O homem de Gadara
Introdução dos fatos
01. Em uma determinada aldeia situada no lado ocidental do Mar da Galileia, o jovem rabi de Nazaré havia passado uma grande parte do dia evangelizando os habitantes da comunidade. Ao entardecer, fazendo-se acompanhar de seu seleto grupo de discípulos, entrou em um barco pesqueiro e navegou para a margem oriental. Os tripulantes desembarcaram na areia da praia do vilarejo de Khersa, na região gentia da Pereia.
02. O vocábulo Pereia vem do termo grego “Terra do Além Jordão”, tinha a cidade de Gadara como capital, seu território estava situado numa parte escarpada defronte ao Rio Jordão, nos dias de Moisés essa região era conhecida como Basã e foi dada à tribo de Rubem, Gade e Manassés, e nos dias de Jesus Cristo foi dada a Herodes Agripa II pelo imperador romano Nero.
03. Nossa sociedade costuma abrir uma sepultura no solo para receber o corpo do defunto, porém, não era esse o costume de sociedades antigas. Os antigos egípcios, que acreditavam na ressurreição do corpo do defunto sepultado, costumavam construir suntuosas pirâmides para depositar o corpo embalsamado de seus faraós, edificar mastabas para sepultamento da nobreza, e escavar câmaras mortuárias, chamadas hipogeus, numa encosta rochosa para recolher o corpo da plebe. E os gadarenos, como mostram os escritos de Marcos, Lucas e Mateus, costumavam escavar sepulcros na encosta rochosa para depositar seus mortos.
Interpretação dos fatos
01. Ao desembarcar na faixa de areia de Khersa, que distava 9 quilômetros da cidade de Gadara, o jovem galileu e seus discípulos foram recepcionados por um ser marginalizado que tinha residência em sepulcros do cemitério do vilarejo, e, supostamente, devia se alimentar de cadáveres sepultados.
02. Isolado da família e da comunidade, o cemitério era o lar do ser incorporado por uma casta de demônios. Esta o conduzia a vagar, dia e noite, pelos sepulcros e pela região montanhosa, e aos gritos ensurdecedores de ausência absoluta de paz, costumava se ferir com pedras, na tentativa de acalmar sua alma amargurada.
03. Nas várias vezes que foi aprisionado com cadeias metálicas, estas foram reduzidas a pedaços, devido à força descomunal da legião de demônios que manipulava sua mente pecaminosa. E foi nesse estado desesperador que, ao avistar o jovem rabi desembarcar na região, correu a seu encontro, o reconheceu como o Enviado divino, o adorou e, aos gritos, bradou: “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altíssimo?”
04. Na verdade, a treva nada tem com a luz. E ao ser questionado a respeito de sua identidade, o oficial comandante das hostes malignas que incorporavam o corpo físico e a mente daquele marginalizado, respondeu-lhe ser o general de brigada que comandava aquela legião de seres rebelados. Uma legião romana era composta por 10 coortes, tendo cada coorte 560 legionários experimentados, e assim aquele corpo marginalizado era habitado por cerca de quase 6 mil demônios, daí tamanha força sobrenatural do endemoninhado.
05. A uma ordem de comando do Homem de Nazaré, a legião demoníaca foi expulsa do corpo do miserável gadareno, que vivia na condição de escravo do Diabo. Uma vez expulso do corpo do moribundo, o general comandante da legião rogou ao Enviado divino que não o expulsasse daquela região, mas que o permitisse entrar no corpo de uma manada de porcos que pastava nas proximidades.
06. E uma vez obtida a permissão, os demônios entraram nos corpos daqueles animais e os precipitou despenhadeiro abaixo sobre as águas do Mar da Galileia, afogando a todos, para desespero dos pastores que os apascentavam.
06. Por ser um animal imundo, o consumo de carne de porco é duramente proibido pela Lei Mosaica, conforme consta no livro de Levíticos, e o povo religioso judeu dela se abstem ao longo dos séculos (Levíticos 11.7).
07. As cidades da antiguidade muito sofreram com o sistema público de saúde. Na Roma dos césares, inquilinos de edificações residenciais, de vários andares, costumavam despejar, do alto, pinicos sobre o leito das ruelas. Cães e porcos costumavam percorrer essas vias de acesso como agentes do departamento auxiliar de limpeza pública. De maneira que esses animais imundos funcionaram como agentes públicos até o Século XIX, em cidades como Nova Iorque, Manchester, e tantas outras.
08. O sacrifício de animais em rituais religiosos e o consumo de suas carnes têm sido uma constante ao longo da existência de seres decaídos da graça divina. Na antiga civilização do Egito dos faraós, animais os mais variados eram sacrificados aos deuses criados pela mente humana. E o faziam na busca para tentar encontra-se com o Deus o Todo-Poderoso. No Monte d’Accoddi, situado na Sardenha, famoso centro sagrado da Itália, porcos eram oferecidos em sacrifícios a divindades nefastas que cultuavam.
09. Na antiga civilização grega, era comum a entoação de hinos e orações em prol do animal, sem defeito, escolhido para ser abatido sobre o altar dos sacrifícios, localizado nas cercanias do templo religioso da comunidade. O animal sem defeito era devidamente ornamentado com grinaldas e conduzido, em procissão, até o local do sacrifício.
10. Uma menina, postada à frente, tinha em sua cabeça uma cesta, dentro da qual havia uma faca que o sacerdote faria uso, dela, para abater o animal. As mulheres emitiam gritos no exato momento em que o animal era abatido, e o sangue coletado era aspergido para a purificação do altar sacrificial.
11. A carne do animal era comida pelos cidadãos mais importantes da comunidade, enquanto ossos, órgãos internos e partes não-comestíveis eram queimadas como oferta à divindade. O couro do animal era vendido a curtidores, e o valor auferido depositado no tesouro do templo religioso. E o porco era o tipo de animal preferido, por ser o mais barato de todos.
12. De acordo com a Odisseia, famoso poema épico atribuído a Homero , era costume do povo grego sacrificar porcos aos deuses ou a alguém de destaque da sociedade: “Eumeu faz orações e sacrifica um porco para seu mestre Odisseu”.
13. Pã é o nome do deus grego dos bosques, dos campos, da fertilidade, dos pastores e dos rebanhos. Essa divindade abominável era representada com metade homem e metade animal, provido de chifres, membros inferiores, cascos e orelhas de bode.
14. Como o porco foi o animal muito usado em rituais sacrificiais da antiga Grécia, no ano de 167 a.C., Antíoco Epifânio, governante do Império Selêucida, entrou com suas tropas em Jerusalém, nomeou Menelau como sumo sacerdote, e no Templo de Jerusalém instalou uma estátua do deus Zeus, como ofereceu porcos em sacrifícios a essa divindade grega, fato que levantou o povo judeu em armas na rebelião comandada pela família macabeia de Modin.
Conclusão dos fatos
01. A antiga cidade de Paneias recebeu esse nome por causa da famosa gruta na qual o deus Pã era reverenciado com o sacrifício de animais que lhe eram oferecidos. Posteriormente, foi refundada pelo Tetrarca Herodes Filipe, em honra ao imperador romano Tibério César, e passou a se chamar Cesareia de Filipe. Hoje, seu nome foi alterado para Banias.
02. Cesareia de Filipe ficava situada a 329 metros acima do Mar Mediterrâneo, nas proximidades do Monte Hermom, e a cultura grega predominava nos dias de Jesus de Nazaré. Em sua área rural havia uma enorme gruta de difícil acesso, na qual funcionou como famoso centro de idolatria, e certamente muitos porcos foram, nela, sacrificados aos deuses do panteão greco-romano.
03. E aqueles porcos que morreram afogados nas águas do Mar da Galileia, supostamente, muitos deles deviam estar sendo cevados para sacrifícios aos deuses cultuados pelos gadarenos. Avisados acerca do ocorrido aos animais, autoridades da comunidade expulsaram o jovem rabi de seus termos, apesar de contemplarem totalmente recuperado aquele que, anteriormente, espalhava terror a todos. Para essa elite dominante, os porcos eram muito mais importantes que o cidadão restaurado ao seio da sociedade.
04. E a exemplo das autoridades gadarenas, que expulsaram o autor da vida de seu território, deuses da sociedade de nossos dias, também, têm expulsado o Eterno de seu convívio social.
05. O sacrifício de animais no antigo Oriente Próximo era aceitável, porém, o sacrifício de humanos, aos deuses, era considerado muito mais eficaz, por constituir o maior dos sacrifícios.
06. E, em Hollywood, o sacrifício de inocentes tem sido uma grandeza. No documentário “Jim & Andy: The Great Beyond em Nova Iorque”, é traçado a evolução do ator de Hollywood, Jim Carrey, quando este atuou como “Andy Kaufman” durante a filmagem para a película de 1999, “Man on the Moon”.
07. Foi observando o relacionamento da Cabala Escura com Hollywood, que o astro cinematográfico Carrey foi enfático ao afirmar que a indústria do entretenimento se comporta como ramo de relações públicas e de lavagem de cérebro da Nova Ordem Mundial, e que havia “...um forte impulso para normalizar o satanismo em 2018”, data a partir da qual o Diabo passaria a ser adorado à moda antiga.
08. Segundo Carrey, os deuses que infestam Hollywood costumam comer as carnes de bebês durante os festejos de Natal e de Ano Novo.
09. Essas crianças costumam ser engordadas e passar por terríveis tormentos psicológicos antes de serem abatidas, como gado, para que suas carnes sejam servidas nas mesas, como alimento para os deuses de carne e osso. Os pequenos costumam sofrer essas torturas, porque esses deuses, afundados no satanismo, acreditam que a adrenalina e o ódio extraído do corpo desses infantes lhes darão poderes sobrenaturais.
10. O maior desaparecimento de menores abandonados ocorre durante esse período de festejos, justamente, para que suas carnes lhes sirvam de alimento e seus sangues de bebida. O sangue, para que os deuses do entretenimento permaneçam sempre rejuvenescidos. Assim procede uma sociedade que expulsou a seu Criador, em troca de riqueza, poder temporal e fama, valores que não saltam para a vida eterna.
11. E ao se sentir liberto da condição de Cavalo do Diabo, aquele gadareno sentou-se aos pés do Senhor criador de todas as coisas, e encarecidamente suplicou que lhe aceitasse como um seu discípulo, mas seu pedido foi rejeitado. Foi enviado, por seu Libertador, para estar com sua família, com sua parentela e com sua comunidade, como seu enviado, e lhes contassem tudo o quanto lhe havia ocorrido. Outrora, um ser imprestável, agora, como missionário, espalhou a mensagem do Evangelho àquela sociedade pecadora.
Vida eterna, volume 1
Marcos 5.1-20; Lucas 8.26-39; Mateus 8.28-34
pr. Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 16.01.2021
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