Sarney, o escritor, o intelectual.
Adepto da política e da literatura, é com esta que agora prefiro ficar. Entre as muitas obras do escritor José Sarney, membro da Academia Brasileira de Letras, escolhi "O Dono do Mar", que traz interessantes histórias dos pescadores do Maranhão. Elogiado por Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Geraldo Melo Mourão, entre outros, Geo Vasile, de Bucareste, diz que "Sarney pertence à família espiritual dos grandes prosistas e poetas brasileiros contemporâneos como João Guimarães Rosa, Érico Veríssimo e Murilo Mendes."
Depois de tantas referências, a minha não teria a menor importância.
Mas, enquanto ele fala das canoas no mar, eu vivenciei as canoas no rio. E, quando ele trata de personagens com idade de 10 anos, adentrando ao mar, eu também, com essa idade, já singrava as marolas do rio São Francisco, nas grandes ventanias. Não para pescar, mas conduzindo ração para os animais. Isto, evidentemente, com a ajuda de irmãos, ora mais velho, ora até mais novo do que eu. E, enquanto o escritor fala de ficção, a minha história é real.
Essa era a labuta do homem do campo, tanto quanto o homem do mar, cada um no seu ofício.
Não havia tanta diferença entre os pescadores do Maranhão e os ribeirinhos do São Francisco.
A diferença maior é o poder da criatividade do escritor, que fantasia a história, assim como dizia Ariano Suassuna: "tanto quanto o pescador, o escritor pode mentir à vontade."