José de Alencar, "um homenzinho muito malcriado"

Um dos maiores nomes do romantismo brasileiro é José de Alencar. Ele foi escritor, deputado, orador parlamentar, ensaísta político, dramaturgo e, além de indicado para ministro da justiça, elegeu-se senador.

Nasceu em 1º de maio de 1829, na Vila de Mecejana, em Fortaleza, Ceará, ainda na década da independência do Brasil. O autor percebeu desde muito jovem que ao passo que o Brasil tornava-se independente, exigia também uma formação cultural própria, uma literatura que resgatasse o processo histórico e, ao mesmo tempo, conscientizasse sobre o presente.

Apesar de ser leitor assíduo de Balzac, Alexandre Dumas, Vigny, Chateaubriand e Victor Hugo, o escritor contribuiu para a criação de uma identidade nacional. Em seu livro Sonhos d’Ouro, ainda no prefácio o autor questiona: “A literatura nacional que outra cousa é senão a alma da pátria [...]?” Sua obra romântica passeia pela prosa urbana, indianista, histórica e regionalista, além de teatro, autobiografia e críticas ácidas ao imperador Dom Pedro II.

Alencar dedicou-se com afinco a conhecer o universo indígena, apesar que isso não o impediu de idealizar o índio, à semelhança de Gonçalves Dias, na poesia. Na prosa urbana, produziu severas críticas à sociedade de sua época e alguns de seus costumes. Todavia, não se pode olvidar que Alencar foi um conservador.

Formou-se em Direito e, além de advogado, também exerceu a função de jornalista e editor. Escreveu obras importantes como O Guarani (1857), A Viuvinha (1857), Lucíola (1862), Iracema (1865), Guerra dos Mascates (vol. 1 em 1871 e vol. 2 em 1873), Senhora (1875), Demônio Familiar (teatro, 1857), a crônica Ao correr da pena (1874), entre outras.

Cartas de Erasmos, escritas na metade do século XIX, discutiam problemas políticos da época: político-partidária, o Poder Moderador e a questão da escravidão. Elas exigiam do imperador uma postura mais firme diante dos problemas brasileiros. As opiniões de Alencar são, até neste presente século, no mínimo provocativas.

Suas críticas ao imperador resultaram em seu veto para o Senado, em 1869. Conforme outro importante nome da prosa romântica, Visconde de Taunay, em suas Reminiscências (1923), ocorreu um diálogo entre Dom Pedro e Alencar no qual eles trataram da eleição do romancista para o senado. O imperador teria dito: “No seu caso, não me apresentava agora; o senhor é muito moço”. Sem titubear, o escritor respondeu: “Por esta razão, Vossa Majestade devia ter devolvido o ato que o declarou maior, antes da idade legal...”.

Após o veto, rompeu com o Partido Conservador e adentrou em alguns debates com outros nomes importantes da política e literatura de sua época, mas logo decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita, abandonando a política. Em 1877, ainda aos 48 anos, contraiu tuberculose e não resistiu. Diz-se que, ao tomar ciência do falecimento de José de Alencar, o imperador Dom Pedro II teria comentado que Alencar “era um homenzinho muito malcriado”.