Valores terrenos não compram vida eterna
Valores terrenos não compram vida eterna
Mateus 19.16-24; Marcos 10.17-30; Lucas 18.18-30
Introdução dos fatos
01. Após passar algum tempo na Pereia, a atual Jordânia, evangelizando essa comunidade e curando uma multidão de enfermos, mancos, paralíticos, deficientes visuais e libertando seres humanos da incorporação de demônios, no momento em que se preparava para tomar um barco pesqueiros e atravessar o Mar da Galileia, eis que, dentre a multidão, irrompeu um judeu muito rico que se ajoelhou ante Jesus de Nazaré, e fez-lhe um pedido muito significativo: “Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?”.
02. O grego-sírio de nome Lucas, que era médico, filósofo, escritor e evangelista, no Evangelho que escreveu, registrou que o ricaço judeu que manteve um diálogo com o Rabi da Galileia, supostamente, era chefe de uma sinagoga. Lucas fez parte da equipe de evangelismo do apóstolo Paulo por ocasião da segunda e da terceira viagem missionária na Grécia e na Macedônia.
Interpretação dos fatos
01. O evangelista Marcos mostra que o ricaço e religioso judeu, de elevada posição social, após se ajoelhar ante a presença do jovem Rabi da Galileia, o chama de Bom Mestre. O interessante no diálogo que o rico religioso trava com o humilde pregador, é que, nesse período histórico, não era costume alguém se ajoelhar diante de um rabi de seu povo, e muito menos chamar a um seu semelhante de Bom Mestre, mas o religioso o fez em sinal de respeito. Esse fato é uma demonstração de que havia ficado muito abismado em ver o jovem Rabi, em meio a uma multidão de pessoas humildes e carentes, serem grandemente abençoadas com maravilhas operadas pelas mãos do Galileu.
02. O pregador de multidões recusou o título de Bom Mestre de seu admirador, e o informou que somente o Deus o Todo-poderoso é o único merecedor desse adjetivo qualificativo. Apesar de religioso, de chefe de sinagoga, de caráter elevado e de ser uma pessoa muito rica, materialmente, não tinha certeza absoluta de vida eterna, daí questionar o Verbo da Vida (João 1.1) a respeito do que deveria fazer para adquirir a pérola de grande valor que conduz aos portais da glória eterna. Seu companheiro de diálogo o informou que vida eterna é um bem tão valioso, que este não é adquirido por hereditariedade, não se encontra em prateleiras de supermercado, não se compra com poder político, nem por meio de uma excelente formação cultural, e nem a peso de muito ouro, mas, por meio de fidelidade aos ensinos ministrados pelo Eterno.
03. O jornal Mensageiro da Paz publicou uma matéria na qual o servidor público de Uganda, de nome Charles Obong, de 52 anos de idade, pressentindo que havia chegado o momento de partir para uma eternidade, da qual não tinha plena segurança do que lhe ocorreria, devido a uma enfermidade que o atormentava o corpo e a alma, orientou sua amada esposa Margaret, a que, quando de sua partida terrena, seu corpo fosse sepultado juntamente com a quantia de 200 milhões de shillings, uma quantia equivalente a 170 mil reais, porquanto julgava ser necessário o uso desse valor material para, ante o tribunal do Juízo Final, comprar vida eterna repleta de felicidades.
04. Charles havia confessado a seu irmão e a sua irmã os pecados que havia praticado, e pediu-lhes que garantissem ser enterrado junto com o dinheiro reservado. O ugandense faleceu no dia 17 de dezembro de 2016, e sua querida esposa cumpriu o pedido de seu marido. De acordo com uma tradição da etnia Langi, todo morto deve ser sepultado juntamente com uma quantia em dinheiro ou com objetos valiosos, os quais se prestarão para a compra de uma vida eterna abundante.
05. Ao ser inquirido a respeito do que era necessário fazer para alcançar vida eterna, o Rabi da Galileia perguntou ao judeu religioso se conhecia os mandamentos contidos na Lei Mosaica, e este respondeu-lhe que os conhecia desde o dia em que foi aprovado na cerimônia religiosa do Bar Mitzvah, quando tinha 12 anos de idade, data na qual o menino se torna membro maduro na comunidade judaica. Mirando nos olhos do chefe de sinagoga, o Verbo da Vida disse-lhe que era necessário vender tudo o quanto possuía, distribuir os valores auferidos aos necessitados e segui-lo, e assim procedendo seria galardoado com um tesouro infindável na eternidade, onde o ladrão não rouba e nem a traça corrói.
06. Mas, o religioso ficou profundamente desapontado com a profundidade dos mandamentos da Lei Mosaica, que as conhecia, apenas, de cor e salteado, mas, não, na sua real interpretação à luz da sabedoria divina. Foi-lhe mostrado que o fato de guardar as leis ministradas por Moisés, isso não o capacitava em assuntos relacionados com a eternidade. Uma coisa te falta, disse-lhe o jovem pregador, e essa coisa era o apego exacerbado à riqueza material, da qual fazia, dela, seu deus pessoal. Na visão do Nazareno, aquele “homem era uma vítima dos conceitos de sucesso” cultivados em sua época, e aos quais se apegou, julgando-os corretos.
07. O judeu deixou aquele encontro muito triste, pelo fato de não desejar se desfazer do conceito de segurança que entendia extrair da riqueza, da condição religiosa, do prestígio político, do direito de hereditariedade abraâmica, e do conhecimento intelectual que auferia. Riqueza não leva ninguém à perdição eterna, mas, sim, o de se fazer dela o seu deus. Então, o dinheiro era a segurança na qual aquele chefe de sinagoga se escorava. Segundo a teologia judaica da época, a riqueza material era tida como sinal de piedade e de benção divina, uma espécie de teologia da prosperidade, erva daninha que vem sendo cultivada por pastores maçons de nossos dias, os quais se apoiam na riqueza material para se proclamarem Filhos de Deus.
08. O Messias não viu mal algum na riqueza do judeu religioso, com o qual dialogava, mas a considerou como uma peça de tropeço para todo aquele que nela depositar sua confiança, porquanto, na visão do Homem de Nazaré, a posse de muito dinheiro traz consigo um falso senso de segurança, como também mina a vontade de seu proprietário em depositar sua confiança no Deus o Todo-poderoso.
09. Embora se empenhasse em buscar vida eterna abundante, o chefe de sinagoga encontrava-se longe dela, apesar de sua sinceridade, porquanto sua confiança estava firmada na riqueza, na religiosidade e na hereditariedade, e foi por causa dessa areia movediça teológica, na qual se apoiava, que o Rabi tentou libertá-lo das algemas da riqueza que cultivava.
10. Certo comentarista bíblico pontuou que o religioso judaico tentou barganhar vida eterna, confiado nas moedas do Judaísmo que herdara, mas não conseguiu fechar o negócio, porquanto se negou pagar o devido preço exigido pelo vendedor, que exigiu, dele, que vendesse tudo o quanto possuía, para, então, levar consigo o produto almejado, e por se negar a abandonar tudo, falhou, daí ficar decepcionado.
11. Trazendo o aprendizado para nossos dias, é impossível alguém seguir os passos de Cristo Jesus carregando consigo a bagagem do ódio, da morte, da corrupção, da trapaça, do aborto, das drogas alucinógenas, da prostituição, do aborto, da pedofilia, da sodomia, ou de qualquer outro modelo de valor temporal armazenado em seu coração. Vida eterna tem aquele que perde sua vida secular por amor ao Messias prometido pelas Sagradas Escrituras, e não aquele que a procura ganhar por meio de seu próprio esforço.
12. Seu seleto grupo de discípulos a tudo deixaram para segui-lo ao longo de uma jornada de três anos e meio pelas estradas empoeiradas da Galileia. E foi focado no princípio de entregar tudo para segui-lo, que o jovem Rabi lutou para libertar o religioso judeu “das muletas das riquezas” que o aprisionava, mas todo seu esforço ruiu por terra, porquanto o deus desse religioso era o dinheiro. E aquele ser poderoso que restituiu a visão de deficientes visuais, que ressuscitou defuntos de vários dias, que curou paralíticos e que expulsou demônios incorporados em humanos, foi incapaz de libertar o religioso do apego à riqueza, pelo fato de o livre-arbítrio ser um bem inviolável concedido pelo Criador do universo maravilhoso.
13. Em uma carta dirigida a seu discípulo Timóteo, o apóstolo Paulo de Tarso o orientou a não se apoiar na riqueza, porquanto, afirmou o apóstolo, “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males”. E a respeito dessa afirmativa, a temos visto na vida de muitos personagens ao longo da existência humana (I Timóteo 6.10).
14. Em uma matéria da revista Palavras, de 1993, ao se realizar uma triagem em um senhor idoso que havia dado entrada em uma unidade hospitalar da cidade britânica de Londres, os funcionários se depararam cum um saco de dinheiro que o paciente trazia preso a seu corpo enfermo. Em vão foi o tempo gasto para convencer o idoso a depositar as libras esterlinas no caixa-forte da instituição de saúde. É que seu apego ao dinheiro era de tal monta, que insistia em levar consigo o tesouro para a tumba úmida. E ao sentir que a monte se aproximava para levá-lo a uma existência vazia, começou a bradar: “O meu dinheiro! O meu dinheiro!”, e assim partiu, sem Deus e sem salvação.
15. Quanto ao judeu religioso que o procurou, o jovem Rabi o aconselhou a se desapegar da riqueza que o impedia de cultivar uma fé inabalável no Deus o Todo-poderoso, condição essencial para receber um tesouro inesgotável na vida além-túmulo. A teologia judaica de então ensinava que a riqueza material é sinônimo de benção divina, e na onda dessa teologia da prosperidade navegava o homem ricaço. E foi refutando esse princípio teológico abominável, que o Homem de Nazaré lhe mostrou a impossibilidade de alguém servir a seu Criador, caso não abra mão de valores materiais aos quais mantém aprisionados em seu coração.
16. Esse judeu entendia que, por ser muito rico, por guardar os mandamentos da Lei Mosaica, e por ser da linhagem do Patriarca Abraão, vida eterna abundante lhe era garantida por direito de hereditariedade, daí ficar decepcionado ao receber do Rabi a informação de que esses ensinos de vida eterna, que aprendera em sinagogas judaicas, não batiam com a verdade das Escrituras Sagradas. Como frutos dessa herança cultural do Judaísmo, os discípulos do Rabi, que ouviram o diálogo, ficaram perplexos com os ensinos de seu Mestre.
17. Dirigindo-se a esse seu grupo seleto de seguidores, mostrou-lhes o quão difícil é o acesso à vida eterna, por parte de quem assentar os alicerces de sua construção espiritual sobre o terreno inconsistente da riqueza material. E fazendo uso de uma linguagem figurada, fê-los ver que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que uma pessoa, que se apoia na riqueza material, entrar no reino do céu. Não pelo fato de ser rico, mas o de fazer da riqueza, da cultura secular, da religiosidade, e de ilusões outras, o deus de sua existência terrena.
18. Como o judeu religioso entendia ser possível alcançar vida eterna por meio de esforço próprio, foi-lhe mostrado que sua convicção era tão impossível de se tornar realidade, quanto a de um camelo passar pelo furo de uma agulha, uma vez que salvação eterna é um milagre que depende exclusivamente da graça que emana do trono do Deus o Todo-poderoso.
19. O senhor Jesus Cristo não queria a riqueza, a religiosidade e nem a hereditariedade do milionário judeu, mas unicamente seu coração. E falando a respeito dessa afirmativa, muito bem falou o imperador francês, Napoleão Bonaparte (1769-1821), quando exilado foi na rochosa Ilha de Santa Helena, após ser derrotado na Batalha de Waterloo, um vilarejo da Bélgica, em 18 de junho de 1815:
“No auge da minha glória, muita gente me honrava ao ponto de morreu alegremente por mim. Contudo era necessária a minha presença para entusiasmar os soldados. E agora que estou confinado em Santa Helena, quem ainda lutaria por mim... quem me permaneceu fiel? É esse o destino de grandes homens!
“Quão grande diferença há entre a minha queda e desgraça, comparada ao regimento eterno do Filho de Deus! Mesmo antes que morra, a minha obra já está destruída. Enquanto isso, Cristo morreu há dezoito séculos, mas a sua obra permanece como nos dias em que ele agia no mundo. Ele esperou tranquilo a morte, sem recear algo. É o único que, após a morte, é ainda mais vivo e poderoso que antes, na vida terrena...
“Em quase todos os confins da terra, sua palavra é pregada, ele é amado e adorado. Alexandre, César... edificamos reinos poderosos, mas em que apoiamos o nosso poder? Na força! Jesus edificou o seu reino sobre o amor e ainda nessa hora, milhares de pessoas deixariam a sua vida por ele com alegria. Ele é o conquistador, que unifica verdadeiramente, ligando a si não apenas um povo, mas sim, toda a humanidade. Cristo visa alcançar o amor das pessoas, o que é mais difícil de ser conseguido. Ele exige o coração. É o coração que ele conquista. Todos os conquistadores do mundo, com seus dons intelectuais fracassaram, porque subjugaram mundos, porém não conquistaram um amigo sequer...”. Enfim, é o coração que o Senhor Jesus Cristo deseja conquistar. Irá conquistar o seu?
Conclusão dos fatos
01. A recompensa para quem aceita a Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador, no tempo presente, gozará de proteção divina e, na eternidade, será galardoado com enormes tesouros que a mente humana é incapaz de imaginar.
02. Espantados com a recusa do religioso, de abandonar tudo para alcançar vida eterna, seus discípulos, tendo a Simão Pedro como porta-voz do grupo, questionou a seu Mestre acerca de que recompensa teriam, uma vez que haviam deixado tudo para segui-lo; e, como resposta, tiveram conhecimento de que, no presente século, teriam proteção celestial e, que, na eternidade, se assentariam em seu trono, como juízes, para julgar as doze tribos de Israel.
Doutrinas eternas
pr. Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 21.05.2021
Ainda não publicado nem revisado.