Reflexão sobre filosofia e literatura

O que há de comum entre o ato de filosofar e apreensão de uma obra literária? Nos escritos de importantes filósofos há uma intersecção e um diálogo incessante com a literatura, e em obras literárias de grande romancistas como, por exemplo, Liev Tostói ou Victor Hugo encontram-se reflexões filosóficas profundas e indeléveis.

Essa discussão em relação aquilo que é comum entre filosofia e literatura é algo que ainda gera debates importantes entre filósofos e literatos, tal como foi no passado. Uns defendem a distinção radical entre filosofia e literatura, sendo aquela uma busca pela verdade universal por meio de conceitos, enquanto essa última buscaria a beleza e se utilizaria de símbolos e metáforas. Outros defendem que tudo pode ser definido como literatura. Escritores como Nietzsche, Proust, Sartre e Camus são alguns exemplos de como a arte e o pensamento juntos geram uma expressão harmônica (PIMENTA, 2017).

Há ainda autores cuja definição de filósofo ou literato muda com o passar dos anos por meio da análise dos contemporâneos. De acordo com Pimenta (2017, p.10): "É interessante apontar que, inicialmente, a obra de Nietzsche era inclassificável. Em algumas bibliotecas era encontrada nas estantes de literatura, em outras, de filologia e, ainda, em estantes de filosofia ou cultura geral. Somente a partir dos estudos de Heidegger na Alemanha e de Deleuze na França, Nietzsche foi analisado como filósofo."

A depender do estilo e do objetivo de cada autor, a linguagem rebuscada da literatura, que busca causar no leitor uma apreensão estética se torna inviável, de modo que a linguagem literária não dá conta de todo o universo conceitual da filosofia. Por sua vez o texto filosófico pode ser radicalmente diverso do conteúdo artístico de um romance. Essas duas expressões humanas, entretanto, percorrem o espaço das questões mais essenciais para a humanidade.

Aquilo que é intrínseco à vida humana é discutido tanto na filosofia quanto na literatura, sendo acessível pelos leitores. Não se trata, porém, de verdades preconcebidas: o que há é um questionamento da realidade em busca das respostas para as mais diferentes perguntas. A leitura dos textos clássicos pode nos fazer questionar o mundo, tornando-nos mais humanos e civilizados (RAMOS e GUTIERRES, 2011).

Aristóteles dizia que a origem da filosofia é o espanto, é o admirar o fato das coisas serem o que são. Essa é a origem comum da literatura.

A filosofia, por meio da indagação, enxerga o que há de problemático na realidade, gera polêmicas por questionar o que está cristalizado. A literatura, por seu turno, recria o que está no mundo, apresenta as situações e temas mediante os múltiplos significados da linguagem. As duas vêm à tona a partir do espanto, da admiração causada no leitor (JÚNIOR e DIAS, 2015).

A razão é o guia do filósofo, mas essa mesma razão, que o torna mais humano, se depara com a desrazão do mundo. A filosofia põe o mundo em questão, faz muitas perguntas para as quais não há solução, mas que encontram ressonância na literatura. Por meio da arte, o poeta ou romancista trazem à baila as questões mais importantes da humanidade, aquelas que extrapolam os limites da reflexão filosófica.

Para concluir essa reflexão, considero que a filosofia e a literatura não são a mesma coisa, mas duas formas do ser humano buscar compreender ou vivenciar a sua essência por meio da linguagem e que, frequentemente, vêm a expressar o mesmo conteúdo.

Referências

JÚNIOR, José Mozart Tanajura; DIAS, Márcio Roberto Soares. O DIÁLOGO ENTRE FILOSOFIA E LITERATURA A PARTIR DO THAUMÁZEIN. fólio-Revista de Letras, v. 7, n. 2, 2015.

RAMOS, Flávia Brocchetto; GUTIERRES, Athany; KICH, Morgana. Filosofia e literatura: diálogo motivado a partir de Platão e Tchekhov. Educação, v. 34, n. 3, 2011.

PIMENTA, Alessandro. PROXIMIDADES ENTRE FILOSOFIA E LITERATURA. Humanidades & Inovação, v. 6, n. 1, p. 9-27, 2019.

Thiago Marques Poeta
Enviado por Thiago Marques Poeta em 28/05/2022
Código do texto: T7525891
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