OS TUBERCULOSOS (Literatura,História & Ciência), parte I

A tuberculose sempre presente em minha história.Meu avô materno, Sebastião Antonio de Lima,morreu em 1950 nos braços de minha mãe, então com 8 anos,nas escadarias da Igreja Matriz de São José dos Campos,

após uma procissão de Domingo de Ramos. Segundo ela, a hemoptise lavou as escadas com sangue. A própria cidade teve uma fase econômica voltada para o tratamento da doença, que até hoje ceifa milhões de pessoas no mundo. Foi estação climática das mais importantes até por volta da década de 30 do século passado, quando então foi perdendo o posto para Campos do Jordão, mesmo assim prosseguiu como uma etapa do tratamento, aqui vinham os convalescentes e os com casos menos graves até meados dos anos 50, quando então a cidade começou a voltar-se para a industrialização, fase também agora encerrada graças ao sr. Collor. Mas na fase sanatorial da cidade havia vários sanatórios importantes e grandes, assim como muitas pensões especializadas para recebê-los, hotéis, hospitais, farmácias. Morei muitos anos numa rua chamada Genésia B. Tarantino, farmacêutica que notabilizou-se pela competência profissional e caridade. Dizem que nessa época, quando não havia a rodovia Presidente Dutra e sim a tortuosa e infindável Rio-São Paulo, os passageiros de trens na Central do Brasil cobriam nariz e boca com lenço enquanto passavam pela cidade.

Quando menino sentia muito medo de algum dia contrair o bacilo de Koch e ter o mesmo destino do avô 12 anos antes de meu nascimento. Foi com enorme alívio que em 1978 tomei a vacina no intervalo das aulas noturnas na Escola Estadual Estevan Ferri, na qual cursava a última série do fundamental.No dia seguinte "fiz fita" e faltei o dia no SENAI Santos Dumont, onde cursava a abominável Mecânica Geral.

A causa da doença é bacteriana, na forma de um bacilo chamado de Bacilo de Koch, descoberta em 1882 por um alemão chamado Robert Koch. O nome científico da bactéria é Mycobacterium tuberculosis. Até o advento de antibióticos produzidos em escala industrial havia muito pouco para o médico fazer pelos doentes a não ser prescrever descanso, bom sono e alimentação. Porém, um italiano, dermatologista, criou a técnica do pneumotórax artificial, que é o do poema de Manuel Bandeira, Pneumotórax( já que pneumotórax é a a infiltração de líquido na cavidade pleural, ocorre não apenas no caso de tuberculosos). O nome desse italiano é Carlo Forlanini e a técnica consistia em infiltrar ar na cavidade pleural e assim colapsar o pulmão séria e irremediavelmente comprometido. As pessoas submetidas a ele ficavam arcadas lateralmente, isso é abordado no romance Floradas Na Serra, Mesmo hoje contando com antibióticos eficazes , quando ministrados em conjunto, como Rifampicina,Isomiazida e pirazinamida, que garantem cerca de 95% de cura, desde que haja adesão total ao medicamento ( o tratamento dura em média 6 meses e é muito comum as pessoas abandonarem-no porque rapidamente os sintomas desaparecem, criando a ilusão de que sararam) e com a vacina BCG, aplicada no primeiro mês de vida dos bebês, cerca de 6 mil brasileiros morrem pela doença por ano. Cerca de 1/3 da população mundial está infectada e talvez algo em torno de 7% contrairá a doença. Além de tudo isso, o uso inadequado de antibióticos promove resistência bacteriana. Bacilos de Koch resistentes levam o tratamento do mal à estaca zero.

O bacilo instala-se por via respiratória. Se um infectado tossir, milhares de bacilos ficam no ar em forma de gotículas e na poeira por várias horas; se espirrar serão milhões de bacilos. Inicialmente a bactéria invade o trato respiratório e instala-se no pulmão, pois necessita muito de oxigênio,cerca de 15 dias depois começa a se proliferar ali fica até ser reconhecida pelo sistema imunológico que a combate, se falhar a tuberculose primária se instala, é caracterizada por pequenos nódulos (lesões) nos pulmões, o que já pode ser constatado em radiografias(abreugrafias). Se não houver tratamento, com o tempo, surgem sintomas mais graves, tosses purulentas e sanguinolentas, chamadas hemoptise.

Os sintomas de tuberculose são tosses crônicas, febre, suores noturnos abundantes, dores torácicas, perda de peso lenta e progressiva, anorexia, adinamia. Também é fundamental saber que tuberculose não acomete apenas pulmões, há tuberculose de rins, ossos, intestino delgado e órgãos genitais, embora sempre sejam iniciadas no pulmão essas formas são mais comuns em crianças, idosos e imunodeprimidos como portadores de HIV com grande carga viral ( que geralmente nem sabem possuir esse vírus), aidéticos, portadores de leucemia etc.

OBS. Como se trata de um artigo longo, resolvi dividi-lo em duas partes, espero que esta primeira tenha sido útil e/ ou agradável.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 28/08/2020
Reeditado em 28/08/2020
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