REPUBLICAÇÕES - TEORIA LITERÁRIA (1) Poemas de Formas Fixas ou Versos Livres, Contagem de Sílabas Métricas (Escansão)

Quando eu fazia parte do grupo literário espanhol "Poetas Trabajando" comprei uma briga com o coordenador do fórum "Versos Libres", onde eu costumava postar, de vez que ele, na introdução do fórum, dividia os versos em clássicos (com rimas) e livres (sem rimas). Santa ignorância! E pensar que os espanhóis são extremamente rigorosos na aplicação das regras de Teoria Literária, em seus sites...

Na verdade, os versos clássicos são os que trazem, ao mesmo tempo, estas três condições:ritmo, rima e métrica; enquanto os versos livres são apenas os que fogem desse esquema rígido. Então, se um verso traz rima, mas não tem métrica nem ritmo, ele é livre como um passarinho. A polêmica abalou a administração do site Poetas Trabajando, cuja sub-administradora era tida como uma cientista literária, tanto que corria uma versão de que ela passara um ano praticando a arte de fazer sonetos! Mas, no fim, entre pesquisas e consultas a compêndios e mestres, tiveram que dar mão à palmatória: eu estava certíssimo!

Eu, por exemplo, com veia repentista, adoro fazer versos rimados por me parecer mais sonoros e agradáveis à leitura ou declamação, mas sei que são livres; faço versos clássicos - de formas fixas - quando a inspiração e a paciência se juntam para criar sonetos ou trovas.

Quanto à contagem de sílabas métricas (escansão), cumpre advertir que não se trata de sílabas gramaticais, pura e simplesmente. São regras que derivam da eufonia e da pronúncia, em termos de língua brasileira. Vejamos esta trova que postei aqui no Recanto das Letras:

"Tudo aqui é um mistério,

o enigma não se revela;

não leve a vida tão a sério,

pois ninguém sai vivo dela!"

O 1º verso tem 9 sílabas gramaticais, o 2º tem também 9; o 3º tem 10; o 4º tem 7. Mas, se é uma trova, todos os versos devem ter, rigorosamente, 7 sílabas métricas! Têm? Vamos ver:

Tu-doa-qui-é-um-mis-té(rio) = 7

oe-nig-ma-não-se-re-ve(la) = 7

não-le-vea-vi-da-tãoa-sé(rio)= 7

pois-nin-guém-sai-vi-vo-de(la)= 7

Bingo! É trova!

Observações:

1- A vogal átona final da última sílaba da palavra anterior (ou da própria palavra, no caso de monossílabos) pode se juntar à vogal átona inicial da primeira sílaba da palavra seguinte. Veja: doa/, /oe/, /vea/,/ tãoa/

2. Não se contam as silabas finas átonas dos versos: mis-té-(rio) = 2;

3. Além disso, você, caso queira, pode transformar um ditongo em hiato ou vice-versa: An-to-nio ou An-to-ni-o; po-e-ta ou poe-ta.

Observem que nada disso é obrigatório; você usa essas regras quando quer aumentar ou diminuir as sílabas métricas, visando igualar o número de sílabas métricas de todos os versos, quando quer fazer um soneto ou uma trova.

Até a próxima!

Antonio Maria Santiago Cabral

Professor de Língua e Literatura

Registro MEC/MA 25538