VIRA-TEMPO
Enquanto o Covid19 não se exaure, a sensação de medo permanece em cada dia de confinamento. O desafio é descobrir o que fazer no tempo disponível. Em Luciano Maia encontro que, “... Estava o tempo atravessando outrora / nos travejos / nas traves / nas tramelas /a das casas... // redescobrindo as veredas do passado...”.
Antes da pandemia o tempo era breve para os nossos desejos. Agora, temos tempo para descobrir o que fazer para o nosso bem estar. Por exemplo, meu amigo teve tempo para redescobrir a sua biblioteca e encontrou um livro que havia comprado há dezessete anos; agora, disse ele, chegou a hora de ler aquela obra de Gabriel Garcia Márquez. O bom é que livro não tem idade para ser lido com o mesmo prazer. Nas palavras de Virgílio Maia, “guardava crudelíssimos segredos / escondidos no sótão da memória”.
Outros estão tendo a alegria de almoçar com suas famílias, aproveitando o carinho, até mesmo, na criação de novas receitas visando tornar especiais as refeições.
No vira-tempo procuro filmes na televisão, trabalho na produção de textos e altero os dias, como processo de libertação. Ao re-virar o tempo vario as atividades de acordo com meus desejos, para refletir sobre os acontecimentos com suas gravidades, e que tudo sirva de propósito como o livro que estou lendo: Os Quatro Elementos, em que cada escritor assinou doze sonetos: Francisco Carvalho, Jorge Tufic, Luciano Maia e Virgílio Maia; suas metáforas refletem à situação atual, como Jorge Tufic expressa, “Nesta rua de alegres lembranças / mastigamos as sobras do mistério / que se agrava no chão, fértil de enganos...”.