COMO ENCONTRAR A MINHA VOZ?
Voltei recentemente de uma viagem incrível para uma cidade pequena no interior de Minas Gerais, chamada Curral de Dentro, passeio este que me fez refletir acerca de mim mesma e de muitas coisas a minha volta. Conheci pessoas cheias de histórias, desafios e muitos dilemas. Havia ali tantas experiências a contemplar e tanto a viver.
Desde criança eu sempre apreciei conhecer pessoas, culturas e aprender com cada experiência vivida. No entanto, algo dentro de mim sentia um vazio imensurável e um distanciamento de tudo, mas ao mesmo tempo uma presença, uma luz, uma inquietação gritante e quase palpável. Pois bem, foi por meio dessa viagem que esse vazio transbordou-me a alma e eu sentia a necessidade inenarrável de atravessar as fronteiras acadêmicas e dos sentimentos e escrever, expor e propor a mim mesma o caminho do meio, que sempre me foram as palavras escritas.
Em Curral de Dentro eu pude ter um tempo pra conexão com a natureza, com as flores e com o verde mais singelo que poderia existir. E, eu precisava disso. Eu tinha esse anseio por um encontro interno, com a minha vida, com os meus próprios pensamentos e sentimentos e em síntese um encontro com a minha voz.
Há anos eu comecei a pensar sobre metas, propósito e sobre qual o sentido da vida. Sempre me vi ao lado de pessoas que me ajudaram a construir quem eu realmente sou e ainda assim, eu me via distante e quase inaudível mediante uma sociedade repleta de pessoas. Me via apenas como mais uma em meio a bilhões de outros seres humanos.
Durante alguns passeios nessa encantadora e simples cidade de Minas, eu me percebia, o tempo parecia transcorrer de maneira tão lenta, romântica e ao mesmo tempo com profundos suspiros e indagações a respeito da vida cotidiana, da felicidade e do encontro com algo importante que eu por muitas vezes tentei fugir: minha voz.
Estive no sítio de uma senhora que mesmo já idosa ainda gostava de estar em suas plantações, com suas flores e calmamente mostrou a mim e as pessoas que estavam comigo cada detalhe daquela belíssima imagem. Foi tão incrível, Essa mesma senhora me ofereceu café e bolo de cenoura com chocolate e infelizmente, eu recusei por que havia acabado de almoçar. No entanto, ela sentiu-se ferida por meu gesto. Oh, quantas vezes outrora eu já comi pedaços e pedaços de bolo sem fome. Não me ocorreu naquele momento que seria importante ao menos um pedaço de bolo. Vasta experiência. Intensa, profunda e sim, um encontro com a minha voz.
Sabe de uma coisa? Estou encontrando a minha voz a cada dia desde o momento em que eu tomei consciência de que posso pensar mudar a rota do esperado e navegar para dentro de mim, assumir meus erros, acertos e conquistar a plenitude da vida. Tem sido um desafio intenso e leve ao mesmo tempo.
Encontrar a minha voz tem sido uma jornada, caminhos de dores e de luz, de luz e de trevas, de erros e acertos. Esse encontro tem me unido a pessoas específicas e me afastado de outras e essa percepção e maturidade para desvencilhar entre uma e outra é tão desafiadora quanto olhar para dentro de mim mesma.
Como encontrar a minha voz? Não fugindo de mim. É nesses encontros diários, nas experiências, nas lágrimas, nas alegrias, nos encontros e desencontros que eu me vejo, que eu me entrego, começo e recomeço sempre que necessário. É por meio da alegria e da dor, da essência da vida que eu procuro o encontro para com a imensurável sensação de conexão, de amor e de poesia ao conhecimento, a luz e a vida. Estou caminhando, seguindo, chorando muitas vezes e sorrindo muito mais. Só não posso parar e assim a vida vai sendo como ponte que serve de trampolim para as passagens e encontros, idas e vindas.
Talvez a minha voz seja essa: Encontro com a escrita, com aquilo que eu vejo como dom desde sempre. A poesia, a escrita e os livros sempre me foram respostas nesse caminho. E assim quero seguir nessa caminhada cheia de mistérios e imperfeições diárias.