As mulheres em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

1 INTRODUÇÃO

O trabalho tem por objetivo, principalmente, abordar o aspecto feminino da obra de Machado de Assis intitulada Memórias póstumas de Brás Cubas produzida em 1880 e publicada no ano seguinte. Esta é uma obra que o próprio personagem de Brás Cubas narra suas memórias postumamente, como ele mesmo diz: “... eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor” (ASSIS, 2008, p.5).

Inicialmente, farei um levantamento das mulheres e suas respectivas características: emocionais, físicas e psicológicas do ponto de vista de impressão subjetiva. Ademais, de todas essas, apresentarei apenas as senhoras da qual Brás Cubas se envolveu profundamente, também, a real distinção entre essas mulheres através do texto e, finalmente, descreverei brevemente como o poeta apresenta suas personagens femininas nesta obra e como terminou.

2 AS MULHERES

A primeira mulher que surge é a irmã de Brás Cubas, Sabina, casada com o Cotrim e sua filha Venância, que Brás a compara como um lírio do vale, e é a flor das damas do seu tempo, pois era uma jovem casta, serena e linda.

A terceira e uma das mais importantes mulheres na história de Brás Cubas que aparecera em seu velório, uma anônima que não é parente, porém, chorou demasiadamente como se fosse um: É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. (ASSIS, 2008, p. 5). Tal anônima, a saber, Virgília, que estava na cabeceira de sua cama com os olhos lacrimosos, sem acreditar na morte de Brás a quem foi seu amante há muitos anos atrás de duas paixões sem freio e dois grandes namorados. As características da sua beleza e moralidade tratarei no próximo tópico, assim como, as demais mulheres que fizeram parte da sua voluptuosa vida amorosa.

Já sua mãe, Brás apresenta como a doutrinadora fazendo-o orar todas as manhãs, todavia, dava-lhe mais liberdade que seu pai. Era uma senhora de pouca cultura, porém, piedosa, religiosa, caseira, bonita, modesta e abastada. O defunto autor comenta sobre sua tia materna, Dona Emerenciana que pouco tempo ficou entre eles, por exatamente dois anos e que mais autoridade tinha sobre este “menino diabo”, como ele mesmo se denomina quando jovem: Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. (ASSIS, 2008, p.16).

Brás Cubas nos aduz Marcela, outra importantíssima senhora na sua vida, era uma dama espanhola: “linda Marcela”, como ele a chama e já não era tão jovem: um pouco tolhida pela austeridade do tempo. (ASSIS, 2008, p. 22).

Eugênia, uma senhorita modesta, descrita por Brás num jantar a convite de uma tal Dona Eusébia: Um simples vestido branco, de cassa, sem enfeites, tendo no colo, em vez de broche, um botão de madrepérola, e outro botão nos punhos, fechando as mangas, e nem sombra de pulseira. (ASSIS, 2008, p. 41). Esta moça, segundo Brás, tinha uma graça natural e um ar de senhora, julgou Cubas ser Eugênia muito parecida com a mãe. Apesar da beleza natural da Eugênia com seus belos olhos pretos, tranquilos, lúcidos e uma boca fresca, ela era coxa como observou o moço Cubas ao saírem à varanda:

Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que notei uma circunstância. Eugênia coxeava um pouco, tão pouco, que eu cheguei a perguntar-lhe se machucara o pé. A mãe calou-se; a filha respondeu sem titubear: _ Não, senhor, sou coxa de nascença. (ASSIS, 2008, p.42).

Percebe-se um interesse de Cubas em Eugênia e, concomitantemente, um imenso lamento, porém infelizmente, a moça era coxa. Contudo, houve um beijo, o primeiro beijo da Eugênia, candidamente, entregue a Brás num domingo, todavia, era completamente ridículo para ele casar-se com ela. Seu questionamento latente era: Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? (ASSIS, 2008, p. 42).

A última mulher que o rapaz se envolveu rapidamente aos quarenta e tantos anos foi a jovem Eulália ou Nhã-loló, terna, luminosa e angélica. A vida elegante e polida deslumbrava e atraía-a, apesar da inferioridade familiar, Nhã sempre mascarava sua casta ínfima diante de Brás. Com uma clara amizade e certa afinidade entre eles, Cubas decide se casar por conveniência social, principalmente por ambições políticas. Ao contrário do que poderia ser uma união estável, tranquila e, aparentemente, feliz, Nhã-loló falece com apenas dezenove anos de idade, ainda na aurora da juventude. O autor homenageia a pobre moça com um capítulo: Aqui jaz Eulália Damasceno de Brito aos dezenove anos de idade. Orai por ela! (ASSIS, 2008, p. 106).

3 CARACTERÍSTICAS DAS MULHERES

Neste ponto, como supracitei, exibirei, especificamente, as características fortes e marcantes de duas das grandes e apaixonadas mulheres que surgiram na vida do nosso velho Brás Cubas. Concedo, portanto destaque especial a Virgília e Marcela por representarem o amor carnal, a promiscuidade, o adultério, a avareza, o erotismo aflorado e exacerbado de uma típica relação amorosa volúvel e, sobretudo, efêmera nesta obra.

Virgília era uma mulher extremamente formosa entre suas contemporâneas. Ela foi um grão-pecado da juventude desse moço, tinha voz amiga e doce. Já com 54 anos, ela estava uma ruína segundo o defunto. Brás conta que anos antes, a mulher aparecera à porta de sua alcova pálida, comovida, vestida de preto com a beleza da velhice e um ar maternal, estava bela como antes. Ela estava acompanhada do seu único filho Nhonhô, um jovem bacharel, fruto do casamento com Lobo Neves e, esse jovem, foi cúmplice inconsciente aos cinco anos dos seus tórridos encontros com o senhor Brás. Tais encontros eram as das mais íntimas sensações que um menino de dezesseis anos poderia experimentar. Virgília era intimamente atrevida, bonita, fresca, faceira, ignorante, pueril e misteriosa. A minúcia com que Brás a descreve expõe sua importância na obra como uma senhora extraordinariamente sensual, erótica e pouco confiável, exatamente por trair seu marido, do ponto de vista da moralidade.

Em contrapartida, Marcela não era casada, porém, apaixonada por Xavier, sujeito abastado e tísico e, aos dezessete anos de idade essa dama espanhola cativou Brás ardentemente. Esta jovem não possuía a inocência rústica, era uma boa moça, alegre e tolhida pela austeridade do tempo, assim como Virgília. Eram mulheres mais maduras do que nosso personagem. Marcela era luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes, tinha um corpo esbelto, ondulante e surpreendentemente maravilhoso aos olhos do moço. Brás comumente a presenteava com joias, seda e cruz de ouro que eram guardados numa caixinha de ferro onde ninguém sabia. Marcela era uma mulher arrebatadora, interesseira, sensual, extremamente erótica e, certamente, inviável ao matrimônio.

As mulheres na história de Brás Cubas são perfeitamente envolventes e atraentes. Ademais, são apresentadas sempre muito bonitas, prendadas e inteiramente preocupadas em surpreendê-lo cuja educação é típica da época.

4 COMO MACHADO DE ASSIS APRESENTA AS MULHERES

Apesar de todos os adjetivos, positivos e negativos, concedidos e observados nas mulheres na obra, Brás concebe a ideia de serem mulheres inviáveis, ou seja, notava nelas um grande obstáculo impedindo de se unir a uma delas, ora, Eugênia era bonita, mas coxa, Marcela era atraente, mas promíscua, Virgília era extremamente sedutora, porém, casada e mãe e, por fim, Nhã-ioió que poderiam unir-se através de conveniência social, entretanto, a jovem falecera jovem. De modo geral, essas senhoras são apresentadas pouco confiáveis e de caráter contraproducente. Portanto, o rapaz não sentiu verdadeiramente o amor por nenhuma delas, mas apaixonou-se assazmente por algumas a seu devido e proveitoso momento.

5 O FIM DE BRÁS CUBAS

Finalmente, Brás Cubas morreu solitário aos sessenta e quatro anos, sem finalizar algum projeto de vida, sem mulher, sem filhos e poucos amigos: Onze amigos! Disse ele:

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. (ASSIS, 2008, p. 5).

Em vista disso, Brás comprova-nos que foi um homem sem honrarias, sem bajulações e, com uma breve ironia, algum fiel proferiu o seguinte discurso:

_ ”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas de céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe roi à natureza as mais íntimas entranhas, tudo é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (ASSIS, 2008, p. 5).

Brás Cubas dedica suas memórias postumamente: ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas. (ASSIS, 2008, p. 5).

5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. 2. ed. Porto alegre: L&PM Pocket, 2008.

Marcela Borges SantAnna
Enviado por Marcela Borges SantAnna em 14/04/2022
Código do texto: T7495067
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.