Estrada de Ferro Nazaré
Dados históricos
Desde os dias da invasão e ocupação de terras brasileiras, colonizadores portugueses se estabeleceram ao longo da costa marítima, e deixaram o interior abandonado. Tempos depois, quando avançaram para o interior, o fizeram para escravizar habitantes nativos, encontrar pedras preciosas e desmatar a floresta gigantesca. No Estado da Bahia, onde inicialmente aportaram, os lusitanos fixaram-se ao longo do Recôncavo Baiano, região composta por povoados rurais situadas ao redor da cidade de Salvador, a primeira capital do país, e os Senhores de Engenho usaram o Rio Jaguaripe como elemento de vital importância para estabelecerem suas fazendas na região.
O sistema ferroviário baiano teve início na década de 1950, na base do pioneirismo, mas sem deter o poder tecnológico de ponta, e surgiu numa visão expansionista de transporte de passageiros e escoamento da produção. A ferrovia e o sistema de navegação mercantil exerceram essa função. Foi assim que a malha ferroviária se apoiou em acompanhar os canais hidrográficos existentes, mas evitando aclives e obras civis de terraplanagem, porquanto a tecnologia não dispunha de tais recursos.
A produção de regiões interioranas era escoada para centros urbanos dotados de portos fluviais, e daí seguia com destino ao porto de Salvador, por meio de navios mercantes. Em centros produtores que não possuíam portos, operava-se pelo sistema da malha ferroviária.
A Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, também conhecida como Bahia and São Francisco Railway, foi a primeira ferrovia baiana, com extensão de 578 quilômetros, ligando Salvador a Juazeiro, na divisa com a então Província de Pernambuco, e operava em conexão com o porto fluvial do Rio São Francisco, que atravessa a Bahia, de norte a sul.
Nos dias do reinado sertanejo de Antônio Conselheiro, o senhor de Canudos, uma civilização comunitária estabelecida em meio a uma região sem chuvas, a indústria de couro era uma das atividades produtivas que firmava o trabalhador no solo pátrio. O escaldante Sol desse pedaço de Sertão secava rapidamente o couro, que, trabalhado nos curtumes por uma mão de obra abundante e especializada, era colocada no lombo de animais de carga, o único meio de transporte desses dias de trevas, e transportado para a cidade de Juazeiro, onde previamente era comprada pelo coronel João Evangelista Pereira de Melo.
Esse distribuidor usava o sistema de navegação pelo Rio São Francisco para enviar suas mercadorias ao porto de Salvador, e daí era exportado para a Europa, competindo de igual para igual com produtos curtidos pela Rússia czarista. De maneira que o sistema de navegação, por esse curso d’água, era e tem sido usado por comunidades dessa região.
A primeira iniciativa da implantação da malha férrea ocorreu em 1852, na gestão do Governo Provincial, quando foi concedida a execução à companhia Junta da Lavoura e outros Proprietários. Os trilhos começaram a ser instalados em 1856, e chegou a Juazeiro em 1895.
O sistema rodoviário baiano ganhou vitalidade na década de 1920, quando o primeiro plano rodoviário foi elaborado, aprovado e autorizado pela Assembleia Legislativa, em 31 de agosto de 1917. A partir de então, deu-se início à construção de estradas de rodagem para ligar centros produtores a mercados consumidores, a rios navegáveis, a portos e a centros ferroviários.
A primeira estrada de rodagem mais importante foi a que liga Salvador a Feira de Santana, e cujo trecho final somente ocorreu em 25 de abril de 1928. As demais surgiram em seguida, e todas sem revestimento ou camada asfáltica. O planejamento de rodovias ganhou muito impacto com a implantação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e do Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia (DERBA), em fins da década de 1940. E somente a partir da década de 1960 é que as rodovias baianas passaram a receber pavimentação asfáltica, com a descoberta e extração de petróleo.
A área de influência da Estrada de Ferro Nazaré teve sua expansão até a década de 1930, data em que exerceu importância direta em 12 municípios, e indiretamente em outros 12, todos, localizados no entorno de sua malha de trilhos.
Até grande parte da última metade do Século XIX, o Sudoeste Baiano viveu totalmente abandonado pelo poder central. Para alavancar o progresso da região situada entre os vales do Rio Paraguaçu e o Rio das Contas, empresários nazarenos planejaram a construção de uma estrada de ferro que rasgasse uma região de terras repletas de florestas virgens, para oferecer a essas comunidades serviços de transporte de cargas e de passageiros. Foi assim, que a velha Maria Fumaça, alimentada a lenha, passou a escoar toda a produção da região até o porto marítimo de São Roque do Paraguaçu, situado na margem esquerda da Baía de Todos os Santos, local de onde, em navios mercantes da Companhia de Navegação Baiana (CNB), abastecia o mercado consumidor de Salvador.
Nazaré
A cidade de Nazaré tem área de terras de 253 km² e população estimada de 29.450 habitantes, em 2016. Por volta da segunda metade do Século XVI, a região de tribos nativas Tupinambás passou a ser colonizada por aventureiros portugueses. Fernão Cabral de Ataíde, natural de Silves, na região do Algarve, aos 25 anos, veio para o Brasil, em 1560, povoou a margem direita do Rio Jaguaripe, e a batizou pelo nome de Sesmaria de Jaguaripe. No local instalou um caríssimo engenho hidráulico, residência de dois pavimentos, oficinas, casórios e uma capela dedicada a São Bento.
Poucas décadas depois, acusado pela maldita Inquisição de profanar o povoado com “sua participação e proteção à Santidade de Jaguaripe”, que era uma “Santidade Tupinambá”, criada em 1580 e destruída em 1585 por ordens do governador-geral Manoel Teles Barreto. Essa tal santidade surgiu em sua fazenda, local onde foi erguida uma “Igreja” para prestação de culto a ídolos gentios.
O fazendeiro e família tentou escapar em 19 de setembro de 1591, para Lisboa, na embarcação Urca Flamenga, mas foi preso e encarcerado nos porões do Colégio dos Jesuítas, em Salvador, onde funcionava o Tribunal do Santo Ofício no Brasil colônia, e foi sentenciado em 20 de agosto de 1592.
Além do fazendeiro pagar mil cruzados para cobrir as despesas do Santo Ofício, foi acusado de mandar queimar, viva, uma nativa cristã, de forçar a comadre Luisa D’Almada manter relações dentro da igreja de sua Sesmaria, de desrespeito ao Clero e ao Sacramento, de atuar como padrinho de um bígamo, de ser judeu novo, de praticar sodomia com uma nativa virgem, de fornicação e de permitir a instalação de uma feiticeira em suas terras. Em 10 de setembro de 1592 foi solto por força do “instrumento público de fiança”, antes de cumprir o degredo, e em abril de 1593 encontrava-se em Lisboa. Sobre seus bens não se tem notícia, podendo ter sido confiscados pela Inquisição amaldiçoada.
As terras da margem esquerda do Rio Jaguaripe que haviam sido doadas a Pero Carneiro foram transferidas para Antônio Brito, que instalou a Fazenda Nossa Senhor de Nazaré e Jaguaripe, construiu um engenho, uma moradia e uma Capela autorizada pelo bispo Dom Pedro Silva.
O Povoado foi elevado à categoria de Freguesia em 1753, no ano de 1831 a Freguesia foi elevada a Vila, com o nome Vila de Nossa Senhora de Nazaré, e em 10 de novembro de 1849, pela Resolução Provincial nº 368, a Vila passou a Município, com o nome Constitucional Cidade de Nazaré.
Foi fitando os Andes que um grupo de empresários bem-sucedidos da cidade de Nazaré, em 1866, planejou construir uma ferrovia que oferecesse serviços de escoamento da produção agrícola, meios de comunicação, transporte de carga, de passageiros, e desenvolvimento econômico-populacional a uma região de economia primária e de uma densa nuvem de analfabetismo.
A cidade de Nazaré encontra-se localizada na parte central sul do Recôncavo Baiano, instalada às margens do Rio Jaguaribe, povoada por desbravadores portugueses que instalaram os primeiros engenhos de farinha e de açúcar, e cujo foco da produção agrícola é a cana de açúcar, azeite de dendê e mandioca. A cidade foi povoada em volta de uma capela, e hoje, nas instalações da antiga estação ferroviária, funciona o centro de cultura da municipalidade.
Com 325 km de extensão, a Estrada de Ferro Nazaré (EFN), que tem início em solo nazareno, passou a se estender às cidades de São Roque do Paraguaçu, Nazaré, Santo Antônio de Jesus, São Miguel das Matas, Laje, Mutuípe, Jiquiriçá, Ubaíra, Santa Inês, Itaquara, Jaguaquara e Jequié, até ser desativada no ano de 1968.
Mutuípe
Em algum momento do ano de 1860, o senhor Manuel João da Rocha comprou dos nativos Cariris uma aldeia, e denominou a fazenda pelo nome Mutum, devido a localidade ser habitada por abundantes aves dessa espécie. Devido à fertilidade do solo e à abundância de água do Rio Jiquiriçá, sua fazenda começou a produzir cana de açúcar, fumo, café e mandioca, como a criação de gado para suprir a demanda do Recôncavo Baiano. Com a chegada da malha férrea da Tram Road de Nazaré, em 1905, promovendo transporte de carga e de passageiros, como a região agregar produção agrícola cafeeira, tais elementos permitiram uma boa integração da localidade com os principais centros produtores e consumidores da região.
Por meio da Lei nº 778, de 30 de setembro de 1910, o Governador João Ferreira de Araújo Pinho decretou que a sede do Distrito de Paz do Riacho da Cruz fosse transferida para o povoado de Mutum. Com a criação do município de Jiquiriçá, o distrito Mutum ficou sob sua administração. A Vila de Mutum foi grandemente afetada pela enchente do Rio Jiquiriçá, em 1914, e pelo surto de varíola, em 1919. Finalmente, com a Lei nº 1882, de 26 de julho de 1926, a vila foi transformada em município com o nome Mutuípe.
A partir da década de 1930 a região do Recôncavo Baiano muito sofreu com a queda do valor do café no mercado externo, com o uso das terras para a criação de gado e com a solvência da Estrada de Ferro Nazaré em 1968. A situação melhorou com a chegada da CEPLAC, na década de 1970, com a implantação da cultura do cacau no município.
Mutuípe encontra-se localizada na região Sudeste da Bahia, com extensão territorial de 358 km². Na manhã de 30 de agosto de 2020 a cidade foi sacudida por um terremoto de magnitude 4,6 graus na Escala Richter, sem maiores danos, apenas rachaduras em algumas construções.
A primeira estação ferroviária foi inaugurada em 1905, localizada na Praça Doutor Xavier da Costa, e funcionou até o ano de 1945, quando foi demolida e construída uma nova na Praça Doutor Bartolomeu Chaves. A demolição se deu ao fato de, quando o trem parava na estação, no sentido Nazaré-Jequié, alguns vagões ficavam posicionados sobre a ponte erguida sobre o Rio Jiquiriçá, interrompendo o trânsito de quem circulava sobre o local. Com o fim da ferrovia, a estação ferroviária foi transformada em uma associação de assistência social.
Santo Antônio de Jesus
As primeiras expedições de colonizadores portugueses são datadas a partir do Século XVI. Os colonos chegaram à região navegando ao longo do Rio Jaguaripe e firmaram uma aliança com nativos de Pedra Branca nesse lugarejo repleto de terras férteis, madeiras valiosas e acesso fluvial. Tempos depois, os colonos Pero Carneiro e Álvaro da Costa deram início à plantação de cana de açúcar, atividades agrícolas outras e a instalação de engenhos de farinha e de cana de açúcar. O padre Mateus Vieira de Azevedo foi o principal desbravador, com residência nas proximidades do Rio Sururu. O religioso formou o primeiro povoado e ergueu um Oratório em 23 de setembro de 1777, que depois foi transformado em Capela, em 19 de junho de 1852, e finalmente Igreja Matriz do lugarejo rural.
A Lei Provincial de 29 de maio de 1880 desmembrou, de Nazaré, os territórios da Freguesia de Santo Antônio de Jesus e de São Miguel da Nova Laje, para formar o povoado, que, em 1931, teve seu nome original simplificado para Santo Antônio, até que, em 1938, passou a ser novamente Santo Antônio de Jesus e, com o Ato Estadual de 30 de junho de 1892, tornou-se cidade.
Considerada capital do Recôncavo Baiano, devido sua importância comercial, industrial e de serviços, o município, com população estimada de 102.380 habitantes, conforme o ano de 2020, encontra-se há 187 km de Salvador.
Pouco tempo após a falência da Tram Road de Nazareth, novos empresários passaram a comandar a empresa, em janeiro de 1878, e mantiveram o mesmo nome. Depois, com a assinatura de contrato com o Governo da Província da Bahia e do Império, os trilhos passaram a ser assentados ao longo dos trechos Onha-Taitinga, Taitinga-Mutum e Mutum-Rio Fundo. Contudo, devido a novos problemas financeiros, o governo provincial tornou-se o principal acionista do empreendimento ferroviário.
A malha férrea chegou a Santo Antônio de Jesus, e a estação ferroviária foi inaugurada no ano de 1880. Décadas depois, em 1950, foi assentado trilhos que permitiram sua conexão com a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, um ramal vindo da cidade de Cruz das Almas, e este se ligava a Conceição de Almeida. Com o fim da ferrovia, a estação foi demolida, e em seu local foi instalado um posto de gasolina, este, na avenida mais movimentada da cidade.
Varzedo
Comandada pelo engenheiro Alexandre Bittencout, a malha de trilhos chegou a Vargem Grande no ano de 1892, data da inauguração de sua estação ferroviária. O município teve seu nome mudado para Varzedo, em 1943. Com a desativação da linha férrea, a estação passou a ser usada para outras atividades.
O município de Varzedo tem área territorial de 226,80 km², encontra-se a 13 km a Sudoeste de Santo Antônio de Jesus. Em 2020, sua população foi estimada em 8.785 habitantes, conforme dados do IBGE.
Amargosa
Com sinal verde do governo imperial, a malha de trilhos da Tram Road de Nazareth seguiu de Santo Antônio de Jesus em direção a Amargosa, um percurso de 29 quilômetros, uma derivação da ferrovia. Com a chegada da malha férrea, a estação ferroviária foi inaugurada em 18 de dezembro de 1892, localizada na Praça do Bosque.
Esse município encontra-se na Mesorregião do Centro-Sul Baiano e na Microrregião de Jequié, e tem população de 37.031 habitantes, de acordo com uma estimativa do IBGE, de 2018.
No dia 19 de junho de 1891 a vila de Nossa Senhora do Bom Conselho de Amargosa foi elevada à categoria de cidade, com o nome Amargosa, vocábulo que deriva da caça de pombas de carne amarga que nativos da tribo Baitinga costumavam se alimentar. A pecuária, laticínios, caju, café, banana, farinha de mandioca, comércio, turismo e indústria de calçados alimentam as principais atividades econômicas do município.
Localizada no Vale do Jiquiriçá, seus rios, cachoeiras, matas, trilhas, morros e colinas de matas verdejantes compõem belas paisagens. A cidade foi sacudida na manhã do dia 30 de agosto de 2020 por um abalo sísmico de magnitude 4,2 na escala Richter, e na madrugada do dia seguinte um novo abalo ocorreu, com magnitude 3,5 graus.
A indústria de pequeno porte está voltada para consumo local, como micro usinas de leite, torrefações de café, casas de farinha, olarias e Frigorífico Frigamar de propriedade da JBS Friboi. Na área de ensino superior funciona a Universidade Federal do Recôncavo Baiano e a escola técnica Cetep.
Ubaíra
No ano de 1790 o cidadão João Gonçalves da Costa recebeu a incumbência de dar cabo a nativos Mongoiós de uma aldeia de Santo Antônio de Cantanhede, situada às margens do Rio Jiquiriçá, e o território foi anexado à Vila de Valença, de acordo com a Carta Régia de 1º de janeiro de 1813. Em suas proximidades funcionavam as Sesmarias de São Paulo e de Poço do Facão, que haviam sido doadas a Manoel de Souza Santos e Domingos de Matos e Aguiar, pelo Alvará de 13 de maio de 1770, mas que somente foram ocupadas em 20 de dezembro de 1781.
No processo de ocupação e exploração das terras do Recôncavo Baiano, os terrenos situados a meia légua de cada margem do Rio Jiquiriçá, conhecidos como Barra da Estopa e Riacho da Torre, foram doados como sesmaria a Francisco de Souza Feio, o primeiro explorador da região de florestas habitadas por nativos, e que tomou posse em 7 de maio de 1875.
A sede da Fazenda Pindobas, de Francisco de Souza Feio, que estabeleceu num lugar denominado Estopa, também conhecido como Barra da Palmeira, tempos depois, tornou-se sede de um pequeno povoado. Um seu genro, de nome Manuel de Souza Santos, explorando terras para além da sesmaria, estabeleceu residência em um lugar chamado Santa Inês. Devido à seca que irrompeu em 1824, e que durou três anos, os genros de Manuel de Souza Santos abandonaram suas fazendas e retornaram à sede da Fazenda Areia, a qual veio a formar a povoação, vila e atual cidade de Areia, que, tempos depois, teve seu nome alterado para Ubaíra.
Devido à decadência da Vila de Santo Antônio do Jiquiriçá, sua sede foi transferida parar o Povoado de Areia, conforme Lei Provincial nº 1.046, de 17 de junho de 1868; pela Lei nº 1611, de 16 de junho de 1876, seu nome foi alterado para São Vicente Ferreira de Areia; e pelo Ato Estadual de 30 de junho de 1891, nasceu a cidade de Areia.
Conforme o aspecto político, o primeiro intendente, o mesmo que prefeito, foi o coronel Silvério Pinheiro de Matos, ao tomar posse em 1889; e nas eleições municipais de 1893 foram eleitos oito conselheiros, o mesmo que vereadores, sendo um deles o vigário Manoel Leôncio Galrão, aquele que tentou impedir o capital Egídio Pereira de Almeida, da Toca da Onça, usar as instalações da Casa de Câmara e Cadeia, de Areia, para um culto religioso.
Pelo Recenseamento de 1920, o município era constituído pelos distritos Areia, Riachão, Volta do Rio, Santa Inês, Itaquara e Jaguaquara. E de acordo com o Decreto-Lei Estadual nº 141, de 31 de dezembro de 1943, cujo quadro territorial somente passaria a vigorar no quinquênio 1944-1948, o nome Areia seria substituído por Ubaíra, e isso ocorreu por meio do Decreto Estadual nº 12.978, de junho de 1944.
Como a Companhia Tram Road de Nazareth não conseguiu cumprir o cronograma pré-estabelecido de levar a malha férrea adiante, com a queda do Império e o surgimento da República, o Governo da Bahia, em março de 1899, assumiu a construção do trecho ferroviário até Areia, a atual Ubaíra, e a estação ferroviária da Estrada de Ferro Nazaré do município foi inaugurada no dia 15 de novembro de 1906.
Laje
De acordo com informações prestadas por antigos moradores de um povoado situado na margem direita do Rio Jiquiriçá, por volta de 1850 uma enorme enchente desviou o curso d’água e gerou uma grande destruição na comunidade. Nessa ocasião, os moradores se reuniram e construíram a capela de Nossa Senhora das Dores, edificação que deu início a um povoado em sua margem esquerda, situado “um pouco abaixo da Cachoeira do Estouro”. Devido à existência de enormes lajedos em seu entorno, o povoado teve seu nome alterado para Nova Laje.
Em 1864, o lugarejo passou a se chamar Freguesia de Nossa Senhora das Dores de Nova Laje, conforme Lei Provincial nº 929, de 02.05.1864, subordinado ao município de Aratuípe. No ano de 1870 a sede do vilarejo foi transferida para o povoado vizinho, de nome Capela de Nossa Senhora da Conceição do Cariri. Em 1884 a Sede da freguesia retornou a Nova Laje, com o nome Nossa Senhora da Conceição do Cariri de Nova Laje.
Ao se desmembrar de Aratuípe, pela Lei Estadual nº 595, de 20.07.1905, teve seu nome alterado para Vila de Laje, e pelo Decreto Lei Estadual de 30.03.1938, foi elevada à categoria de cidade, tendo Leonel de Caldas Brito seu primeiro prefeito. O município tem área de terras de 457,70 km², e sua população, em 2020, era de 24.032 pessoas.
A cidade encontra-se localizada no Sudeste do Recôncavo Baiano, sendo inicialmente colonizada por fazendeiros portugueses, mas enfrentaram a resistência de nativos Paiaiás, que incendiaram plantações e engenhos de cana de açúcar na região, até metade do Século XVII. No ano de 1854 funcionavam onze engenhos, sendo que alguns com mão de obra escrava, e produziam muitas toneladas de arrobas de açúcar. A economia lajeana é basicamente alimentada pela agropecuária.
A estação ferroviária da Estrada de Ferro Nazaré, de Laje, foi inaugurada em novembro de 1901. E com a chegada dos trilhos da ferrovia Estrada de Ferro de Nazaré, a população se expandiu “em torno da Estação Ferroviária”.
São Miguel das Matas
No ano de 1557 o rei de Portugal, Dom João III, fez doação a Dom Álvaro da Costa, que era filho do então governador-geral do Brasil, Dom Duarte da Costa, de uma faixa de terra não-povoada entre o Rio Jaguaripe e o Rio Paraguaçu, tendo 4 léguas (uma légua é igual a seis quilômetros) de costa, na largura e no comprimento, 10 léguas para o sertão e pelos rios mencionados. Essa faixa de terra se enquadra dentro do município de São Miguel das Matas.
Cerca de 100 anos depois, na segunda metade do Século XVII, o rei de Portugal, por meio de uma Carta Régia, mandou que se criasse, na parte dos fundos da Vila de Maragogipe, um povoado com o nome de Freguesia de Nossa Senhora D'Ajuda, que, em 27 de dezembro de 1693, foi elevada à categoria de município, o primeiro do Recôncavo Baiano, denominado Vila de Nossa Senhora D'Ajuda de Jaguaripe. Em 1931, foi anexado ao município de Aratuípe, mas devido a protestos dos moradores, a anexação foi desfeita no mesmo ano. Em um dos distritos, anos depois, surgiu a Vila de São Miguel da Aldeia.
Padres Franciscanos do povoado de Acaju ou Cajueiro utilizavam sermões educativos sobre o modo de plantar, de colher, de beneficiar o cultivo do café e como distribuir sementes a colonos.
Com o desenvolvimento da cultura da mandioca, do café, da cana de açúcar, do fumo e da criação de gado, foram surgindo pequenas casas comerciais e algumas moradias em torno da Capela de São Roque, fato que influenciou a coroa portuguesa a elevar a Vila para Freguesia de São Miguel da Aldeia. Essa alteração se processou por meio do Alvará de 24 de novembro de 1823.
Quando o arraial de Nova Laje passou a fazer parte da Freguesia de São Miguel da Aldeia, este passou a ser chamado de São Miguel da Nova Laje. O município foi emancipado no dia 1º de junho de 1891, todavia, somente no dia 8 de junho é que sua administração autônoma teve início com o nome São Miguel das Matas.
A estação ferroviária da Tram Road de Nazareh foi inaugurada no ano de 1892, data em que o ramal da malha férrea foi prolongado até o município de Amargosa. Com a desativação da ferrovia, o prédio passou a ocupar a outras finalidades.
No ano de 1905 a concessionária sofreu mais um ataque financeiro, obrigando o Governo da Bahia, por lei estadual estatizar a ferrovia que passou a se chamar Estrada de Ferro de Nazaré. Em 1906, o trecho entre São Miguel das Matas e Areia foi privatizado, como também o trecho Rio Fundo-Amargosa.
Jiquiriçá
O município de Jiquiriçá teve início em 1860 com um povoado conhecido como “velhas”, pertencente ao município de São Vicente Férrer D’Areia, como localidade de pouso para tropeiros que transportavam cargas entre Nazaré e Aratuípe, até Vitória da Conquista. Ao ser elevado à categoria de freguesia, em 16 de setembro de 1878, teve seu nome alterado para Senhor do Bomfim da Capela Nova, em decorrência da existência de uma capela que havia no povoado dedicada a Senhor do Bomfim.
Por meio do Ato Estadual de 31 janeiro de 1891, tornou-se município, com o nome de Capela Nova de Jiquiriçá, ao se desmembrar de São Vicente Férrer D’Areia. Em 1904, pela Lei Estadual nº 570, de 15 de setembro, teve sua denominação simplificada para Jiquiriçá, vocábulo indígena que quer dizer “rio de pesca”. Pela Lei Estadual nº1882, de 16 de julho de 1926, foi desmembrado do município de Mutum, que mais tarde originaria o município de Mutuípe. Em 1943, o município de Jiquiriçá foi extinto e anexado ao município de Mutuípe, e somente foi restaurado em 1º de junho de 1944.
As enchentes de 1914, 1960, 1964 foram as piores de toda a história do município, destruindo uma parte da cidade, o comércio local, e deixou dezenas de famílias desabrigadas.
O município encontra-se na Mesorregião Sudoeste do Estado, na Microrregião Homogênea de Jequié, dista cerca de 259 km de Salvador, e tem população residente de 14.118 habitantes, conforme censo de 210.
O município é parte do movimento colonizador do Século XVII, quando bandeirantes, em 1668, seguiram pelo Rio Jaguaripe em direção a Ilhéus. Nessa ocasião, Paulo de Argollo se estabeleceu com Bernardo Ribeiro em uma sesmaria. Devido a suas matas de vinhático, as sesmarias eram conhecidas por Senhor do Bonfim das Velhas e, tempos depois, Velhas, conforme Cartas Régias emitidas no período colonial. O bandeirante Aguiar Banige colonizou suas terras no Século XVIII, quando a Freguesia de Santo Antônio do Jiquiriçá foi criada, conforme registro do vigário Felix Gonçalves da Silva, em 1757, sendo a região coberta por florestas que abrigavam aldeias de nativos Tupiniquins e Tupinaés, como muita onça pintada.
A estação ferroviária da Estada de Ferro Nazaré de Jiquiriçá, município que dista 148 quilômetros de Nazaré, foi inaugurada no dia 11 de fevereiro de 1906.
Santa Inês
Situada no Vale do Jiquiriçá, a cidade de Santa Inês tem uma população estimada de 10.606 habitantes, conforme dados do IBGE de 2020, e área de terras de 357,66 km². O município vive de economia primária com predominância do setor comercial local. Na área educacional funciona o campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano oferecendo cursos técnicos de nível médio de Agropecuária, Zootecnia e Alimentos, Informática, Licenciatura em Ciência Biológica e Geografia, e bacharelado em Zootecnia. A estação ferroviária da Estrada de Ferro de Nazaré foi inaugurada em dezembro de 1908.
Itaquara
No Século XIX, ao receber do rei Dom João VI uma sesmaria, o bandeirante Manoel Souza Santos estabeleceu um povoado, ao qual denominou Caldeirão do Diogo, e passou à criação de gado, até que, em 1918, surgiu o distrito de Caldeirão subordinado ao município de Areia, em 1924 passou a compor o município de Santa Inês. Todavia, com a Lei Estadual de 19 de julho de 1926, foi elevado à categoria de cidade, com o nome Itaquara, e esta integra a Microrregião de Jequié. Sua área de terras é de 297,00 km², dista 319 km de Salvador, sua população é de 7.678 habitantes, a economia vem do setor comercial e da indústria de pequeno porte, e encontra-se localizada no Vale do Jiquiriçá.
O vocábulo itaquara vem do idioma Tupi e significa “toca de pedra”. No mês de julho de 1913 ocorreu a inauguração da estação ferroviária da Estrada de Ferro de Nazaré, o que alavancou, em muito, o desenvolvimento da comunidade local. No ano de 2007, o prédio da estação ferroviária foi transformado em Biblioteca Municipal.
Jaguaquara
O vocábulo jaguaquara vem do idioma Tupi e significa “toca da onça”. O município está localizado no Vale do Jiquiriçá, na Microrregião de Jequié, E tem população de 54.163 habitantes, conforme dados do ano de 2018. Por muitas décadas a Toca da Onça foi uma das seis enormes fazendas do capitão Manoel Esteves de Souza e dona Maria Tereza de Jesus. Nessa época, as terras que abrangiam Jaguaquara, Itaquara e Santa Inês eram exploradas por fazendeiros. A partir de 1887, a Toca da Onça tornou-se propriedade da empresa Fortunato Coelho & Cia, que, posteriormente a transferiu a Pinho Avelar & Cia. Em 1896, o jovem português Guilherme Martins do Eirado e Silva (25/05/1873 a 1952) a arrendou por algum tempo, e depois a comprou pela quantia de 10 milhões de réis. Foi assim que teve início a construção das primeiras edificações do povoado.
O cidadão Guilherme Martins, nascido na Freguesia de Beiriz, região de Póvoa de Varzim, aos 13 anos, sozinho, no dia 11 de janeiro de 1886, seguiu para Lisboa, e no dia 13 embarcou, sozinho, para Salvador, na Bahia, e chegou no dia 25. Mudou-se para Nova Laje, a atual Laje, em 1890, região bravia conhecida como Matas do Sertão de Baixo. No ano seguinte estava em Areia, a atual Ubaíra, no vale do Rio Jiquiriçá, e no ano de 1893 se casou com Maria Luiza de Souza (nasceu em 13.12.1876).
O povoado Toca da Onça teve seu início no ano de 1910, mas há quem coloque essa data em 1912, data em que surgiram as primeiras edificações. Após enfrentar árduas lutas políticas, o coronel Guilherme Silva, em 1913, conseguiu que a estação local da Estrada de Ferro Nazaré fosse instalada na sede do povoado, bairro Centro, e assim impediu sua instalação no bairro da Casca.
Pela Lei nº 174, de 5 de outubro de 1915, do Conselho Municipal de Areia, a designação Toca da Onça foi alterada para arraial de Jaguaquara. Pelo Decreto nº 1.540, de 16 de maio de 1916, foi criado o distrito de Jaguaquara.
Em 1919 havia 1 cinema e 8 escolas funcionando no povoado. A Lei nº 1472, de 18 de maio de 1921, elevou o Arraial de Jaguaquara à categoria de Vila de Jaguaquara. Pela Lei nº 1560, de julho de 1922, foi criado o vocábulo jaguaquara. Finalmente, no dia 30 de agosto de 1923, a Vila de Jaguaquara foi elevada à categoria de Cidade de Jaguaquara. Seu primeiro intendente, o mesmo que prefeito, foi o coronel Guilherme Martins do Eirado e Silva, eleito no dia 3 de julho para a gestão de agosto de 1921 a dezembro de 1923, e com a denominação “prefeito”, o primeiro foi o senhor Lauro Mota, na gestão de novembro de 1930 a novembro de 1937.
Localizada no Vale do Jiquiriçá, a cidade é dotada de clima excelente, invejável área topográfica de morros e vales, e por 13 anos foi ponto terminal da Estrada de Ferro Nazaré, até a malha férrea chegar a Jequié, em 1927. A malha ferroviária, situada no km 289 da Estrada de Ferro Nazaré, ficou concluída em 21 de dezembro de 1913, sendo que o tráfego de cargas e passageiros começou a circular em 10 de janeiro de 1914, data em que ocorreu a inauguração da estação ferroviária. Nessa mesma data irrompeu a Primeira Guerra Mundial, e por muito tempo o lugarejo funcionou como terminal ferroviário.
Porém, com a desativação da ferrovia, provavelmente em 1967, o prédio da estação passou a funcionar como armazém para estocar sacas de cacau.
Imigração italiana e japonesa
No ano de 1950, cerca de 41 famílias imigrantes italianas desembarcaram em Jaguaquara, recebendo do governo um lote de terra para recomeçarem a vida. Esses colonos introduziram técnicas agrícolas avançadas de cultivo, até então desconhecidas da comunidade local, fundaram o Núcleo Colonial de Jaguaquara, no qual desenvolveram produtos hortigranjeiros, plantação de uva e de trigo no agradável clima do município, que é frio no inverno e quente e seco no verão, com índice pluviométrico de 800 milímetros. Sua temperatura mínima foi de 9,4 ºC, em 24 de setembro de 1966, e máxima de 35,6 ºC, em 3 de outubro de 1997.
Sua economia, no setor agrícola, destaque com hortigranjeiros, rebanhos de bovino, equino, asinino e muar na pecuária, no setor de comércio e serviços opera com 111 industrias de pequeno porte, estabelecimentos comerciais e hoteleiro, no setor de mineração atua a Mineradora Anglo-australiana Rio Tinto explorando bauxita.
Japoneses na Toca da Onça
Entre os anos de 1920 e 1940, Jaguaquara era um centro produtor de farinha de mandioca, café, fumo, cacau, mamona, feijão e frutas, até que, com a chegada de colonos italianos e, poucos anos depois, das famílias japonesas Mitsuo Shibasaki, Tadao, Saburo, Akihiro Fujita e Tochio Goto, a técnica italiana e japonesa revolucionou a agricultura do município, com a cultura de tomate, repolho, pimentão, chuchu, cenoura e beterraba. Hoje, esse polo hortigranjeiro desenvolveu o setor agrícola, com técnicas modernas de manejo do solo, adubação, sementes de boa qualidade, irrigação por gotejamento, dentre outras.
Jequié
O município de Jequié encontra-se a 365 km de Salvador, situado no Sudoeste baiano entre a zona da caatinga e a zona da mata, clima predominante semiárido, e população estimada de 156.126 habitantes, em 2020. O vocábulo jequié deriva no idioma Tupi, que significa “cesto afunilado”, usado como armadilha nativa para a pesca de peixes, como também, dizem, origina-se do termo nativo “onça”, que era abundante em suas matas. O povoado estava subordinado administrativamente ao município de Maracás, entre 1860 e 1897, e se desenvolveu popularmente às margens do Rio das Contas, que, na época, eram revestidas de matas nativas habitadas por povos nativos e muitas onças.
O povoado resultou da Sesmaria do capitão-mor João Gonçalves da Costa com sua Fazenda Borda da Mata, sendo tempos depois vendida ao ativista José de Sá Bittencourt, que, após o fracasso da Inconfidência Mineira, refugiou-se na região. Com seu falecimento, em 1789, foi feita a partilha da fazenda em vários lotes de terras, e um deles recebeu o nome Jequié.
O Rio das Contas foi de importância para o transporte fluvial de canoeiros, de mascates, de produtos hortigranjeiros, e por suas margens circulavam tropeiros conduzindo suas manadas de gado e muares outros.
Jequié tornou-se independente de Maracás em 1897, e seu primeiro intendente, o mesmo que prefeito, foi Urbano Gondim. Um fato bastante inusitado foi a tomada de decisão do presidente da Assembleia Legislativa baiana, Aurélio Rodrigues Viana, que, ao tornar-se governador do estado, em 1911, transferiu a capital da Bahia, de Salvador para Jequié. O Governo Federal bombardeou Salvador, e assim forçou a renúncia do então governador.
Após a enchente avassaladora de 1914, que destruiu quase toda a cidade, a população remanescente se deslocou em direção às partes mais elevadas, que se tornou conhecida como a “Chicago Baiana” destruída pelas águas, enquanto a verdadeira Chicago foi destruída pelo fogo. Graves problemas climáticos ocorreram entre as décadas de 1940 e 1950, quando autoridades municipais aterraram várias lagoas nas proximidades do Bairro Centro para alimentar o crescimento populacional, como destruir a mata ciliar às margens do Rio das Contas, tomadas de decisões que geraram o aquecimento climático, daí o município se tornar conhecido como “morada do Sol”.
Sua economia está alicerçada na pecuária, na agricultura, no comércio local, no setor mineral com jazidas de granito, ferro, mármore, calcário, e no poliduto de derivados de petróleo e álcool.
No mês de novembro de 1915 teve início a instalação da malha férrea da Estrada de Ferro Nazaré, a partir de Jaguaquara em direção ao município de Jequié, e a inauguração de sua estação ferroviária ocorreu no ano de 1927, época em que o município era o quarto mais importante da Bahia. Vencedora da licitação pública para a construção do trecho ferroviário Jaguaquara-Jequié, a empresa construtora Laffayette Pereira e Cia deu início ao assentamento dos trilhos.
A estação ferroviária foi inaugurada em 15 de novembro de 1927. Contudo, com a desativação da malha férrea, supostamente, em 1964, o imóvel foi ajustado para funcionar o Corpo de Bombeiros, em 2008.
Beneficiada pela Estrada de Ferro Nazaré, que depois foi extinta, a cidade continua sendo beneficiada com um ramal da Ferrovia da Integração Oeste-Leste que se conectará à Ferrovia Norte-Sul, e assim interligar o território nacional, do Pará ao Rio Grande do Sul, e que, na Bahia, terá 1.100 km, assim distribuídos: trecho de 530 km, ligando a cidade portuária de Ilhéus a Caetité, passando por Jequié; o trecho de 413 km, ligando Caitité a Barreiras; e o trecho de 547 km, ligando Barreiras, na Bahia, a Figueirópolis, em Tocantins.
A Bahia recebeu muitos imigrantes italianos, sendo que Jequié foi a mais contemplada, apesar dessa colônia entrar em decadência a partir de meados do Século XX. José Rotondano foi o pioneiro a chegar, de Trecchina, região de Basilicata, vindo outros posteriormente. Na década de 1930, o imigrante Vicente Grillo era o empresário mais rico da Bahia.
Maragogipe
A Sesmaria de Paraguaçu foi uma doação do governador-geral português da Bahia, Dom Duarte da Costa, a seu filho Dom Álvaro da Costa, em 16 de janeiro de 1557, e posteriormente confirmada pelo Alvará Régio de 12 de março de 1562. A sesmaria foi transformada em Capitania pelo Cardeal Regente, Dom Henrique, pela Carta de 20 de novembro de 1565, e confirmada pela Carta de 28 de março 1566. Essa Carta foi registrada em Lisboa, em 23 de agosto de 1571.
A Capitania do Paraguaçu ou Peroaçu foi adquirida de seu donatário, Dom José da Costa, pelo soberano português Dom José I por meio da Carta do Conselho Ultramarino, de 12 de dezembro de 1732.
A região de Maragogipe era habitada por nativos Maragós dedicados ao cultivo do solo, pesca e caça, daí ser denominada por “braços invencíveis” ou “rio de mosquitos”, pelo fato de estar localizada numa ampla área de manguezal, até ser colonizada por extratores de madeira, plantação de mandioca e de cana de açúcar, construção de engenho e casas de farinha.
O território desmembrado de Jaguaripe recebeu o nome de Maragogipe, pela Carta Régia de 17 de dezembro de 1693. Quando da visita do Conde de Sabugosa, em fevereiro de 1724, a pedido da população local, a Freguesia de São Bartolomeu de Maragogipe foi elevada à categoria de Vila, e assim permaneceu até o dia 8 de maio de 1850, quando, com a Lei Provincial nº 389, o território foi emancipado com o nome Maragogipe, e do imperador Dom Pedro II recebeu o título de “Patriota Cidade”.
O distrito de São Roque do Paraguaçu foi criado pela Lei Provincial nº 2.179, de 20 de junho de 1881 e confirmado pelo Decreto Estadual nº 8.311, de 15 de fevereiro de 1933.
O município encontra-se 133 km de Salvador, é banhado pela Baía de Todos os Santos, e contemplado por 30 km de manguezais com 30 m de largura, oriundo do estuário formado pelas águas do Rio Paraguaçu com o Rio Guaí. Sua população, em 2018, foi estimada em 44.555 habitantes.
Por ocasião da Independência do Brasil, a região foi sacudida por escaramuças, com vitória para o lado brasileiro liderado por Bento de Araújo Lopes Vilas Boas e, como recompensa, o imperador Dom Pedro I concedeu-lhe o título de Barão de Maragogipe.
Em 1941 teve início o assentamento da malha férrea entre a estação de Nazaré e a estação do distrito de São Roque do Paraguaçu, onde passageiros e cargas desembarcavam para tomar o navio da Companhia de Navegação Baiana com destino à cidade de Salvador, numa viagem de 12 horas ao longo da suntuosa Baía de Todos os Santos.
Com a desativação da Estrada de Ferro Nazaré, em 1968, o belo prédio da estação ferroviária funcionou com sua pujança até o ano de 2016, quando sua proprietária, a estatal de petróleo Petrobrás, efetuou uma reforma, e a arquitetura primitiva foi afetada.
Quanto ao porto marítimo, o mais importante de todo o Recôncavo Baiano, provido de calado suficiente para ancorar qualquer tipo de embarcação cargueira, foi inaugurado pelo presidente da República Federativa do Brasil, o nacionalista Getúlio Dornelles Vargas, e dentre diversas autoridades civis e militares, estava o interventor baiano Landulpho Alves.
A malha férrea
De acordo com Lindinalva Simões, em sua monografia, cita que Ernesto Lassance Cunha foi de parecer que a Estrada de Ferro Nazaré era a única cujo tráfego compensava o retorno do capital investido em sua construção. Essa malha férrea estava inserida numa zona de uma intensa cultura de fumo, café, açúcar e cereais diversos, e fornecia 4/5 do café produzido no estado da Bahia.
Percorrendo a margem esquerda do Rio Jaguaripe, a partir da cidade de Nazaré, a ferrovia percorria os férteis vales dos rios Jaguaripe, Taitinga e Mutum até alcançar o planalto de Rio Fundo, e assim interligou a região das Matas de Nazaré. O trecho São Roque do Paraguaçu a Jequié compreende três regiões fisiográficas distintas: “O litoral úmido, a região de transição com uma estação menos úmida e o sertão meio seco de Jequié e Amargosa”.
A primeira companhia ferroviária da Província da Bahia foi a Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, também conhecida como Bahia and São Francisco Railway, com 578 km, ligando Salvador a Juazeiro. Foi iniciada em 1856 e concluída no ano de 1895, e com gastos exagerados para resultados financeiros deficientes.
As ferrovias formadas pela Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, Estrada de Ferro Central da Bahia, Estrada de Ferro Nazaré, Estrada de Ferro Santo Amaro, Estrada de Ferro de Bahia a Minas, Ramal Alagoinhas a Timbó e Estrada de Ferro de Sergipe, e Estrada de Ferro de Ilhéus a Conquista, formaram uma rede ferroviária, no ano de 1950, uma extensão de 2.600 km de tráfego, a qual se incorporou à rede da Leste Brasileiro e Rede Ferroviária Nacional.
Destas, as mais eficientes e rentáveis foram a Estrada de Ferro Nazaré e a Estrada de Ferro Central da Bahia, esta, a segunda ferrovia construída na Bahia, que incialmente era chamada pelo nome de Paraguassu Steam Tram Road Company, em 1865, posteriormente alterada para Brazilian Imperial Central Bahia Railway Company, em 1875. Seu eixo de atuação estava voltado para ligar o Recôncavo Baiano a regiões do Sertão, transportando produtos agropecuários e minerais diversos. Entre os anos de 1876 e 1888, houve apenas dois anos de operações deficitárias.
A terceira ferrovia foi a Tram Road de Nazaré, vindo depois a Estrada de Ferro de Santo Amaro, Estrada de Ferro de Bahia a Minas, Ramal Alagoinhas a Timbó e Estrada de Ferro de Sergipe, Estrada de Ferro de Ilhéus a Conquista.
Fundada no ano de 1869, pela empresa comercial João Luiz Pires Lopes & Cia, a corporação somente de consolidou em 1871, com o nome Tram Road de Nazaré, a terceira ferrovia baiana, inaugurada nos dias do Império Brasileiro de Dom Pedro II, com o apoio da Câmara Municipal.
Em 2 de junho desse ano, a empresa assinou contrato com a Câmara Municipal para a construção do trecho entre as estações ferroviárias de Nazaré e Onha, distritos da cidade de Nazaré, e em 1872 os trabalhos construtivos foram paralisados, devido a problemas financeiros da empreiteira, os quais foram logo contornados. Cerca de quatro anos depois, em 2 de maio de 1875, ocorreu a inauguração da estação ferroviária de Onha, e no ano de 1878 ocorreu a falência da concessionária. Os trilhos da ferrovia obedeceram ao traçado aberto por boiadas tradicionais da região, desde o início do Século XIX.
A desativação da EFN ocorreu no ano de 1968, na gestão do governador baiano Luiz Viana Filho, e cerca de três décadas depois, a Companhia de Navegação Baiana, que foi de vital importância para a Estrada de Ferro Nazaré, na gestão do governador baiano Paulo Souto, foi liquidada, os navios que faziam o transporte de cargas nos trechos navegáveis, entre os portos de São Joaquim, em Salvador, e São Roque do Paraguaçu, em Maragogipe, foram desativados e leiloados.
Durante o período de aproximadamente 100 anos (1871/1968), a velha estrada de ferro ligou o Sertão ao Litoral baiano, fomentando o escoamento da produção e o transporte de passageiros da região, até que seu atestado de óbito foi decretado, para que produtos importados dos Estados Unidos da Américas, como veículos, acessórios, pneus e caminhões viessem para substituir os vagões ferroviários, alimentassem rodovias construídas com financiamento de banqueiros cabalistas illuminati, que, há quase 330 anos, escravizam as nações com empréstimos impagáveis de juros sobre juros.
Para lamento das comunidades que cresceram ao longo da velha estrada de ferro, acostumadas ao apito latente da Maria Fumaça, a malha férrea foi incorporada à Rede Ferroviária Federal S.A., quando foi desativado o trecho entre Santo Antônio de Jesus e Jequié e, alguns anos mais tarde, toda a malha ferroviária foi abandonada aos abutres do capital fantasma.
A rede ferroviária que transportava as comunidades de Jequié ao porto de São Roque do Paraguaçu, onde passageiros e cargas embarcavam em navios com destino a Salvador, foi desativada, causando enorme prejuízo a uma região que passou a fazer uso de veículos automotores para escoar a produção da região. Atualmente, em todo esse percurso não existe um único trilho da ferrovia, e as estações ferroviárias foram transformadas em outras atividades.
A Estrada de Ferro Nazaré se comportou como uma ferrovia rentável até o ano de 1945, quando passou a acumular decadência financeira, devido à redução do volume de tráfego, aumento dos custos operacionais, falta de ligação com demais vias de transportes, dentre outros.
Com 31 quilômetros de malha férrea, o trecho São Roque do Paraguaçu-Nazaré, o último construído, datado do período 1930/1940, era o único dotado de boas condições técnicas construtivas. Os trechos Nazaré-Santo Antônio de Jesus e Santa Inês-Jaguaquara, apresentavam graves problemas.
O trecho Nazaré-Santo Antônio de Jesus, reunia as piores condições de tráfego, raios de curvas pequenos (100m), como rampas com inclinação de 3,3%. A estação ferroviária de Nazaré, oficinas e parque de manobras estavam sujeitos a enchentes. Esse trecho apresentava pontes de madeira dotadas de resistência para suportarem cargas de até 12 toneladas, trilhos TR-20 e TR-32, de 20 kg/m e 32 kg/m, respectivamente.
Devido à forte incidência de chuvas, os dormentes de madeira geravam descarrilamentos, e os prejuízos eram enormes, devido perdas de cargas, indenizações, danos nos equipamentos, e vidas de passageiros ceifadas. Cada descarrilamento dava prejuízo de um milhão de cruzeiros, conforme moeda da década de 1950.
Já o trecho Santa Inês-Jaguaquara, os trilhos TR-20 se apresentavam “desgastados nos boletos e corroídos nos patins”, além de “pontas deformadas”.
Sistema educacional da Toca
Colégio Luzia Silva
Jaguaquara nasceu de uma fazenda chamada Toca da Onça, e sua história tem como ponto de partida a chegada do casal Guilherme Martins do Eirado e Silva e Luzia de Souza e Silva, no ano de 1896, e que muito trabalharam em prol do crescimento do povoado habitado por onças pintadas. Na sede da fazenda havia uma casa para residência do casal, uma casa comercial provida de amplos depósitos, dependências de empregados, uma rancharia para viajantes, e uma casa de farinha.
A residência do casal foi posteriormente doada à Ordem das Irmãs Imaculatinas Franciscanas, que empreenderam uma reforma para instalar o Colégio Luzia Silva, uma instituição religiosa provida de internato exclusivo para meninas. A rancharia para viajantes foi demolida para dar lugar à Praça J.J. Seabra, que existe no Bairro Praça, na cidade baixa. A casa de farinha foi reformada e transformada em residência, em 1921. Depois, foi adquirida pelo então médico e prefeito municipal, Menandro Minahim, que governou o município de 1951 a 1954, e depois foi vendida pela família do político a um empresário local. Este, infelizmente, demoliu o imóvel de enorme valor histórico.
Esse estabelecimento de ensino foi fundado em 15 de fevereiro de 1950 por freiras vindas da Itália, a pedido do coronel Guilherme Silva, que desejava uma instituição de ensino de fé católica romana, e foi dado à instituição o nome de sua esposa. O estabelecimento de ensino situado no Bairro Praça e que tem a administração exercida pelo governo da Bahia, provido de sanitário, oferece Ensino Fundamental II, nos turnos matutino e vespertino, é provido de sanitário dentro do imóvel, biblioteca, cozinha, quadra de esporte, internet banda larga, e encerrou o ano letivo com 522 alunos matriculados.
A pedra fundamental do povoado encontra-se cravada na edificação que o coronel Guilherme Silva mandou erguer para sua residência e, que, em 1952, passou a funcionar como Escola Luzia Silva.
Escola Carneiro Ribeiro
O estabelecimento de ensino funciona em prédio próprio no Bairro Muritiba, tem instalações sanitárias dentro do prédio para pessoas normais, como também para portadores de deficiência, cozinha, internet banda larga, oferece cursos de Ensino Fundamental I. No ano letivo de 2020 teve 210 alunos matriculados, período matutino e vespertino, e sua administração está a cargo do governo municipal de Jaguaquara.
Escola Delminda Farias de Almeida
O estabelecimento de ensino funciona em prédio próprio no Bairro Casca, tem instalações sanitárias dentro do prédio para pessoas normais, como para portadores de deficiência, cozinha, biblioteca, internet banda larga, laboratório de informática, oferece cursos de Ensino Fundamental I. No ano letivo de 2020 teve 242 alunos matriculados no período matutino e vespertino, e sua administração está a cargo do governo municipal de Jaguaquara. O nome do estabelecimento foi dado em homenagem a membro da família do capitão Egídio Pereira de Almeida, cuja fazenda funcionava nesse bairro.
Colégio Taylor-Egídio
Curralinho é o nome do povoado baiano que posteriormente teve seu nome alterado para Castro Alves, em homenagem ao jovem teatrólogo e poeta dos teatros, dos salões e das praças públicas. Além de Castro Alves, nesse povoado nasceu, também, o fazendeiro Egídio Pereira de Almeida, filho do casal de ascendência portuguesa Jerônimo Pereira de Almeida e dona Leopoldina. Algum tempo depois, seus pais, de formação católica romana, se mudaram para Vargem Grande, a atual Varzedo, operando com fazendas e engenho de farinha e de açúcar, e assim criou seus 8 filhos.
Em uma viagem a negócios, seus filhos Guilhermino e Marciano foram até Amargosa, e se estabeleceram em uma hospedaria do vilarejo. Nessa ocasião, Guilhermino presenciou um grupo de católicos romanos empreenderem uma tremenda perseguição religiosa a missionários batistas estadunidenses que tentaram realizar um serviço evangelístico em uma praça da localidade. Os vândalos queimaram certa quantidade de exemplares da Bíblia Sagrada.
Um dos missionários abaixou a fronte e clamou: “Oh, Deus, por Jesus Cristo tira este povo das trevas e dá-lhe a Tua luz! Eles fazem isso porque não te conhecem Senhor”. Ao chegar à hospedaria, comunicou a seu irmão, que era carola de carteirinha, a perseguição religiosa ao grupo de missionários, e de que tinha visto e ouvido “um homem conversando com Deus! Que coisa linda!”.
Tempos depois de retornar a Vargem Grande, Marciano convidou a costureira e o cidadão pernambucano que residia na localidade, a que participassem de uma missa como seu convidado. De forma delicada, recusaram o convite, ao se apresentarem como de formação evangélica, e o pernambucano Antônio Medeiros deixou com Marciano um exemplar do Novo Testamento.
No ano de 1889, pelo fato de haver contraído polineurite, o mesmo que beribéri, o capitão Egídio Pereira de Almeida deixou Vargem Grande e se estabeleceu no povoado da Toca da Onça, devido ao clima seco, e assim ficou curado da enfermidade. Nesse ano, comprou a Fazenda Casca.
Em meio a um ar religioso nessa região de matas bravias, Marcelino postou uma correspondência a seu irmão predileto, narrando seu maravilhoso encontro com o Senhor Jesus Cristo. Grandemente preocupado com o conteúdo da correspondência, o capitão Egídio deixou a fazenda e viajou a Vargem Grande, acreditando que seu irmão estava louco. Levado ao médico local, este o examinou e emitiu seu parecer: “Egídio, seu irmão não está louco, mas exaltado pelas ideias novas que abraçou. Fique despreocupado que seu irmão não está doente”.
Devidamente informado a respeito da localização do pernambucano Medeiros, fazendo-se acompanhar de uma jagunçada, foi até lá para cortar o pescoço do evangelista arretado: “É o senhor que é o Medeiros e está pondo essa cizânia [discórdia] na cabeça do meu irmão?”, bradou o capitão. “Prouvera a Deus que fosse eu. Seu irmão já veio de Amargosa trazendo esta mensagem, onde viu uma queima de Bíblias e uma perseguição a estrangeiros”, respondeu-lhe o pernambucano. “Se o senhor não deixar de falar dessas coisas, eu mando dois dos meus caboclos tirar-lhe a cabeça do corpo!”, ameaçou-lhe o capitão destemido. “Se o senhor tirar a minha cabeça, a minha alma irá morar com Jesus”, foi a resposta do evangelista. “Olha lá! Eu estou falando sério com o senhor. O senhor me parece ser bem cínico!”, bradou o fazendeiro irritado. “Mais sofreu Jesus por nós”, foi a resposta de Medeiros.
Finda as ameaças, o capitão esteve na casa de seus pais, recebeu de Marciano um exemplar do Novo Testamento e retornou à sua fazenda no povoado Toca da Onça. Examinando sempre o texto bíblico e pedindo ao Eterno que a ele se revelasse, por ocasião de uma viagem de negócios, a cavalo, a povoados do entorno, eis que avistou um clarão, tão marcante, que saltou do cavalo de montaria, assustado com o que havia avistado. Teodorico, que, com ele viajava, declarou avistar um clarão que superava o brilho do Sol. O capitão Egídio sentiu como se fosse duas marteladas de cada lado de sua cabeça, e ouviu uma voz lhe dizer: “Segue o meu Evangelho que estás certo”.
Após realizar os negócios, para acalmar a consciência que o questionava, foi até o povoado de Areia à procura do vigário Manoel Leôncio Galrão, para deste conhecer seu parecer a respeito do conteúdo do Novo Testamento. “Que diz o senhor deste livro?”, perguntou-lhe o capitão. “Ah! Comprou? Feliz do homem que ler este livro e seguir o que ele ensina”, disse-lhe o vigário. “E por que o clero não ensina isso ao povo?”, questionou o fazendeiro. “Porque, com a batina eu consigo viver com mais facilidade do que fazer outro trabalho”, respondeu-lhe o religioso católico. “Então o senhor é um perverso”, questionou o capitão. “Olhe, fique com as ideias deste livro somente para você, porque se isto cair na cabeça do povo, eu fico sem meios para viver...”, finalizou o vigário. Findo o diálogo, o fazendeiro declarou que iria levar a mensagem do Evangelho avante.
Tempos depois, em 1895, estando novamente em Areia com um grupo de missionários norte-americanos, devido a seu enorme prestígio na região, obteve do delegado local autorização para usar as instalações da Casa de Câmara e Cadeia na ministração de um culto ao Criador. Ao tomar conhecimento do evento, o religioso, político e ditador de batina da comunidade ficou furioso. A força policial local foi acionada para impedir a realização da reunião religiosa.
E quando um soldado tentou impedir o início da cerimônia, o capitão Egídio, de revólver em punho, bradou: “Não vá, que eu atiro. Se esses homens merecem a morte, matem a mim primeiro, e os deixem com vida, pois eles estão aqui por minha causa”. Nesse momento de muito nervosismo, levantou-se um alferes, que equivale ao posto de segundo-tenente, e tomou a defesa dos pregadores: “O que se levantar e atirar morrerá no mesmo instante. Eu vou matar vocês um por um”.
Foi assim que o trabalho evangelístico foi realizado, para tristeza do ditador de batina que trazia a população ameaçada debaixo de sua saia. O capitão, sua esposa e seus 17 filhos foram batizados nas águas pelo pastor Antônio Marques da Silva. Marciano que era um vigoroso evangelista, convidava sempre missionários estadunidenses a virem a Vargem Grande, e até levou o missionário Zacarias Clay Taylor à Fazenda Casca de seu irmão Egídio, no povoado da Toca da Onça.
Desejoso de educar sua prole de 17 filhos em meio a um povoado sem uma única escola em funcionamento, no ano de 1898, eis que o capitão Egídio, para atender a um pedido de sua filha Belmira Almeida, de apenas 13 anos, reuniu o gado de corte, o vendeu, e com o dinheiro arrecadado viajou a Salvador para se encontrar com o missionário Zacarias Taylor, no firme propósito de abrir uma escola na Toca da Onça, que, na época, não tinha mais que quatro rudes residências. Como Rui Barbosa, mirava além dos Andes.
Após o encontro de alto nível, ao se sentir adoentado, viajou a Amargosa, onde a Estrada de Ferro Nazaré fazia ponto terminal. Poucos dias depois faleceu, acometido por um infarto do miocárdio, sem chegar a ver a inauguração do Colégio Americano Egídio, tendo o casal Zacarias Taylor e Laura Taylor, que era uma profissional em educação, como diretores do estabelecimento de ensino com sede na rua do Hospício, em um prédio de dois pisos no centro da cidade de Salvador, com vistas para a Baía de Todos os Santos. Em seu primeiro ano de funcionamento, a instituição de ensino encerrou suas atividades de 40 semanas com 5 professores ministrando aulas a 130 alunos matriculados.
A pujança do colégio batista começou a decrescer a partir de 1911, devido a abertura de novas escolas na cidade, até que suas atividades foram encerradas no final do primeiro semestre de 1919, para ressurgir, das cinzas, como uma fênix, em 1922, no povoado de Jaguaquara, graças a ação rápida de João Pereira de Almeida, filho do capitão Egídio, que doou à Convenção Batista Baiana as terras da Fazenda Casa Brava e as edificações existentes, o que facilitou a reabertura das aulas em abril desse mesmo ano letivo. O filho do capitão salvou o colégio de reabrir suas atividades no Piauí do doutor Paranaguá, que muito trabalhou para isso. Posteriormente, os missionários Maxcy Gregg White e Francis Willard Taylor compraram uma parte da Fazenda Bela Vista, com 10 mil metros quadrados, que tinha uma residência, um armazém e uma rancharia, para compor o patrimônio do Colégio Americano Egídio. Após uma reforma, a residência ficou como morada do diretor e o armazém para funcionar como salas de aula. Essa parte da fazenda pertencia a dona Cecília Pereira de Almeida, que era filha do capitão Egídio e avó do ipiauiense Eraldo Tinoco Melo (1943-2008), influente político e ex-aluno da instituição de ensino.
Com o funcionamento da ferrovia, a partir de 1914, e a implantação do Colégio Taylor-Egídio, em 1922, o povoado cresceu enormemente, da noite para o dia, ao som estridente do apito da velha Maria Fumaça, tendo sua malha de trilhos margeando o histórico Riacho da Casca que banha a cidade.
Além de escoar a produção da região, a Estrada de Ferro Nazaré prestou enorme função social a uma sociedade abandonada pelo governo. Nesse pedaço de terra envolta por matas virgens, aqui e ali desmatadas para a instalação de fazendas da agropecuária, a oferta de escolas era quase nenhuma, e o povo vivia envolto num mar de analfabetismo crônico. E foi na visão de levar o saber a um povo marginalizado, que o povoado da Toca da Onça, graças à ferrovia, foi contemplado, inicialmente, com um colégio que se prestou como farol para iluminar a região, sertaneja e cacaueira, envolta na escuridão, com os raios luminosos da alfabetização. A linha de trilhos foi de vital importância para o deslocamento de filhos de fazendeiros, de regiões as mais distantes, para receber educação de boa qualidade no Colégio Taylor-Egídio, um órgão da Convenção Batista Baiana, que se instalou no povoado do Sudoeste Baiano no ano de 1922.
Com a ferrovia funcionando, a região de fazendas cresceu enormemente, mas Jaguaquara destacou-se por ofertar colégio provido de internato, para o sexo masculino e feminino, ferramenta fundamental para atrair, por sete décadas, filhos de fazendeiros de vários pontos do estado e de estados vizinhos, como Minas Gerais e Espírito Santo. Dos estabelecimentos mais antigos, consideramos a Escola Carneiro Ribeiro, centro educacional municipal; Colégio Luzia Silva, com internato para o sexo feminino; Escola Delminda Farias de Almeida, centro educacional municipal; e Colégio Taylor-Egídio, provido de internato e externato mistos, órgão da Convenção Batista Baiana.
Como no meio evangélico nem tudo são flores, a esposa do missionário Charles F. Shapp, que foi diretor do Colégio Americano Egídio, entre 1910 e 1919, comunicou a Belmira Almeida Coutinho, filha do capitão Egídio, que o missionário M.G. White tinha plano de alterar o nome da instituição de ensino para Colégio Americano Brasileiro. Com a informação colhida, Belmira se comunicou com o pastor Adrião Bernardes, e este, quando da reunião da Junta de Missões, propôs que a instituição de ensino tivesse seu nome alterado para Colégio Taylor-Egídio, o que teve sua aprovação por maioria. Esse foi o nome que Belmira lhe havia pedido para que fosse aprovado.
A região sertaneja de Jaguaquara, Itaquara e Santa Inês sofreu muito com os seis anos de crises que arruinou a economia desses lugarejos. Em 1927 a crise se abateu sobre a Estrada de Ferro Nazaré; em 1929 veio a crise que arrasou investidores da Bolsa de Valores de Nova Iorque; em 1930 veio a Revolução na gestão do presidente Getúlio Dornelles Vargas; e a crise climática que vigorou de 1930 a 1933 arruinou a produção agrícola que afetou fazendeiros e comerciantes.
E para solucionar a crise que o estabelecimento de ensino se encontrava, o missionário M.G. White viajou ao Recife, e do Seminário Teológico do Norte do Brasil escolheu o jovem pastor e professor Carlos Dubois para administrar o colégio. Estando em Salvador, levou consigo o jovem seminarista católico, Mário Moreira da Silva, para ministrar aulas de Latim e Português em Jaguaquara. O seminarista, após algum tempo, deixou a batina, tornou-se de formação batista, e se casou com a bonitona professora de Francês e Inglês, Renilde Mussi Moreira.
No dia 7 de dezembro do ano de 1937 o professor Carlos Dubois (6.03.1909 a 13.07.1993) chegou a Jaguaquara, com sua esposa Stela Câmara Dubois (1905 a 1987) e o filho de apenas 11 meses, René Dubois, para assumir a direção do estabelecimento de ensino. O jovem diretor que exerceu mandato de 1938 a 1992, era filho do engenheiro civil, especialização em ferrovia, João Xavier Dubois, e de Margarida Voulet.
No ano de 1887, trabalhando na Argentina, o francês engenheiro de ferrovia, João Xavier, viajou ao Brasil para visitar patrícios seus. Algum tempo depois, desembarcou no porto de Paranaguá, e em seguida conheceu o “diretor da empresa francesa encarregada da construção da Ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul, trecho Paraná-Santa Catarina”, que o contratou para fiscalizar a execução dos serviços da ferrovia.
Xavier se hospedava em um hotel de seu amigo Antonie Bertrand Voulet, quando, em 1898, conheceu a jovem Margarida Voulet, que recentemente havia chegado da França, onde, desde pequena, frequentava a escola. Apesar de ser 20 anos mais jovem, o casamento ocorreu no dia 31 de dezembro de 1900. Carlos Dubois, o terceiro dos cinco filhos do casal, nasceu em 6 de março de 1909, e ainda criança começou a desempenhar uma atividade profissional, e assim trabalhou na ferrovia, com seu pai, até a idade de 17 anos.
Assim que a malha de trilhos avançava, o casal Dubois também mudava de cidade. Em Ponta Grossa, onde o casal se estabeleceu, funcionava o colégio católica São Luiz, como uma humilde escola na sala de estar da residência do pastor batista, de pele negra, Abraão José de Oliveira. Durante o dia, a sala de estar funcionava como escola, e à noite como templo da igreja que a pastoreava. Apesar de ser uma pessoa austera, seu pai deixou com seu filho a escolha de uma das duas escolas onde estudaria, e Carlos Dubois escolheu a escola do pastor de pele negra, que exercia a função de mestre-escola, como era conhecido o professor desse período histórico.
O pastor, professor e diretor da escola, dotado de uma poderosa oratória, iniciava sempre a aula com a leitura de trechos bíblicos, e assim ia evangelizando seus alunos de uma forma muito sábia. Logo, o garoto de calça curta e suspensório, apesar de seus serem de formação católica, começou a frequentar os cultos dominicais, e com o dinheiro de seu trabalho comprou um exemplar da Bíblia Sagrada.
Aos 15 anos aceitou a Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador, e em seguida foi batizado nas águas, pelo processo de imersão, desenvolveu trabalho evangelística na comunidade, e aos 16 anos tornou-se secretário da Igreja batista da localidade. No firme propósito de se tornar um pastor, com o apoio do pastor Abraão, seguiu para o Rio de Janeiro.
Para custear os estudos e despesas outras, exerceu atividades profissionais no colégio, dava aulas particulares, vendia literatura evangélica no porto da cidade, como servia de intérprete para marinheiros franceses que desembarcavam na Cidade Maravilhosa.
Carlos Dubois nasceu na cidade paranaense de Araucária, viveu a infância em Ponta Grossa.
Com a conclusão do então Curso Primário, seguiu para o Rio de Janeiro, ingressou no Colégio Sherpard, e se formou em Ciências de Letras. Depois, na cidade do Recife, cursou o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, e se formou em Bacharel em Teologia.
Durante o curso teológico lecionou o idioma Francês no Colégio Americano, e logo chegou a ser Diretor de Curso. Nessa ocasião, conheceu a “talentosa professora de música e de línguas”, Stela Câmara, uma jovem frequentadora de teatros, concertos musicais e óperas da capital pernambucana, a Veneza Brasileira, e com ela se casou.
Foi nessa época de esplendor da capital pernambucana, que, no ano de 1936, surgiu Maxcy Gregg White, Secretário Executivo da Convenção Batista da Bahia, em uma visita ao Seminário Teológico Batista do Norte, em busca de um jovem talentoso para salvar o Colégio Taylor-Egídio, que agonizava. O professor e pastor Carlos Dubois foi o escolhido para assumir o pastorado da Igreja Batista, bem como, resgatar o Colégio da tumba.
Cerca de três meses depois, deixou o Recife para assumir a direção do Colégio Taylor-Egídio, na então Toca da Onça, um vilarejo perdido no Sertão da Bahia. Esse “fim do mundo” tinha uma população de dois mil habitantes, e a Estrada de Ferro de Nazaré era o único meio de transporte. Nessa época, o estabelecimento de ensino tinha seu diretor demissionário, dois professores e 36 alunos matriculados no Curso Primário. Hoje, a cidade está ligada à BR-101, à BR-116, e tem sido um dos maiores polos hortigranjeiros do Norte e Nordeste brasileiro.
Pelos bancos do Colégio Taylor-Egídio passaram muitos Juízes de Direito, Deputados, Pastores, Profissionais Liberais, Ministros de Estado e Ministros do STF.
Em sua gestão de 56 anos, Dubois ampliou as instalações do colégio, fundou a Casa de Saúde Maria José Souza Santos, a Sociedade Beneficente Orfanato Taylor-Egídio, a Cooperativa Mista, o Sindicato Rural e o novo templo da Igreja Batista. Ele foi eleito vereador, prefeito, deputado, pastor, professor, diretor de várias instituições batistas, presidente da Convenção Batista Bahiana e da Convenção Batista Brasileira.
A pernambucana Stela Câmara, filha de José Paulino Raposo da Câmara e Emília Galvão da Câmara, era professora, escritora, poetisa e musicista de renome. Por muitas décadas o casal Carlos e Stela Dubois exerceu a administração do Colégio Taylor-Egídio, provido com instalações de internato para acolher filhos de fazendeiros de uma região carente de meios de transportes e de estabelecimentos de ensino. Conforme Rosa Xavier Dubois, educadora irmã de Carlos Dubois, entre 1950 e 1970, o colégio chegou a educar cerca de 1.500 alunos/ano, com o sistema de internato e externato, para pessoas do sexo feminino e masculino. Com o passar dos anos, esse número foi diminuindo à medida que unidades de ensino, públicas e privadas, como estradas de rodagem e aeroportos foram sendo instalados em cidades do entorno, e a ferrovia ajudou o sistema educacional tirar milhares de seres humanos das garras do analfabetismo.
Sua esposa Stella faleceu em 7 de março de 1987, aos 82 anos, e Dubois, em 13 de julho de 1993, aos 84 anos.
O desbravador português Guilherme Martins do Eirado e Silva, atuante líder político, muito amigo do diretor do Colégio Taylor-Egídio, Carlos Dubois, uma de suas grandes batalhas, em defesa da lei e da ordem do município, pelo qual muito se empenhou, foi travada com o vigário local, que, tentando dividir a comunidade em uma luta de classes, impediu que um enterro fosse realizado no cemitério da cidade, pelo fato de a alma do defunto ser de denominação evangélica. O destemido bandeirante fez valer os direitos da Constituição vigente, o defunto foi enterrado com honras, e assim fez baixar o facho do assanhado ditador de batina.
Estradas de Ferro
Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 08.03.2021
Obra literária ainda não revisada nem publicada