Sobre a escrita III - A importância do encanto
Contar uma história, compor uma canção ou uma poesia são coisas que apenas os seres humanos podem fazer, uma vez que, como seres racionais, pensamos, arquitetamos, inventamos, mas também reagimos de modos diferentes a essas criações. A literatura, seja em prosa ou em verso, possui grande poder de influência em nossas emoções e em nossa imaginação. G. K. Chesterton em seu livro ORTODOXIA reserva um complexo e íntimo capítulo sobre contos de fadas e suas aplicações lógicas chamado A ÉTICA DA ELFOLÃNDIA. Ali, de modo resumido, ele mostra que aprendeu muito mais sobre ética e humanidade nas histórias mágicas infantis do que nos tratados de sociologia. Ele ressalta também que essa fantasia é necessária para vivermos nesse mundo de pedra com os pés no chão, mas a cabeça nas estrelas, tanto para andarmos sem perder a firmeza das responsabilidades cotidianas que nos são impostas, como também para desfrutarmos do que há de mais maravilhoso na vida que é ela mesma.
Existe filosofia e psicologia em Ursinho Pooh e no O Pequeno Príncipe. Por mais que haja rumores de mensagens subliminares (tema do qual não discorrerei), quem há alguns anos não se encantou com o mundo de Cinderela, Branca de Neve, Vida De Inseto e até outros desenhos infantis não apenas da Disney, mas de tantas outras criações. Minha inocência ainda reside guardada em O Pequeno Urso. Minha lógica não, pois ursos, gatos, corujas, patos e outros animais não falam. Porém minha inocência está lá e é na inocência que reside a maravilha.
No entanto, a lógica deve ser afetada pela maravilha. Pelo sublime. Mario Sérgio Cortella em seu livro (Ai meu Deus. Esqueci o nome) diz que NOS FALTA ENCANTO nesses últimos tempos. Não nos falta fatos chocantes, cenas brutais e notícias tristes no nosso dia-a-dia. Somos bombardeados por isso. O que nos falta é o encanto. Aquela sensação que tínhamos quando criança de olhar para um monte de pedra, concreto, areia, ferro, e etc e dizermos abismados: "Poxa, que predio grandão!". Nessa época coisas pequenas e palpáveis nos encantavam. Quem aqui nunca sentiu medo de ir no banheiro sozinho a noite que atire a primeira parcela do auxílio emergencial. Isso era algo infantil. Irracional? Pode ser, mas o período do encanto ainda estava ativo. Hoje não temos medo do escuro, mas nosso olhar está sem brilho.
Mia Couto disse que devemos REPENSAR O PENSAMENTO. Voltar ao encanto. Olhar para as nuvens e lembrar de quais animais víamos ali no céu.
Eu decidi escrever esse post inútil sobre esse tema inútil para dizer duas coisas: nós, como seres humanos, precisamos dessas inutilidades. Não porque nos tornaremos brutos, mas porque muito da nossa "criança interior" se perde entre boletos, brigas de relacionamentos e sonhos frustrados.
O segundo motivo foi para fazer uma auto-divulgação do meu trabalho no Recanto das Letras e no Inkspired. Não só meu, mas de muitos amigos que postam contos e poesias por lá.
Te convido a um dia se atrever a ler um daqueles textos. E leia com olhar crítico mesmo. Daqueles de adulto chato, e me diga o que poderia melhorar. Automaticamente você estará pensando literatura e, sem perceber, entrará num mundo que não é seu, mas que irá se apropriar dele. Desfrutará de sonhos que não são reais, porém que se tornaram reais em sua mente e em seu coração.
E como sempre, gosto de deixar uma pequena lista de autores que são do recanto e que os textos dos citados (posso esquecer de muitos provavelmente e ao lembrar atualizarei a lista) que me ajudaram a conservar numa pequena redoma de vidro essa flor (A Bela e a Fera) do encanto dentro de mim.
Lobo do Cerrado
Batista Andrade
Cristina Gaspar
Dissecando
Iolanda Pinheiro
Gilson Raimundo
Jonathan King
Maria Tereza Bodemer
Creusa Lima
Eliasoliver
Márcio Tadeu
Cristian Canto
Juliana Sluca
Raphael Meza
Mariângela Ragassi
Jota Garcia
HICS
Ester Lessa
Francisco de Assis Góis
Todos os autores do CLTS 11 e 12
Menina dos Rabiscos
Waldryano
CosmoKaos
Olisomar
Manassés Abreu
E tantos outros...