Marco Aurélio Vieira, O SONETISTA

Ainda bem que Camões há muito viajou para a galáxia dos poetas maiores. Até porque, se vivesse nestes dias, das duas, uma: ou seria um amigo ou estaria invejoso do sonetista Marco Aurélio Vieira, nascido na cidade do Rio de Janeiro. Conheci o poeta no site de literatura Recanto das Letras. Foi lá que me apaixonei pelos sonetos aurelianos e me tornei uma invejosa.

O soneto é uma composição clássica que o Criador deu de presente a poetas como Marco Aurelio, esse carioca; a Camões, Florbela Espanca, Vinícius de Morais, Machado de Assis, Carlos Pena Filho, William Shakespeare, Bocage, Gregório de Matos Guerra, Cláudio Manuel da Costa, Cruz e Sousa, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, e por aí vai. Entretanto, eu não fui presenteada...

Um dia amanheci contrariada e resolvi ousar compor um soneto, mas, apontou o problema, trabalhar com ritmo, métrica, harmonia e tantas exigências duríssimas da famosa composição. Tentei outras vezes e em todas elas sofri e me restou um amontoado de dúvidas. Foi assim que solicitei, neste ano de 2020, o parecer de Marco Aurelio Vieira sobre a minha ousadia. Eu sabia do portento que ele é e de como suas composições são marcantes, envolventes, repletas de imagens, sons e cores. Quanta poesia, quanto dom! E eu só aumentando a minha inveja.

Recebo nesta manhã os arquivos da revisão dos meus míseros sonetos, feita por Marco Aurelio. É difícil dizer sobre a elegância, a propriedade, a competência que demonstra o sonetista e também revisor da cruel gramática poética. Sim, ela é cruel, mas também magnífica. Estou encantada, emocionada com o trabalho realizado sob um conjunto perfeito de critérios, além das observações em vários campos da linguagem e as sugestões.

Por conta do seu cavalheirismo e carinho, Marco não me mandou colocar no lixo os meus toscos filhos feitos de versos padecentes. Por conta de sua fineza, Marco até fez comentários sobre algumas virtudes em alguns versos, quartetos, tercetos. Obrigada, querido poeta.

Quanto a você que também aprecia e produz sonetos, eu recomendo a valiosíssima revisão e aula do poeta, Marco Aurelio Vieira. Reverencio o seu talento e capacidade. E me ajoelho diante de seus sonetos, assim como o faço com este a seguir:

A COR DA POESIA

Desliza o verso em vias de mistério...

Deglute, tão famélico, o sentido

de seu destino breve a ser vivido...

Fazer-se do poema é seu critério.

Erguendo-se ridente, ou reto e sério...

Saltando em bamba métrica, atrevido,

ou preso nela, firme e decidido...

De seu poema, faz seu ascetério.

O verso quer apenas ser um verso,

cumprir a sua sina no reverso

do pensamento deus de seu leitor.

Desvia a tradução, versão coerente,

pois sabe que poesia só se sente...

É plena, se em vazio acende a cor.

(Marco Aurelio Vieira)