membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 04/06/2022
Código do texto: T7530970
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