O “ESPÍRITO” E A TECNOLOGIA DA CRIAÇÃO —X—

Será que temos consciência de que vivemos num jardim de caminhos que se bifurcam??? Os espíritos parecem que estão familiarizados com esses caminhos. O trágico neles é que por vezes todos eles, têm pedras no meio do caminho que estão dispostas a desafiar a, por vezes tenra, disposição do caminhante. E é aí que ele fica para trás, juntamente com as pedras no meio do caminho, as quais poetizava Drummond.

A realidade do teatro existencial dramático, derivado das emanações dos costumes, dito humanos, nos quais todos fomos jogados ao nascer, como se devêssemos cumprir a apresentação cenográfica no palco de uma realidade familiar que nos vigia com a câmera dos olhos. Vigiados por parentes, vizinhos, amizades, estranhos conhecidos e desconhecidos, participamos, queiramos ou não, das comunicações humanas: suas ilusões, paixões, de seus semideuses, deuses e heróis compromissados com uma mitologia promovida por divindades que enganam e subvertem o sentido das percepções da própria realidade e da realidade das demais personagens do “Zeigeist”.

Somos partícipes da espiritualidade da época em que vivemos, queiramos ou não. O espírito de nosso tempo está entranhado em nosso corpo, em nossa mente, em nossas percepções. Não há nada nessa realidade da qual participamos, que seja confiável a nossos sentidos, não poucas vezes ressentidos do que nos seduz para os caminhos que se bifurcam: todos eles nos conduzem ao abismo da nadificação ou nidificação.

Estamos todos estranhos no ninho do mundo perceptivo que nos cerca com suas cercas de arame farpado. Como se estivéssemos todos habitando um campo de concentração. E estamos mesmo. A Teoria do Campo Unificado de Einstein nos dá esse recado. “A Experiência de Filadélfia” é um modelo da experiência científica que nos conduz à compreensão de um mundo incompreensível.

Por todos os lados estamos cercados como se fôssemos ilhas banhadas pela violência de tsunamis de realidades históricas e mitológicas que mal sabemos e menos ainda compreendemos. A tragédia grega da qual nossa cultura e civilização é refém, surgiu do culto a Dionísio, deus do vinho, da alegria, da exuberância, do carnaval, das potências que geram excitação para além do normal: união mística com a superação das carências dos costumes normais do viver a vida dosada, doseada, controlada, regulada.

Crescemos em meio às tensões que não se arrefecem (políticos irresponsáveis, com cultura de caserna, criminosos que obedecem às diretrizes genéticas condicionadas por culturas supremacistas). Nossa mente está sujeita ao estresse, à angústia, às apreensões que não poucas das vezes sabemos a origem. Elas nos envolvem a todos. Participamos atualmente da história trágica de um país mergulhado em centenas de milhares de mortes, no negacionismo psicótico de uma liderança com uma cultura fugaz subserviente aos mandos e desmandos de alojamentos de quartéis. O resultado é a inflação, a subordinação de ministros e parlamentares aos planos de governo de quem não sabe sequer pensar no que seja governar um país com responsabilidade fiscal, com noção do que seja ou venha ser direcionamento democrático das instituições.

O espírito pessoal e coletivo de um povo submisso aos delírios de uma mentalidade psicótica, rasa, xucra. Eu me pergunto e faço a todos os nossos amigos leitores a mesma pergunta: onde está a educação escolar, acadêmica de valor transmissível a alunos e dissentes, por docentes bem remunerados??? Onde estão os professores que poderiam ensinar a literatura e as artes da construção de personalidades artísticas e científicas que não fossem produto de uma Tv visão de sexualidade desequilibrada, de uma anarquia de costumes à Big-Brother???

Onde estão os dramaturgos desse tempo, desse espírito do tempo trágico que não possui uma dramaturgia da qualidade ao modo de Sófocles, Ésquilo, Eurípedes??? Onde estão as paixões humanas que não estejam inseridas nas cinematografias pornográficas??? Na dramaturgia de novelistas da Globo e quejandas??? Onde está a dignidade de um povo entregue às traças de um Centrão agente político das desgraças sociais vigentes???