Pés que Brilham, Cor que Alumia, e mãos...
“mais do que a flor da pele, a flor da alma” Carlos Ayres Brito
“a cor que encanta os olhos do céu” Iraldir
Vivemos um tempo, não somente de agora, mas sempre, em que, em se tratando de Brasil, o povo negro, vítima histórica-secular de violentos massacres, preconceitos e discriminação, busca assegurar os seus direitos conquistados na nossa Constituição de 1988. Com muita dificuldade, pequenos passos, quase invisíveis, são dados para que tais direitos não fiquem simples e unicamente no papel e por vez, engavetados. Deveras devemos saber que muitas coisas não passam das gavetas para que a sociedade não tome conhecimento. Desta forma, na contramão das transparências, as elites se esforçam para deslegitimar essas lutas e rasgar artigo por artigo das conquistas da chamada Constituição Cidadã. Pés que brilham é uma metáfora aos nossos irmãos guerreiros nativos de uma outra raça, de uma outra cor, mas que sobretudo nunca deixou de ser nossos irmãos. São os pés descalços que ainda que humilhados, senão muitas vezes invisíveis, caminham nas longas e cascalhadas estradas áridas em meio as ribanceiras, ora abismo à direita, ora abismo à esquerda, enfrentando ventos e poeiras constantes; ora frio intenso, ora sol escaldante, traspassando com caráter animoso, de bacias e baldes à cabeça, outrora de enxadas ou foices às costas, os grandiosos portões da história em busca de sua almejada e justa alforria. São os pés “deslem, desqua” – coisa de escritor - deslembrados, desqualificados, sem valor para muitos, mas, são os que calados e chorando, lutam, enfrentam e nos ensinam numa fabulosa didática; são os pés da perseverança, da persistência; vitoriosos.
Trecho do meu livro "Pés que Brilham; Cor que Alumia - Os brancos não são os únicos"