O POEMA: PULSÃO SENSORIAL E ÚNICA

No universo do pensamento, há um grito ou canto de resistência que vem à tona agridoce, exsurgindo túmido de pulsações emocionais: um relato grávido de invencionices, farsas, fantasias e o universo sempre inesgotável do sonho, que a tudo redimensiona. Esboroa-se nele tudo que vem a nós com o ferrete das hostilidades e que necessita prontamente de proteção e armadura para vencer a corporificação da dor e suas sequelas – o cotidiano doloroso de sofreres. Em alguns resistentes, o sofrer vem carregado de um sentimento compensador: a Esperança. É a essa pulsão sensorial e única que costumamos rotular de Poesia. Este confessional altruísta e difuso é o canto do caos, da desordem pateticamente capaz de organizar condutas e atos mudancistas que se corporificam no autor e, por vezes, até no leitor desavisado ou intensamente receptivo por mais variadas razões objetivas e subjetivas, momentos pessoais em que o emocional prevalece e o chão parece que afunda sob os nossos pés. É também o frescor da linguagem, a escapadela insensata da liberdade interior, a generosa gestação do humanismo, o lépido e, ao mesmo tempo, o tímido verbo que possui em suas nervuras o fascínio de comover o esperançoso praticante do verbo amar, inteiriço e fogoso. Para e por si mesmo, cada palmo de terreno é fértil território de frutificação, se bem que nem sempre estejam sazonados os frutos da pulsação vital, aquela que bate no peito propondo, no laboratório experimental dos encontros e descaminhos, o convívio enriquecido pelos jogos quotidianos da emoção prazerosa. Mais do que aquele agudo e intenso tensional de estranhezas e inquietações, ocorre uma pulsação singular, única e inesgotável que se manifesta nos versos do poema – um organismo verbal capaz de reiterar e/ou recriar o humano ser em sua pontual dimensão de signo verbal, flor, dardo ou seta adornados de beleza para a instigação à densidade espiritual e/ou à vida que permita ser vivida com ganas de suportar o que vier no depois da exposição ao bálsamo amoroso, emanações de condutas crísticas espargidas sobre pensamentos e ações. Enfim, o possível atingimento de um espiritual enrustido em presentes e incertos futuros, tudo no desejo e perspectiva de esperança na convivência reprodutiva e pacífica de um maior número de envolvidos no cenário intimista e não confessional, advindo de temores que anulam vontades que nem mesmo se materializam em prazeres ou atos. Em cada poema acontece um reiterado nascimento de visões sobre o mundo fático que se acachapa sobre o poeta-autor, pejado de pensamentos fantasiosos e curiosamente capazes de lograr veracidade, de modo que, ao alcance da humana criatura, abra-se a janela da expectativa do dia seguinte. E a esperança se faça luz sobre o que dantes parecia sem perspectiva.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 03. Obra inédita, 2015/20.

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