UMA NOVA VISÃO SOBRE A ESCRAVIDÃO
 
Acabo de ler os dois primeiros volumes da nova trilogia de livros publicados por Laurentino Gomes, que trata da questão da escravidão no Brasil. Laurentino é um dos mais respeitados escritores/historiadores do Brasil, com reconhecimento internacional. É também autor da conhecida trilogia 1805-1822 e 1889, que esmiúça, com muita competência e credibilidade, os fatos históricos que deram origem à independência do Brasil e a queda do império, que resultou na proclamação da República.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em um seminário que fizemos, ele, eu e o historiador da maçonaria, Willian de Almeida, em Boa Vista, Roraima, em 2014, pouco antes do impeachment da presidente Dilma Roussef. O seminário foi patrocinado pelas Lojas Maçônicas de Roraima e os temas abordados por mim (a influência do positivismo na maçonaria brasileira), pelo historiador William de Almeida ( história da maçonaria no Brasil) e pelo Laurentino ( História do movimento republicano) se completaram e constituíram um excelente painel de estudos que agradou imensamente à platéia que lotou o auditório da Universidade de Boa Vista.
Laurentino conquistou os presentes com sua simplicidade e simpatia, aliada ao grande conhecimento que demonstrou possuir, não só da História do Brasil, propriamente dita, mas também de outros assuntos relacionados à sociologia, política e economia, sobre os quais fomos os três sabatinados naquele seminário.
Agora ele volta ao cenário com uma nova e cativante trilogia histórica que trata do fenômeno da escravidão no novo mundo, particularmente no Brasil. É praticamente uma nova e ampla visão sobre esse assunto, que tem sido muito contaminado por visões ideológicas e estereotipadas, que geram mais calor do que luz, mas que, na prática, têm contribuído para muitas ações políticas, no mínimo polêmicas.
Laurentino nos mostra, com muita clareza e farta documentação, que a escravidão no Novo Mundo, e particularmente no Brasil, se explica muito mais como um fato econômico e político que racial, propriamente dito. Quer dizer: não se procurou escravizar os negros porque eles eram negros, simplesmente, mas sim porque os colonizadores precisavam de mão de obra barata para tocar seus empreendimentos nas terras recém descobertas na América. É, portanto, um fato que está ligado mais à economia política do que à sociologia, propriamente.

A obra de Laurentino nos mostra que há, de fato, uma grande dívida do Brasil para com a comunidade afro descendente. Mas essa dívida não será paga com cotas raciais e dias dedicados à consciência negra. Essa visão é romântica e anacrônica e só resvala na superfície do fato histórico, propriamente dito.
Historicamente, a escravidão sempre existiu. É uma consequência da própria tendência que acompanha o ser humano na sua luta pela sobrevivência. É a submissão do mais fraco pelo mais forte. Durante a colonização a vítima foi o negro. Mas ainda hoje continua a existir em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Ela apenas mudou de forma, acompanhando a tendência das mudanças nos modos de produção. E só deixará de existir quando todos os povos do planeta ostentarem iguais condições de sobrevivência. Porque só assim todos serão fortes o suficiente para defender sua liberdade contra o maior de todos os predadores que a natureza engendrou: o próprio homem.