O sábado farisaico
pr. Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira
Lucas 6.1-11; Marcos 2.23-28, 3.1-6; Mateus 12.1-14
Florianópolis, Santa Catarina, 25.03.1992 e 14.02.2021
Doutrinas eternas
Introdução aos fatos
01. A Operação Tapete Mágico foi desenvolvida para resgatar a comunidade judaica que vivia no Iêmen, um país situado no Golfo Pérsico, na parte meridional da Península Arábica. A técnica desenvolvida no represamento de água tornou a terra muito fértil. Açudes e cisternas foram construídos por toda a região da nação, que, por muitos anos, viveu isolada da civilização. No passado, após visitar o rei Salomão, rotas comerciais entre Israel e o Reino de Sabá, ou Iêmen, foram estabelecidas ao longo do Mar Vermelho e do escaldante deserto, e colônias israelitas foram estabelecidas nessa região.
02. Isolado do restante da sociedade mundial, o Reino de Sabá viveu como uma sociedade primitiva, desprovida de hospitais, escolas, jornais, imprensa, rádio, telefone, dentre outros elementos estruturais. Suas estradas eram verdadeiras trilhas de caravanas de camelos, as cidades eram instaladas no alto das montanhas, cercadas por um cinturão desértico a lhes dar proteção, e o analfabetismo reinava a céu aberto.
03. Nos dias da Operação Tapete Mágico, o Reino de Sabá era governado por um Imã, líder islâmico descendente de Maomé, revestido de poder absoluto. Tribos hostis eram mantidas em controle severo, e costumava sequestrar importantes membros tribais para mantê-los como reféns, e assim mantinha seu reino em paz.
04. Rodeado por centenas de escravos e postado de pernas cruzadas em um suntuoso harém de belas donzelas, o Imã costumava fazer justiça mandando cortar o nariz da mulher apanhada em prostituição e a mão do ladrão apanhado no ato do crime.
05. A colônia judaica desenvolveu atividades relacionadas com a arte da ourivesaria, fabrico de joias, cunhagem de moedas, curtume de peles, marcenaria, fabricação manual de sapatos, e o conhecimento era repassado de pais para filhos.
06. Como não havia imprensa, a comunidade judaica copiava-se a Torá em pergaminhos confeccionados em couro curtido, uma velha técnica de produção de livros. O tempo passou, mas esses judeus nunca deixaram de pensar na cidade de Jerusalém, a terra de seus antepassados.
07. Ao longo de três mil anos, esses judeus-iemenitas permaneceram fiéis ao Judaísmo, mantendo-se na cultura religiosa de seus antepassados. Eles conservaram a Torá, que são os cinco primeiros livros da Bíblia, as leis mosaicas, a guarda do sábado, os feriados e as festas judaicas. As cópias da Torá eram produzidas a mão sobre couro curtido, o chamado pergaminho.
08. E quando o grande Imã passou a sequestrar órfãos da comunidade para iniciá-los no Islamismo, a liderança judaica tratava logo de casar os órfãos, independente de idade, como solução encontrada para solucionar o problema, e até “havia casos de crianças de meses de idade que já eram maridos ou esposas” .
09. Esses judeus-iemenitas vestiam-se de forma semelhante aos antigos profetas, tal o isolamento tribal ao longo dos séculos. Apesar de isolados do mundo tecnológico, nunca se esqueceram de que um dia retornariam a Jerusalém, e assim esperaram com paciência o dia em que retornariam à terra de seus antepassados. Em várias ocasiões, pessoas isoladas ou em pequenos grupos conseguiram cruzar o deserto para fundar colônias em Canaã.
10. Quando o Iêmen declarou guerra a Israel, em 1948, suas tropas lutaram nas fileiras do Exército do Egito. Nessa ocasião, os Haham, ou Sábios, da comunidade entendiam que o conflito árabe-judaico era um aviso divino para retornarem a Jerusalém.
11. Nessa ocasião, o líder da comunidade foi ao Chefe Tribal obter autorização para deixar o território. Disseram-lhe que o “Rei David retornara a Jerusalém! Sua longa espera chegara ao fim! e que se erguessem e subissem para a Terra Prometida nas asas das águias !”
12. A resposta do Imã foi um não a suas pretensões. Contudo, os Haham deixaram com ele um exemplar da Torá, e pediram-lhe que lesse o livro de Êxodo. O Chefe Tribal gastou vários dias lendo seu conteúdo. As dez pragas que desabaram sobre o Faraó egípcio não saíram de sua mente.
13. O líder tribal entendeu que uma epidemia de tifo que matou a quarta parta da população iemenita era um aviso de Alá. Finalmente, concordou em deixar os judeus partirem, mas, cada membro da comunidade teve que entregar seus bens e suas propriedades, além de pagar um imposto de 3 dólares de prata, e deixar como reféns centenas de artesãos para ensinar o ofício ao povo.
14. Os judeus-iemenitas deixaram suas aldeias nas montanhas e rumaram para o Porto de Áden, mas tiveram que atravessar desertos, ventos fortes e Sol escaldante. Cada membro carregou consigo apenas o necessário, deixando seus bens e propriedades para trás. Cada comunidade levou consigo a Torá, e cada aldeia a Torá de sua sinagoga.
15. O Iêmen estava dividido em vários protetorados, os quais eram constituídos de pequenos reinos e várias tribos de beduínos espalhadas pelo território desértico ao longo da costa marítima do Mar Vermelho e do Golfo de Áden. Quase todos bens pessoais que esses judeus levaram foram gastos pagando pedágio para atravessar território controlado por pequenos reinos e tribos beduínas, até chegar ao Porto de Áden.
16. Esse porto, que liga o Oriente ao Ocidente, foi inicialmente colonizado pelos gregos, e posteriormente passou ao domínio de outros povos, até chegar ao controle do então poderoso Império Britânico, que, por muitos anos manipulava essa região, desde quando assinou uma série de tratados para a exploração de poços de petróleo.
17. O comando britânico mandou instalar a comunidade judaica-iemenita em um campo de refugiados, nas proximidades de Hashed, até que o Estado Judeu os levasse para Israel.
18. Foi uma tarefa muito difícil para o pessoal da assistência social de Israel cuidar dos membros de uma comunidade semiprimitiva que viveu três mil anos isolada da sociedade. No momento em que o serviço feminino do serviço médico tratou substituir suas roupas esfarrapadas de corpos cheios de piolhos, as iemenitas se punham a berros selvagens de desespero. Hermeticamente isolados do mundo, chamado civilizado, esses judeus desconheciam o que era automóvel, avião, energia elétrica, lavatório, vaso sanitário e demais equipamentos.
19. No início de 1949 ocorreu a imigração de 45 mil judeus que viviam no antigo Reino de Sabá. Com a permissão do Império Britânico estacionado em Áden, a American Joint Distribution Committee, uma organização assistencial judaico-americana, montou acampamento para receber os imigrantes, que contaram com a ajuda de um corpo médico e assistentes sociais israelenses.
20. Para transportar esses judeus a Israel, foi fretada as Linhas Aéreas do Oriente Próximo, uma companhia aérea norte-americana. Esses iemenitas eram tão subnutridos que foi preciso colocar 170 deles para completar um só voo, o dobro de uma lotação normal. Como não houve tempo suficiente para que todos pudessem tomar banho, o cheiro insuportável de desodorante vencido tomou conta dos passageiros.
21. O primeiro avião das Linhas Aéreas Centrais da Palestina aterrissou em Hashed, num dia de sábado, contudo, os judeus-iemenitas se recusaram entrar no avião nesse dia, para não quebrar a Lei Mosaica. Argumento algum foi suficientemente capaz para demovê-los de sua fé. Somente entraram na aeronave após o Pôr do Sol daquele dia. Estavam tão agarrados à lei sabática, como as legiões estavam agarradas à Roma.
22. A aeronave decolou, e quando sobrevoava o Mar Vermelho, na altura da Arábia Saudita, o pessoal de bordo detectou uma fogueira que havia sido acesa no piso da aeronave, pois, queriam se aquecer do frio. Ainda foi possível apagá-la, antes que ocorresse uma tragédia fatal. Ao ouvirem o serviço de alto-falantes de bordo transmitindo avisos, começaram a apontar o dedo para o teto e gritar, pois, julgavam estar ouvindo a voz de Yahweh.
23. E quando o avião aterrissou em solo judaico, o barulho de tanta alegria foi de tal monta, que abafou o ruído dos motores do avião. Com os olhos em lágrimas, ajoelharam-se para beijar o solo da pátria de seus antepassados. A Operação Tapete Mágico estava apenas começando.
24. Um grupo de veteranos pilotos norte-americanos foi contratado para resgatar judeus-iemenitas de volta para a terra de Israel. Apesar dos aviões estarem desgastados pelo tempo de uso, não houve um único acidente em toda a operação de resgate. Os pilotos até acreditavam que foram sustentados pela mão divina. A operação aérea desencadeada pela França, Inglaterra e Estados Unidos agrupou dezenas de aviões para resgatar esses judeus do antigo Reino de Sabá.
Interpretação dos fatos
01. Os fariseus, que se julgavam guardiões da Lei de Moisés, por entenderem estar sendo ameaçados seu sistema religioso e seus valores, começaram a montar vigilância aos movimentos do jovem rabino, Jesus de Nazaré, pela região da Galileia, para apanhá-lo em contradição, e então incriminá-lo.
02. A cura de um deficiente físico em uma sinagoga e o apanhar espigas de milho por seus discípulos em uma gleba por onde passaram, ambas efetuadas em um dia de sábado, foi a oportunidade que escribas e fariseus, presentes a esses eventos, usaram para tentar incriminá-lo.
03. O sábado havia sido dado ao povo judeu, nos dias de Moisés, como um dia especial para o ser humano repousar de suas atividades profissionais, e assim, então, se lembrar das bênçãos recebidas de seu Criador. Todavia, com os anos, os fariseus fizeram do sábado o deus a ser adorado.
04. Então, aos que haviam transformado esse dia em um emblema nacional de adoração, colocando-o acima do ser humano, criado segundo imagem e semelhança de seu Criador, o jovem rabino, nessa oportunidade, abalou os alicerces farisaicos da idolatria sabática, afirmando por palavras, atos e fatos, ter autoridade sobre o sábado, e assim os fez lembrar que uma fonte de amor e de misericórdia está acima de seu sistema farisaico de adoração.
05. O dia que o Eterno deu a seu povo para descanso, o legalismo farisaico o transformou numa peça de idolatria, e o colocou acima do ser humano. Segundo a Lei Mosaica, era facultado ao cidadão colher grãos à mão para saciar a fome, no momento em que transitasse em uma gleba agrícola, mas ficava proibido levar consigo qualquer unidade excedente (Deuteronômio 23.25).
06. No caso da colheita, o Enviado divino defendeu seus discípulos, fundamentado no “princípio de que as necessidades e o conforto humano” são muitos mais importantes que a rigidez sabática farisaica. E para um calar a boca estonteante desses religiosos de plantão, mencionou que o jovem pastor de ovelhas, de nome Davi, quando fugia da ira do então rei Saul, encontrando-se em estado de fome intensa, não receou comer os pães da proposição do santuário de Nobe, administrado pelo sacerdote Abimeleque, alimento reservado, exclusivamente, à classe sacerdotal (I Samuel 21.1-6).
07. Esses fariseus, que se julgavam ser os verdadeiros deuses cuidadores do sábado judaico, ficaram apequenados ao ouvir o Filho do Homem afirmar ser, Ele, o verdadeiro Senhor do Sábado.
08. A exemplo dos judeus que viviam no antigo Reino de Sabá, nos dias da Operação Tapete Mágico, se recusarem entrar numa aeronave com destino a Jerusalém num dia de sábado, somente o fazendo após o Pôr do Sol, os fariseus, também, haviam idolatrado o sábado, como se esse dia de descanso fosse o próprio Yahweh.
09. Alguns dias após a colheita das espigas, o jovem rabino encontrava-se em uma sinagoga de algum vilarejo da Galileia, em um dia de sábado, e lhe foi credenciada a palavra para ministrar aos presentes nesse santuário de adoração, e como não poderia deixar de acontecer, lá encontrava-se, também, um grupo de escribas e fariseus escalados, por seus senhores do Sinédrio de Jerusalém, para espionar se o palestrante de sandálias confeccionadas de couro rústico e manto de tecido não sofisticado violaria o sábado para curar um homem que tinha sua mão direita atrofiada.
10. As mãos são uma ferramenta natural para a execução de tarefas do cotidiano e de produção de riquezas. E aquele cidadão, com sua mão direita ressequida, lhe trazia imobilidade, tristeza e vergonha social e familiar. Então, movido de uma enorme compaixão por aquele infeliz, o jovem pregador, desejoso de reintegrá-lo à sociedade, da qual vivia marginalizado, ordena ao deficiente físico que se ponha de pé, caminhe até o centro do santuário, local onde encontrava-se o púlpito, e ao mesmo tempo estenda sua mão ressequida, para que todos a vissem.
11. Em um templo católico ou evangélico, os fiéis costumam se postar sentados em bancos voltados para o púlpito, porém, em uma sinagoga, que é uma casa de adoração judaica, o leiaute é totalmente diferente, porque os fiéis se assentam de frente um para o outro, e o púlpito fica colocado bem no centro do santuário.
12. A uma ordem de comando, o moribundo fica de pé, caminha até o centro do santuário e estende sua mão defeituosa, para que todos pudessem contemplar o milagre a ser realizado, e assim pudessem glorificar ao Deus o Todo-poderoso. Porém, ao ver a mão do deficiente físico ficar restaurada, a uma ordem de comando emitida pelo jovem pregador, a corja farisaica entrou em estado de loucura absoluta, e acusaram o autor da cura de haver violado o deus sábado que idolatravam, alegando que a operação de resgate deveria ser realizada depois do Pôr do Sol.
Conclusão dos fatos
01. Eruditos da Lei Mosaica entendiam que o descanso sabático podia ser rompido para salvar a vida de um ser humano ou de um animal qualquer. No caso de um animal ficar com as pernas presas em um buraco ou em outra situação qualquer, não era necessário que o resgate fosse realizado no dia seguinte. E ao restaurar a mão direita do marginalizado, o pregador entendeu que a vida humana é por demais preciosa que a de um animal, e sem dia específico para ser resgatada e integrada a seu ambiente social e familiar.
02. Os políticos-religiosos fariseus, em sua cegueira para com as maravilhas do Eterno manifestadas a seu povo, por meio de seu Enviado, não tinham a mão, mas o coração ressequido pelo ódio acumulado, e por isso o perseguiram ao longo de sua jornada terrena, como o penduraram num madeiro.
Obra literária em montagem, não revisada, nem editada
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