A ESCOLHA DO LEITOR
A ESCOLHA DO LEITOR
“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto sua cognição se prepara assiduamente para o exercício da leitura. Sim, você lê muito, seja o texto verbal ou não verbal. Estamos em um momento bastante imagético, em que muitas fotos, vídeos, memes circulam nas redes. Entretemo-nos. Horas a fio nos abastecemos de uma imensa gama de informações. Muito tempo quotidianamente dedicado ao acesso à vida alheia. O que sobra de nós? Quem se (re)conhece nessa multidão fantasiosa, neste mundo de fadas em que todos são ricos, bonitos e bem-sucedidos?
O fato é que há tempo para leitura. Falta-nos o empenho, a força para ir de encontro a preguiça, superar o desconforto (sadio) da ignorância, superar a palavra desconhecida, recorrer ao dicionário que, infelizmente, é tachado de “pai dos burros”, quando, na verdade, é o “pai dos inteligentes”. Apenas pessoas sábias alimentam a curiosidade e se encaminham para sanar sua insipiência (procure esta palavra no dicionário).
Meu ofício de professor me leva a diariamente estar com muitas pessoas. Não raro, relato minha obsessiva compulsão leitora. Reconheço-me incompleto, e os livros me preenchem. As perguntas recorrentes são “como criar o hábito da leitura”, “como ler mais”, “como gostar de livros?”. Respondo-lhes: primeiro, é preciso começar aos poucos – cinco páginas por dia. Para quem não lê e, de repente, invade-lhe a ânsia para a atividade, é como alguém sedentário que quer compensar o descuido com o corpo correndo 40min no primeiro dia da academia. Será cansativo, muito. Chato, deveras. Segundo, é preciso procurar uma obra que, à primeira vista, o agrade. Terceiro, defina metas diárias e semanais: “hoje lerei 30 páginas”, “minha meta é concluir esta obra nesta semana”.
Outro problema alegado pela maioria das pessoas é o fator “tempo”. Não quero entrar no lugar-comum de que isso é uma questão de prioridade, mas, de fato, o é. Porém, é possível fazer um acordo consigo e estabelecer o compromisso de começar o dia um pouco mais cedo e/ou dormir mais tarde para que se possa ler uma quantidade considerável de páginas. Além disso, aproveitar as horas mortas, como fila de banco, consultas médicas, período em transportes, é uma ótima sugestão (deixe de lado um pouco o celular).
Vença o tédio. Controle sua ansiedade. Ler um bom livro o obrigará a ter mais foco, ampliará seu vocabulário, tão útil para melhor compreensão de textos e de seu mundo. Não se trata de se expressar de modo tão rebuscado, mas de não lhe faltar palavras para exprimir seus sentimentos, suas ideias. Nós somos feitos de linguagem. Supere os períodos longos, as orações subordinadas (quase em extinção), o esforço dos olhos.
Se você se vir tentado a largar o Machado de Assis, não o chame de chato. A culpa é sua. Tenha humildade de assumir isso. Você não está preparado(a) para ele. Antes precisa amadurecer. E só se consegue a maturação procurando-a e com paciência – leva tempo, mas vale a pena!
Saia dessa zona de conforto para incomodar o mundo com suas ideias. O mundo está cansado da repetição de tantos lugares-comuns e clichês. (Des)estabize a ordem das coisas com a leitura. Não se engane: você gosta de ler e precisa disso. Só ainda não sabe.
Leo Barbosa é professor e poeta