Releitura de Capítulos Aleatórios
Eventualmente, costumo, aleatoriamente, ir a um qualquer capítulo de um livro já lido, como forma de me situar no estilo do seu autor. Entretanto, em Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, isto não é possível. Em pouco mais de 600 páginas, não há divisória de capítulos. Mesmo assim, vou lá e abro numa página qualquer e vejo o personagem Riobaldo, no seu linguajar rude do sertão, sem esquecer do meu rio São Francisco. E, pelo enfrentamento das brutalidades do homem da época, constantemente ele dizia: "viver é muito perigoso."
Hoje, mesmo nas cidades civilizadas, ele ainda repetiria a mesma frase. Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, até bem pouco tempo considerada a mais civilizada do Brasil, viver ali também é perigoso.
Muito embora de tempos diferentes, o livro lembra "Os Sertões", de Euclides da Cunha, cujo personagem principal é Antônio Conselheiro e o tema "A Guerra de Canudos", no sertão da Bahia.
Também pela brutalidade do homem, enfrentar o Exército, apenas com suas rústicas armas, pau, pedra, foice, machado e facão, quando muito uma espingarda, significou uma falta de racionalidade, pelo que ainda hoje sinto a morte dos meus irmãos sertanejos.
Ainda nos anos 1970, quando li aquele livro, confesso que no seu final, me bateu uma emoção forte, já tendo a virtude de estar cursando uma faculdade, depois de uma adolescência ainda vivida no sertão do São Francisco. E, mesmo assim, como dizia o Riobaldo, "não gosto de me esquecer de nenhuma coisa".