QUEM SOU AGORA?

Sou como meus pais? Impossível, “as águas não voltam iguais as fontes”, como diz Virgílio López Lemus.

A maturidade fez de mim protetora e corajosa mulher, com características (in)comuns que me diferenciam na arte da vida. Luis Martins da Silva questiona, “porque bebo lembranças? / porque me aprisiono? / no paleopolítico sentimental?”.

Descubro o mundo diariamente ao analisar o caminho que seguimos: pouco afeto e muita importância ao dinheiro. Entender é difícil, pois, são dois divisores fortes e importantes para a sobrevivência. Porém, só despertam o nosso lado interesseiro e ganancioso, como retrata Luis M. da Silva, “Vem hoje / e sempre mais jovem / o passado / efetuando passes / misturando símbolos...”.

Não me refiro à sedução, mas, a encarar o dia seguinte com a bagagem necessária e fundamental para as relações: amor e caráter. Nesta cumplicidade podemos disputar e estabelecer as responsabilidades cotidianas. Luis Martins constata, “o passado está ali / presente sentado à mesa”.

Ser como nossos pais é enumerar as horas e novidades que aprendemos apenas com a experiência que coexiste em nossa memória. Elis Regina já cantava, Como Nossos Pais, música de Belchior.

Vivo as mudanças e constato que as afinidades e o carinho estão juntos com a mágoa e o rancor. Estas passagens se juntam, em mim, reafirmando nossas identidades pela observação das reações peculiares, que tenho em comum com meus pais, e me emociono. Nilto Maciel diz que, “É na memória onde tudo de guarda e se acha... O homem é seu passado”.

Gosto de quem sou. Com coragem, enfrento os entraves em que a vida atinge sua complementaridade (im)perfeita no mundo, tornando o futuro falso, aflito, confuso e desonesto, como no poema de Virgílio López Lemus, “Eu sou a anciã que tem medo do tempo / e o jovem que tem medo da vida”.