Livros perdidos.

Lembro-me que há uns vinte anos, ao ler, pela primeira vez, o Prometeu Acorrentado, obra clássica, do tempo áureo da dramaturgia grega, de há dois mil e quinhentos anos, além de me encantar com a história, eu soube, ao ler o prefácio, para meu desgosto, que é tal obra de Ésquilo a primeira de uma trilogia, a segunda e a terceira partes perdidas, e que foi Ésquilo autor de setenta e nove peças teatrais das quais apenas sete sobreviveram ao tempo. Nos anos seguintes, eu soube que de outros dramaturgos gregos, Sófocles e outros, muitas obras se perderam, e poucas estão ao nosso alcance, e de muitos autores nenhuma obra existe, perderam-se todas elas, e não podemos os homens modernos admirá-las, e de algumas obras restam-nos fragmentos.

Há poucos dias, assistindo a um vídeo de Tatiana Feltrin, no Youtube, o no qual ela trata da epopéia Gilgamesh, dos sumérios, informa ela que o que se tem de tal obra são fragmentos, apenas fragmentos, gravados em tabuinhas, doze. E pergunto-me, informado a respeito, quantas obras escritas pelos sumérios, babilônios e outros povos de civilizações que existiram antes da civilização helênica perderam-se. E estou, aqui, apenas a pensar nas obras escritas, poemas, fábulas, contos, lendas. Sinto-me como se de mim um pedaço houvessem-me arrancado. Agora, penso nas histórias que se contavam, naqueles períodos imemoriais, de bocas para ouvidos - a literatura oral -, quais personagens traziam, quais as suas tramas, os seus enredos, quais culturas revelavam, quais pensamentos e sentimentos religiosos, e quais percepções tinham dos fenômenos naturais, da vida sem si mesma, e da tradução que delas faziam em palavras. Tais história estão perdidas, mas gravadas na memória dos homens.

Estes pensamentos me vieram à mente após eu ler uma notícia, que não me agradou: escreveu-se, há milhares de anos, a Etiópida, que se perdeu, poema épico atribuído a Arctino de Mileto. É tal obra uma das muitas das quais conheço o título e cuja substância eu jamais, para meus desgosto e contrariedade, poderei vir a conhecer.

Desde os irmãos Grimm, homens se dedicam a registrar, em papel, as histórias que o povo conta, riqueza que não pode ser mensurada em todo o seu valor.

Os alemães, e o mundo, têm os Grimm; os franceses, e o mundo, Perrault; os brasileiros, e o mundo, Câmara Cascudo. Valiosas, a obra deles e a de seus congêneres de outras nações. Infelizmente, os homens das cavernas não contaram com ninguém que lhes gravasse, para a posteridade, as histórias que eles contavam.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 23/03/2022
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